Com o fim de 2010, faz-se necessário o exercício de avaliar o desempenho das classes de ativos e do que se esperar para o ano que se inicia. Como olhar para o passado é sempre uma tarefa mais simples, vamos começar por ela.
Observamos no mundo desenvolvido um ano recheado de noticias negativas: risco de quebras de países, amplos cortes de gastos para ajustar as contas públicas, alto nível de desemprego e, consequentemente, consumo tímido. Apesar de os resultados corporativos terem sido bons e de ter havido recuperação em certas economias, a situação atual impõe grandes dificuldades aos governos dos Estados Unidos e países da Europa.
Por outro lado, no Brasil, o cenário interno em 2010 foi positivo em relação ao resto do mundo. Houve relativa melhoria na distribuição da renda, geração recorde de empregos, maior formalização do mercado de trabalho, aumento da oferta de crédito e intensificação de políticas sociais. Tudo isso foi possibilitado por uma gestão econômica e monetária adequada, embora tenhamos observado alguns excessos do ponto de vista de gastos do governo.
Ainda no âmbito doméstico, o noticiário do último semestre teve suas atenções voltadas para o pleito presidencial, que resultou na eleição da candidata do governo. Partiu-se, então, para as especulações sobre como o novo governo vai lidar com questões críticas como o controle de gastos, da inflação, do crédito, entre outros.
Esse cenário mostrou-se bastante difícil para os investimentos no Brasil, embora tenha trazido algumas oportunidades interessantes. Entre as aplicações financeiras que mais se destacaram positivamente, estão os títulos atrelados à inflação e as alocações diversificadas em renda variável. Os primeiros se beneficiaram diretamente do aumento dos preços e de uma postura desenvolvimentista do Banco Central, que resultou em previsões de inflação mais alta e taxas de juros reais mais baixas para os próximos anos.
Os ativos de renda variável tiveram desempenho bastante errático, com grandes diferenças entre os desempenhos das ações de diversos setores e empresas. Essa dinâmica beneficiou gestores e investidores cuja postura foi ativa e, principalmente, fundamentada nos resultados das empresas.
Como acontece todo ano, também existem resultados decepcionantes de algumas classes de ativos. Algumas estratégias de fundos multimercado tiveram desempenho abaixo das expectativas, principalmente as que procuram se aproveitar da valorização e desvalorização de certos ativos com base nas expectativas macroeconômicas (estratégia macro).
Diante deste cenário, o que esperar de 2011? Do ponto de vista de política monetária não devemos observar uma mudança significativa. Os mercados desenvolvidos devem manter as taxas de juros em níveis historicamente baixos, com o intuito de estimular o crescimento e a criação de empregos. Já os emergentes deverão agir aumentando os juros e restringindo a liquidez para que a inflação não fuja do controle. O risco de crédito de alguns países europeus deve continuar na pauta ao longo do ano, aumentando pressão para correção de excessos e estabelecimento de política fiscal mais restritiva.
Nas classes de ativos domésticas, as oportunidades continuarão escassas, mas o desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro aponta para novas empresas de novos setores lançando ações, bem como novas emissões de títulos e produtos estruturados de crédito, além de investimentos imobiliários, mesmo após as emissões de fundos ligados ao setor terem quebrado recordes no ano de 2010.
O mercado de crédito tem recebido bastante atenção do governo, que estuda implementar benefícios tributários para emissões ligadas a projetos de infraestrutura e tem o intuito de aumentar o prazo desses instrumentos. Esse movimento pode criar novas oportunidades aos investidores.
Seria injusto dizer que 2010 foi um ano ruim para alocação de ativos, mas a volatilidade dos mercados certamente criou um ambiente difícil para os investimentos de risco, principalmente quando comparados à nossa taxa de juros, que ainda é muito alta. O cenário que se desenha para 2011 não difere muito do que observamos nos últimos meses e inspira cautela na alocação de recursos.