segunda-feira, 29 de junho de 2009

Veja opções de investimentos em tempos de juro baixo

Abdo Filho

Com juros básicos beirando históricos 9% ao ano, os investidores vão ter que montar novas estratégias para não verem os seus lucros minguarem. Quem, por exemplo, sempre se manteve na renda fixa - CDB, CDI, títulos do tesouro -, com retorno garantido e risco baixo, já vê seus rendimentos ficarem muito parecidos com o que paga a caderneta poupança, considerada por muitos anos a "prima pobre" dos investimentos.

Hoje a Selic, que remunera títulos públicos e privados, está em 9,25% ao ano. Para o final de 2009, a maioria dos bancos prevê que a taxa de juro básico estará em 9%, com possibilidade de bater os 8,75%. Nesse cenário, os fundos de investimento e de pensão deverão mais que dobrar o dinheiro aplicado na Bolsa, injetando US$ 160 bi (R$ 320 bi) no mercado até 2013.

Essa conta não considera o dinheiro de instituições estrangeiras nem o que 500 mil novos investidores individuais no país poderão aplicar. O novo contingente fará dobrar o número de pessoas físicas que investem na Bolsa.

"Essa taxa de juros com apenas um dígito muda muita coisa. Os fundos de pensão, de investimento e de previdência privada vão ter que arcar com os rendimentos acordados nos contratos. O problema é que, há dois, três anos, quando a taxa Selic estava em 25% ano ano, era só deixar o dinheiro no CDB e esperar o rendimento. Hoje, a situação mudou completamente. O mesmo CDB que antes garantia esses fundos, atualmente, dá um retorno igual ao da poupança e, portanto não cumpre os contratos. Por isso é que acreditamos em uma forte migração para o mercado de capitais", explica o analista Leonardo Bortolini.

Ele acredita que esse mesmo fluxo migratório deve ocorrer com o investidor comum, já que a renda fixa, opção da grande maioria dos brasileiros, já não oferece a rentabilidade de outrora. "Quem quiser manter os rendimentos e não quer correr riscos terá que optar por algum fundo que mescle renda fixa com variável. Os que optarem só pela renda fixa verão sua lucratividade despencar".

Para o presidente da Associação Nacional das Sociedades de Fomento Mercantil (Anfac), Luiz Lemos Leite, essa é uma realidade a que o brasileiro vai ter que se acostumar. "À medida que os juros vão baixando, o custo do dinheiro e, portanto, a rentabilidade de quem empresta é menor. O brasileiro vai ter que se acostumar com o fim da moleza que tinha de ganhar dinheiro fácil, na base de juros altos. O mercado de ações se apresenta como saída".

A nova dinâmica da economia pode ajudar a revigorar também os investimentos em infraestrutura. Só nos últimos seis anos eles voltaram a subir, ainda assim timidamente.

Em suma, "todos os setores serão beneficiados. Com os juros lá no alto era melhor deixar o dinheiro no banco, rendendo, do que abrir uma empresa. Os recursos vão sair dos bancos e vão movimentar a economia", finaliza Leite.

Números
R$ 3,4 bilhões
É quanto reúnem os 6 maiores fundos de investimento em infraestrutura, segundo a Associação de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib).

50% do dinheiro
desses fundos foram efetivamente aplicados em projetos. Eles têm retorno médio de 7% a 10% ao ano.

Bolsa de Valores brasileira já atraiu R$ 10 bilhões neste ano
Neste ano, até 16 de junho, a rentabilidade dos fundos Petrobras FGTS foi de 46,23%, a melhor entre todas as categorias de fundos de investimento. Os fundos Vale FGTS tiveram rendimento um pouco menor (34,85%), mas bastante acima da maior parte dos investimentos.

Os resultados refletem a boa fase do mercado acionário brasileiro. Passado o período mais agudo da crise, os investidores estrangeiros retornaram ao Brasil, e voltaram a aplicar em ações de Vale e Petrobras - as mais líquidas do mercado. A médio e a longo prazo, os especialistas veem uma trajetória de valorização para o mercado acionário brasileiro, não só pela recuperação da economia mundial, mas também pela queda dos juros no Brasil.

Embora ainda haja dúvidas sobre o futuro da economia global, os especialistas afirmam que a crise se mostrou bem menos catastrófica do que se imaginava. Nesse cenário, o Brasil se sobressaiu como um dos países mais promissores do mundo, atraindo somente neste ano quase R$ 10 bilhões à Bovespa.

O bom desempenho do primeiro semestre, no entanto, ainda não foi suficiente para anular as perdas acumuladas com a crise. Nos últimos 12 meses, os fundos Petrobras FGTS registram 26,10% de rentabilidade negativa, e os da Vale, 33%.

Empresas retomam oferta de ações para pagar sócios
A retomada das ofertas de ações na Bolsa - os R$ 8,4 bilhões obtidos na abertura de capital da VisaNet, na semana passada, são o maior exemplo - dão a falsa impressão de que o pregão volta a ser fonte de dinheiro "barato" para empresas com planos de investimento.

Na verdade, apenas 5% das ofertas do ano tiveram esse fim. A captação em que o dinheiro vai para a empresa se chama oferta primária, ou aumento de capital social, e prevê a emissão de ações novas. As ofertas primárias de ações não são necessariamente ofertas iniciais (os famosos IPOs, de empresas estreantes na Bolsa).

Empresas veteranas também fazem oferta primária, desde que o dinheiro vá para seu caixa e não para os sócios. As ofertas deste ano foram principalmente com ações de antigos acionistas. Eles aproveitaram a melhora do mercado para reduzir participações ou até sair das empresas, embolsando o dinheiro, que passa, portanto, longe do caixa.

Levantamento da reportagem no site da CVM mostra que, em 2005, dos R$ 3,9 bilhões captados no primeiro semestre, 32% resultaram de operações de aumento de capital - ou seja, direcionados para o caixa das empresas, disponíveis para investir ou pagar dívida.

É o caso da Renner, com captação de R$ 347 milhões, e da TAM, com R$ 437 milhões.