Característica básica da cultura chinesa, a discrição acaba por prejudicar a divulgação e até a imagem da potência asiática, quanto as suas indiscutíveis conquistas, descobertas, invenções e realizações. No Brasil, essa notória discrição casa-se bem com o evidente desinteresse em divulgar os sucessos da China na área econômica, pelo receio de, assim, levar a opinião pública a apoiar aquele sistema de governo. Mas, sem considerações políticas, como o gigante asiático é agora o maior parceiro comercial do Brasil, além de principal financiador de grandes projetos (petróleo, trem-bala, gasoduto, rodovias, etc), torna-se necessário que o setor empresarial – e também o público em geral – saiba exatamente o nível das credenciais chinesas.
Vez por outra surge na imprensa a notícia de que a China dispõe de reservas cambiais da ordem de US$ 2,6 trilhões, sendo US$ 845 bilhões referentes a bônus do Tesouro dos Estados Unidos. Sempre falta acrescentar que a essas reservas devem ser somadas as da Região Administrativa de Hong Kong (US$ 250 bilhões), sob absoluto e natural controle de Pequim. E também que a diferença entre a origem das reservas chinesas – US$ 2,65 trilhões menos os US$ 845 bilhões de bônus totalizando US$ 1,8 trilhão,– refere-se também a dólares americanos. Não seriam reais, pesos argentinos, libras nem rublos, é claro. Com esse fabuloso montante de dólares em poder do governo, bancos e das estatais exportadoras – justifica-se a cautela dos dirigentes chineses em revalorizar o yuan, a moeda do país.
Sobre o assunto, a Câmara de Comércio Americana na China, que reúne 1,2 mil empresas, a maior parte exportadores, manifestou-se contra a pressão de Washington para valorização do yuan, frisando que isso não criará empregos nos EUA. E, em editorial, na mesma linha, o Wall Street Journal assinalou que a pretendida valorização reduzirá os lucros dos EUA, que “acabarão perdendo a guerra comercial”. Por seu turno, em análise precisa, publicada no jornal Valor Econômico (13/08/2010), o professor americano Bill Ficher foi taxativo: “A real vantagem da China sobre a economia global é a baixa remuneração da sua mão de obra. Ponto final”.
Na área financeira, liderando o mercado e também detentores de moeda americana, dois bancos chineses são os maiores do mundo: o Industry and Commerce Bank of China com US$ 246 bilhões e o China Construction Bank com US$ 191 bilhões. Bem atrás, em terceiro, o Bank of America, com US$ 179 bilhões e, em 7º lugar surge ainda o Bank of China, com US$ 152 bilhões.
Quanto ao comércio exterior – talvez o mais importante segmento da economia global –, ao fim do corrente exercício, a China estará consolidando e ampliando a sua indiscutível liderança. Até setembro a balança comercial chinesa (exportação/importação) somou US$ 2,15 trilhões, com superávit de US$ 120 bilhões. Apesar dos restos da crise que ainda se abate sobre os grandes mercados mundiais (europeu e americano), as exportações chinesas, crescendo no extraordinário nível médio de 30%, deverão encerrar o ano totalizando cerca de US$ 1,5 trilhão. Com os embarques para o exterior das Regiões de Hong Kong e Macau (em torno de US$ 200 bilhões), o efetivo montante das exportações chinesas subirá para US$ 1,7 trilhão. Aumentando em ritmo mais elevado, cerca de 40%, as importações chinesas (incluindo as de HK) deverão somar US$ 1,5 trilhão. Assim o total da balança voltará ao nível recorde de US$ 3,2 trilhões, alcançado em 2008, com superávit caindo para cerca de US$ 200 bilhões.
Nesse crescente predomínio no comércio exterior, dispõe a China de dois suportes básicos: a frota mercante e a rede portuária. Segundo o último relatório da Unctad/ONU, a frota mercante chinesa (contando com HK, é claro) chega a 4.179 navios. Entre as empresas armadoras, privadas e estatais, as siglas das três mais importantes são: COSCO, CSCL e a OOCL.
Com essa enorme frota, a China não só transporta quase a totalidade de suas exportações/importações, como ainda vende frete para outros países nas linhas internacionais.
Ainda na área do transporte, o extenso e eficiente sistema portuário, na China e no exterior, serve para melhor distribuição das exportações, contribuindo para redução dos respectivos custos. Entre os 2 mil portos da rede interna, 130 operam com o comércio internacional, movimentando 1,6 bilhão de toneladas de carga. No ranking mundial, entre os 20 principais portos, 9 são chineses, todos movimentando mais de 100 milhões/t, cada. Há anos na liderança, na China e no mundo, o porto de Xangai vem apresentando crescimento acima de 10%, e no final do ano deverá registrar movimentação superior a 600 milhões/t.
Conta ainda a China, para distribuição de suas exportações, com importante contribuição da rede privada da Hutchinson Holdings, do bilionário Li Ka-shing, que possui 51 portos e terminais em 25 países, inclusive nos EUA, e os dois estratégicos nas embocaduras do Atlântico e do Pacífico do Canal do Panamá. Igualmente ligados à exportação, dois setores industriais de destaque ocupam também a liderança mundial: a construção naval e a siderurgia. Com a entrada em operação do estaleiro da Companhia STX, em Dalian (agora o maior do planeta), a fabricação de navios supera a do Japão e da Coreia do Sul. No fim do exercício, a construção de navios nos seus 2025 estaleiros atingirá 33,3 milhões de toneladas deadweight, a maior parte para exportação. Por seu turno, a produção de aço, mantendo antiga liderança mundial, crescendo cerca de 10%, deverá superar 620 milhões/t.
Em 2009, aproveitando a crise mundial, com a falência de empresas e a redução de preços, tornou-se a China o principal país investidor, com US$ 56,5 bilhões. Com isso, o investimento chinês acumulado no exterior alcançou US$ 245,7 bilhões. Este ano, quebrando preconceitos e abrindo nova fase da economia americana, duas grandes empresas chinesas fecharam acordo de investimentos nos EUA. A petroleira CNOOC (uma das maiores do setor) adquiriu 33% da Chesapeak Energy (no valor de US$ 1,1 bilhão) para exploração do campo de Eagle Ford, de gás e petróleo, no Texas. Por seu turno, o Grupo de Ferro e Aço de Anshan (Ansteel) assinou contrato de parceria com a americana Cia de Desenvolvimento do Aço, de Mississipi, para construção nos EUA de uma usina siderúrgica para produzir 300 mil toneladas/ano.
Várias outras informações ajudam a confirmar a China como economia de mercado. A primeira é que a Região-cidade chinesa de Hong Kong plenamente integrada nos negócios do país, há 13 anos vem mantendo o título de “economia de mercado mais livre do mundo”, conferido pelo Wall Street Journal. Outra é que a cidade chinesa de Macau, com 34 cassinos e faturamento anual de US$ 15 bilhões, quase o dobro de Las Vegas, tornou-se o maior centro de jogo do planeta. E também que a China – já com o segundo PIB mundial – assumiu o 2º lugar em número de bilionários, com 104 contra 400 nos EUA, além de ter, entre as 660 mil empresas estrangeiras ali atuantes, 480 das 500 principais multinacionais. Finalmente, o registro de que a Bolsa de Valores de Xangai vez por outra supera a movimentação da Bolsa de Nova York.
No Brasil, ano passado, em maio, quando da Missão Lula, em Pequim, a China iniciou também fase de investimentos, com empréstimo e aplicações da ordem de US$ 15 bilhões (Petrobras, BNDES, Itaú, etc). Neste ano continuaram e até ampliaram os investimentos chineses, em minas de ferro, campos de petróleo, gasodutos, além de projetos para rodovias, ferrovias e portos.
Dessa forma, na condição não só de maior importador de produtos nacionais e agora também como país investidor, tornou-se a China parte fundamental da notável expansão da economia brasileira, que vive um dos seus melhores momentos. As exportações crescem à excelente taxa de 30% – para China, até setembro, subiram 34% – e o PIB, já o 8º na escala mundial, deverá aumentar 7%. Portanto, surpreendentemente, equivocou-se o ex-presidente do Banco Central quando, em recente entrevista, ao criticar a política externa do Governo, afirmou que o Brasil está “pagando” pelo seu alinhamento com Pequim. Pelo visto, está é “ganhando” – e muito – com essa acertada orientação...
Vez por outra surge na imprensa a notícia de que a China dispõe de reservas cambiais da ordem de US$ 2,6 trilhões, sendo US$ 845 bilhões referentes a bônus do Tesouro dos Estados Unidos. Sempre falta acrescentar que a essas reservas devem ser somadas as da Região Administrativa de Hong Kong (US$ 250 bilhões), sob absoluto e natural controle de Pequim. E também que a diferença entre a origem das reservas chinesas – US$ 2,65 trilhões menos os US$ 845 bilhões de bônus totalizando US$ 1,8 trilhão,– refere-se também a dólares americanos. Não seriam reais, pesos argentinos, libras nem rublos, é claro. Com esse fabuloso montante de dólares em poder do governo, bancos e das estatais exportadoras – justifica-se a cautela dos dirigentes chineses em revalorizar o yuan, a moeda do país.
Sobre o assunto, a Câmara de Comércio Americana na China, que reúne 1,2 mil empresas, a maior parte exportadores, manifestou-se contra a pressão de Washington para valorização do yuan, frisando que isso não criará empregos nos EUA. E, em editorial, na mesma linha, o Wall Street Journal assinalou que a pretendida valorização reduzirá os lucros dos EUA, que “acabarão perdendo a guerra comercial”. Por seu turno, em análise precisa, publicada no jornal Valor Econômico (13/08/2010), o professor americano Bill Ficher foi taxativo: “A real vantagem da China sobre a economia global é a baixa remuneração da sua mão de obra. Ponto final”.
Na área financeira, liderando o mercado e também detentores de moeda americana, dois bancos chineses são os maiores do mundo: o Industry and Commerce Bank of China com US$ 246 bilhões e o China Construction Bank com US$ 191 bilhões. Bem atrás, em terceiro, o Bank of America, com US$ 179 bilhões e, em 7º lugar surge ainda o Bank of China, com US$ 152 bilhões.
Quanto ao comércio exterior – talvez o mais importante segmento da economia global –, ao fim do corrente exercício, a China estará consolidando e ampliando a sua indiscutível liderança. Até setembro a balança comercial chinesa (exportação/importação) somou US$ 2,15 trilhões, com superávit de US$ 120 bilhões. Apesar dos restos da crise que ainda se abate sobre os grandes mercados mundiais (europeu e americano), as exportações chinesas, crescendo no extraordinário nível médio de 30%, deverão encerrar o ano totalizando cerca de US$ 1,5 trilhão. Com os embarques para o exterior das Regiões de Hong Kong e Macau (em torno de US$ 200 bilhões), o efetivo montante das exportações chinesas subirá para US$ 1,7 trilhão. Aumentando em ritmo mais elevado, cerca de 40%, as importações chinesas (incluindo as de HK) deverão somar US$ 1,5 trilhão. Assim o total da balança voltará ao nível recorde de US$ 3,2 trilhões, alcançado em 2008, com superávit caindo para cerca de US$ 200 bilhões.
Nesse crescente predomínio no comércio exterior, dispõe a China de dois suportes básicos: a frota mercante e a rede portuária. Segundo o último relatório da Unctad/ONU, a frota mercante chinesa (contando com HK, é claro) chega a 4.179 navios. Entre as empresas armadoras, privadas e estatais, as siglas das três mais importantes são: COSCO, CSCL e a OOCL.
Com essa enorme frota, a China não só transporta quase a totalidade de suas exportações/importações, como ainda vende frete para outros países nas linhas internacionais.
Ainda na área do transporte, o extenso e eficiente sistema portuário, na China e no exterior, serve para melhor distribuição das exportações, contribuindo para redução dos respectivos custos. Entre os 2 mil portos da rede interna, 130 operam com o comércio internacional, movimentando 1,6 bilhão de toneladas de carga. No ranking mundial, entre os 20 principais portos, 9 são chineses, todos movimentando mais de 100 milhões/t, cada. Há anos na liderança, na China e no mundo, o porto de Xangai vem apresentando crescimento acima de 10%, e no final do ano deverá registrar movimentação superior a 600 milhões/t.
Conta ainda a China, para distribuição de suas exportações, com importante contribuição da rede privada da Hutchinson Holdings, do bilionário Li Ka-shing, que possui 51 portos e terminais em 25 países, inclusive nos EUA, e os dois estratégicos nas embocaduras do Atlântico e do Pacífico do Canal do Panamá. Igualmente ligados à exportação, dois setores industriais de destaque ocupam também a liderança mundial: a construção naval e a siderurgia. Com a entrada em operação do estaleiro da Companhia STX, em Dalian (agora o maior do planeta), a fabricação de navios supera a do Japão e da Coreia do Sul. No fim do exercício, a construção de navios nos seus 2025 estaleiros atingirá 33,3 milhões de toneladas deadweight, a maior parte para exportação. Por seu turno, a produção de aço, mantendo antiga liderança mundial, crescendo cerca de 10%, deverá superar 620 milhões/t.
Em 2009, aproveitando a crise mundial, com a falência de empresas e a redução de preços, tornou-se a China o principal país investidor, com US$ 56,5 bilhões. Com isso, o investimento chinês acumulado no exterior alcançou US$ 245,7 bilhões. Este ano, quebrando preconceitos e abrindo nova fase da economia americana, duas grandes empresas chinesas fecharam acordo de investimentos nos EUA. A petroleira CNOOC (uma das maiores do setor) adquiriu 33% da Chesapeak Energy (no valor de US$ 1,1 bilhão) para exploração do campo de Eagle Ford, de gás e petróleo, no Texas. Por seu turno, o Grupo de Ferro e Aço de Anshan (Ansteel) assinou contrato de parceria com a americana Cia de Desenvolvimento do Aço, de Mississipi, para construção nos EUA de uma usina siderúrgica para produzir 300 mil toneladas/ano.
Várias outras informações ajudam a confirmar a China como economia de mercado. A primeira é que a Região-cidade chinesa de Hong Kong plenamente integrada nos negócios do país, há 13 anos vem mantendo o título de “economia de mercado mais livre do mundo”, conferido pelo Wall Street Journal. Outra é que a cidade chinesa de Macau, com 34 cassinos e faturamento anual de US$ 15 bilhões, quase o dobro de Las Vegas, tornou-se o maior centro de jogo do planeta. E também que a China – já com o segundo PIB mundial – assumiu o 2º lugar em número de bilionários, com 104 contra 400 nos EUA, além de ter, entre as 660 mil empresas estrangeiras ali atuantes, 480 das 500 principais multinacionais. Finalmente, o registro de que a Bolsa de Valores de Xangai vez por outra supera a movimentação da Bolsa de Nova York.
No Brasil, ano passado, em maio, quando da Missão Lula, em Pequim, a China iniciou também fase de investimentos, com empréstimo e aplicações da ordem de US$ 15 bilhões (Petrobras, BNDES, Itaú, etc). Neste ano continuaram e até ampliaram os investimentos chineses, em minas de ferro, campos de petróleo, gasodutos, além de projetos para rodovias, ferrovias e portos.
Dessa forma, na condição não só de maior importador de produtos nacionais e agora também como país investidor, tornou-se a China parte fundamental da notável expansão da economia brasileira, que vive um dos seus melhores momentos. As exportações crescem à excelente taxa de 30% – para China, até setembro, subiram 34% – e o PIB, já o 8º na escala mundial, deverá aumentar 7%. Portanto, surpreendentemente, equivocou-se o ex-presidente do Banco Central quando, em recente entrevista, ao criticar a política externa do Governo, afirmou que o Brasil está “pagando” pelo seu alinhamento com Pequim. Pelo visto, está é “ganhando” – e muito – com essa acertada orientação...