Por: Catarina Pedrosa
Toda vez que falamos de análise fundamentalista, falamos de fluxo de caixa descontado, múltiplos, relações com investidores, balanços, micro e macro economia. Falamos das razões que fazem a receita crescer ou diminuir, falamos de margens e dos custos. Falamos também do lucro e dos dividendos a serem distribuídos.
Então como é que os bancos americanos, que até então apresentavam lucros exuberantes e crescentes, de repente deram prejuízos incalculáveis? Por que será que os analistas não nos avisaram do perigo iminente?
Existe uma parte muito importante do balanço que a falta de tempo nos faz esquecer. Esta parte, que às vezes tem folhas e mais folhas, chama-se notas explicativas. É lá que encontramos as explicações para tudo aquilo que os números por si só não explicam. É lá também que estão as explicações sobre valores que podem afetar o resultado, mas que por um motivo ou outro não aparecem nos números de balanço. É lá, como diz o nome, que estão as notas que explicam o que acontece com a empresa.
A primeira coisa que deveríamos ler em um balanço, mesmo antes do nome da empresa, é o parecer dos auditores. Na grande maioria das vezes eles dizem que nada consta. Porém, existe aquele 1% onde já pelo parecer descobrimos que não é tudo tão lindo como afirmado nos comunicados de resultado, o famoso press release.
Em seguida olhamos os números para depois ler as letras miúdas, o que no balanço nada mais é do que as notas explicativas. É ali que encontraremos aquelas contas que podem no futuro acabar com o resultado da empresa mas que, baseado em pareceres legais, a empresa decidiu não provisionar.
Também é lá que encontraremos aqueles valores que fazem parte da divida da empresa, mas por razões diversas não aparecem na conta de financiamentos bancários no passivo do balanço patrimonial. As notas explicativas também contêm a abertura das "famosas" outras - tanto despesa como receita operacional ou não.
Uma boa análise desta conta específica pode resultar em um lucro proveniente apenas de resultado não recorrente que expurgado significaria que a empresa de fato deu prejuízo. É nas notas explicativas que descobrimos o que está consolidado dentro do resultado apresentado. Também é lá que descobrimos quanto do resultado não nos pertence, por ser do acionista minoritário sócio da subsidiária sendo consolidada.
A leitura do press release ou relatório da administração também é importante. Porém, ele transmite as linhas gerais do resultado e as expectativas da administração para os resultados futuros. As entrelinhas são encontradas apenas nas notas explicativas.
Portanto, para aqueles que realmente querem fazer uma boa análise sobre o desempenho de uma empresa, sugerimos que leiam além do relatório da diretoria, as notas explicativas, conteúdo obrigatório de um balanço, com muita atenção.
Catarina Pedrosa é chefe do departamento de análise para a América Latina do Grupo Banif e escreve mensalmente na InfoMoney, às segundas-feiras.
catarina.pedrosa@infomoney.com.br
Toda vez que falamos de análise fundamentalista, falamos de fluxo de caixa descontado, múltiplos, relações com investidores, balanços, micro e macro economia. Falamos das razões que fazem a receita crescer ou diminuir, falamos de margens e dos custos. Falamos também do lucro e dos dividendos a serem distribuídos.
Então como é que os bancos americanos, que até então apresentavam lucros exuberantes e crescentes, de repente deram prejuízos incalculáveis? Por que será que os analistas não nos avisaram do perigo iminente?
Existe uma parte muito importante do balanço que a falta de tempo nos faz esquecer. Esta parte, que às vezes tem folhas e mais folhas, chama-se notas explicativas. É lá que encontramos as explicações para tudo aquilo que os números por si só não explicam. É lá também que estão as explicações sobre valores que podem afetar o resultado, mas que por um motivo ou outro não aparecem nos números de balanço. É lá, como diz o nome, que estão as notas que explicam o que acontece com a empresa.
A primeira coisa que deveríamos ler em um balanço, mesmo antes do nome da empresa, é o parecer dos auditores. Na grande maioria das vezes eles dizem que nada consta. Porém, existe aquele 1% onde já pelo parecer descobrimos que não é tudo tão lindo como afirmado nos comunicados de resultado, o famoso press release.
Em seguida olhamos os números para depois ler as letras miúdas, o que no balanço nada mais é do que as notas explicativas. É ali que encontraremos aquelas contas que podem no futuro acabar com o resultado da empresa mas que, baseado em pareceres legais, a empresa decidiu não provisionar.
Também é lá que encontraremos aqueles valores que fazem parte da divida da empresa, mas por razões diversas não aparecem na conta de financiamentos bancários no passivo do balanço patrimonial. As notas explicativas também contêm a abertura das "famosas" outras - tanto despesa como receita operacional ou não.
Uma boa análise desta conta específica pode resultar em um lucro proveniente apenas de resultado não recorrente que expurgado significaria que a empresa de fato deu prejuízo. É nas notas explicativas que descobrimos o que está consolidado dentro do resultado apresentado. Também é lá que descobrimos quanto do resultado não nos pertence, por ser do acionista minoritário sócio da subsidiária sendo consolidada.
A leitura do press release ou relatório da administração também é importante. Porém, ele transmite as linhas gerais do resultado e as expectativas da administração para os resultados futuros. As entrelinhas são encontradas apenas nas notas explicativas.
Portanto, para aqueles que realmente querem fazer uma boa análise sobre o desempenho de uma empresa, sugerimos que leiam além do relatório da diretoria, as notas explicativas, conteúdo obrigatório de um balanço, com muita atenção.
Catarina Pedrosa é chefe do departamento de análise para a América Latina do Grupo Banif e escreve mensalmente na InfoMoney, às segundas-feiras.
catarina.pedrosa@infomoney.com.br
