quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Alimentos podem fazer inflação fechar o ano próxima a 6%

Sergio Lamucci


A inflação seguiu em alta forte em novembro, puxada pelo grupo alimentos e bebidas, mas influenciada também pelo aumento das cotações de combustíveis e serviços. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) subiu 0,86%, elevando para 5,47% a variação em 12 meses. Foi a maior alta do índice para um mês de novembro desde os 2,08% de 2002.

Os preços de alimentos e bebidas aumentaram 2,11% no mês, variação que surpreendeu os analistas. Produtos como carnes e feijão tiveram altas muito expressivas. As primeiras subiram 6,1% no mês, elevando o acumulado no ano para 20,49%. Já as cotações do feijão carioca avançaram 10,83% em novembro e 105,48% em 2010.

A exemplo do que ocorreu no começo do ano, alimentos e bebidas são os maiores responsáveis pela aceleração recente dos índices de preços. Da alta de 0,86% do IPCA-15, 0,48 ponto percentual veio desse grupo. Da variação de 5,07% acumulada pelo indicador no ano, 1,88 ponto (37% do total) veio dos alimentos, segundo cálculo do economista Fábio Romão, da LCA Consultores.

Outros produtos também tiveram altas razoáveis em novembro. "As altas foram mais disseminadas neste mês", como diz a economista Basiliki Litvac, da MCM Consultores . Segundo ela, além de alimentos, houve aumento sazonal do vestuário - salto de 1,17% - e pressão em serviços importantes como aluguel (1,05%), condomínio (0,88%) e empregado doméstico (1,34%), e elevação de 2,22% dos combustíveis para veículos.

O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, vai na mesma linha, lembrando que também houve aumentos mais fortes nos grupos de serviços e de bens industriais. Os serviços passaram a acumular alta de 7,38% no acumulado em 12 meses. "Nessa base de comparação, a variação de serviços já se aproxima dos máximos históricos, próximos de 7,5%, vistos em maio de 2009 e outubro de 2003", observa Gonçalves.

A exclusão do grupo alimentos e bebidas da variação do IPCA-15 também mostra uma aceleração inflacionária que não se limita a esses bens: em novembro, o núcleo do indicador que expurga alimentação subiu 0,49%, razoavelmente acima do 0,3% de outubro.

A alta do IPCA-15 provocou uma onda de revisões para o IPCA em 2010 e, em menor medida, para 2011. O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, elevou a sua de 5,4% para 5,8% para este ano. No caso da estimativa para 2011, o aumento foi mais modesto, de 5,2% para 5,3%. São patamares consideravelmente distantes do centro da meta perseguida pelo Banco Central (BC) neste ano e no ano que vem, de 4,5%.

Vale é um dos economistas que defendem a alta dos juros, hoje em 10,75% ao ano. "A Selic já deveria ter subido - na verdade não deveria ter parado de subir." Para ele, "tecnicamente" a decisão não deve passar de janeiro. "Por ter postergado a política ao longo do ano, o governo Lula vai entregar para sua sucessora um aumento de Selic logo de início. Não fazer isso será um péssimo sinal."

Gonçalves diz que é preocupante uma inflação rodando na casa de 5,8% em 12 meses, o que deve exigir uma reação do BC e do governo. A melhor estratégia, para ele, não passa por um aumento dos juros, que pode complicar a situação do país num momento em que a atividade econômica não é das mais robustas e o câmbio está valorizado demais. O ideal seria combinar um forte aperto fiscal com medidas de controle do crédito. Se bem calibradas, poderiam tornar desnecessária a alta da Selic, afirma ele, que não acredita, contudo, nesse cenário. O mais provável é que os juros comecem a subir já no começo de 2011.

Já o economista Maurício Molan, do Banco Santander, aposta numa retomada do crescimento a taxas mais fortes, destacando que o mercado de trabalho está muito aquecido. Nesse cenário, ele vê como fundamental um aumento de juros para trazer a inflação para a trajetória das metas, provavelmente a partir de janeiro.

Romão destoa da maior parte do mercado, afirmando que uma alta da Selic não é inevitável. Ele ressalta, primeiro, que a pressão sobre os alimentos deve diminuir nos próximos meses, ficando mais evidente no primeiro trimestre de 2011. Pode não haver uma descompressão como a realizada entre junho e agosto, mas os preços de alimentos vão ceder, aposta Romão. Ele também diz que os preços de serviços não manterão o mesmo ímpeto no ano que vem, em parte por causa do impacto defasado da fase menos exuberante do mercado de trabalho, em parte devido ao aumento menos expressivo do salário mínimo - que impacta itens como empregado doméstico e impulsionará menos a atividade econômica. Além disso, trabalha com um aperto da política fiscal que ajude a tornar dispensável a elevação da Selic. Romão projeta um IPCA de 5,8% em 2010 e de 4,8% em 2011 - próximo do centro da meta de 4,5%.