Por: Leandro RuschelInfoMoney
Geralmente as pessoas entram no mercado financeiro seduzidas por amostras de rentabilidades muito altas em comparação com a renda fixa. Trazidas pela mídia, por amigos ou colegas de trabalho, sabem que estão entrando num mundo de oportunidades. Num primeiro momento, tudo parece mais fácil do que realmente é. Há, então, a ilusão de ganho fácil e rápido, transformando a Bolsa de Valores numa espécie de cassino, resultando em prejuízos e desilusões.
Para quem quer aprender a operar no mercado de forma mais consistente, é preciso conhecer as principais escolas de compreensão do movimento dos preços e como elas podem ser abordadas.
Análise técnica
No final do século XIX, o jornalista americano Charles Dow aprofundou sua pesquisa sobre o movimento dos preços e a correlação entre as ações de diferentes empresas. Esses estudos levaram à criação do primeiro índice de ações, o Dow Jones, junto com o seu sócio, Edward Jones. Os dois também fundaram o The Wall Street Journal que, em artigos especiais, expôs as descobertas na identificação de padrões de movimentação dos preços, o que mais tarde ficou conhecido como Teoria de Dow, a base da Análise Técnica atual.
Segundo essa escola de análise técnica, os preços dos ativos refletem todos os dados existentes sobre a empresa num determinado momento, os movimentos gerados seguem um padrão e esse padrão se repete ao longo do tempo. Ou seja, o mercado se movimenta em ciclos de alta e baixa. Os ciclos de longo prazo são formados por ciclos de curto prazo e assim por diante.
Compreendendo o padrão desses ciclos, é possível obter alguma vantagem nas operações do mercado.
A Análise Técnica é extremamente importante para os traders cujo objetivo é valer-se de oportunidades de curto prazo, montando operações de duram de alguns dias a poucas semanas. Outro foco importante é o estudo do movimento dos preços, sem a tentativa de entendimento das razões desses movimentos. Essa visão é importante, pois há muita divergência nas informações sobre as empresas.
Análise fundamentalista
O marco de fundação dessa escola é o livro Security Analysis, de 1934, de Benjamin Graham e David Dodd. Através do estudo dos demonstrativos das empresas, seria possível determinar qual é o "preço justo" de uma determinada ação, configurado pela projeção do fluxo de lucros da empresa no futuro trazidos a um valor presente. O analista fundamentalista precisa estudar variáveis do cenário micro e macroeconômico para projetar esse fluxo além de saber como se dá a gestão da empresa em questão. Ou seja, vale a pena comprar ações quando o valor de mercado estiver abaixo do preço justo e vender ações quando o valor de mercado estiver acima dele.
A Análise Fundamentalista pode ser uma excelente ferramenta para os investidores que queiram formar uma carteira de longo prazo de ações, apostando naquelas empresas com os melhores fundamentos. Essa estratégia também pode ser chamada de compra de VALOR.
Tanto a Análise Técnica quanto a Análise Fundamentalista defendem a idéia que é possível ter uma vantagem no mercado em relação aos outros investidores.
Random walk
Por último, há a escola do caminho aleatório, criada por um professor de economia chamado Burton Malkiel. Essa escola defende a idéia que o movimento dos preços no mercado ocorre ao acaso, invalidando a idéia de existir uma vantagem em utilizar a Análise Técnica ou a Análise Fundamentalista. Nesse caso, a melhor decisão de investimento seria a diversificação, com o objetivo de seguir a rentabilidade de um índice de ações, como o IBOV.
Outra forma de pensar nessa idéia é crer que os mercados são eficientes, que se auto-ajustam rapidamente a partir de qualquer mudança no ambiente econômico, impossibilitando qualquer investidor de ter uma vantagem na tentativa de gerar um retorno superior ao índice de ações. No entanto, existem várias evidências que demonstram que o mercado não é totalmente eficiente, apesar desse alto grau de aleatoriedade.
Qual escola seguir?
As três escolas oferecem insights interessantes para compreender o funcionamento dos mercados e o processo de formação de preços das ações. Nenhuma delas, porém, oferece uma resposta final para o problema, e provavelmente nunca chegaremos numa resposta totalmente satisfatória.
Há um grau importante de incerteza no mercado como defende a escola do Random Walk, mas existem alguns padrões de movimentação que não podem ser ignorados e são demonstrados pela Análise Técnica. Também é fato que as empresas com melhores fundamentos demonstram uma rentabilidade superior no longo prazo. Quem se propõe a operar num prazo mais curto, deve dar um peso maior ao estudo da Análise Técnica. Aqueles que pretendem montar carteiras de longo prazo devem aprofundar os seus estudos de Análise Fundamentalista. E, por fim, ambos devem gerenciar o controle de risco das suas operações, respeitando a incerteza que a teoria do Random Walk demonstra, através de diversificação ou de uma política de stop.
Os modelos mais modernos levam em consideração as três escolas para gerar rotinas de decisão, com ajuda cada vez maior de Inteligência Artificial, apresentando um alto grau de complexidade. No futuro, dependeremos cada vez mais desse auxílio para a tomada de decisão. Mesmo assim, deve-se entender as bases do funcionamento do mercado para conseguir compreender e gerar modificações nesses sistemas.
Leandro Ruschel é sócio-fundador da Leandro&Stormer e escreve mensalmente na InfoMoney, às segundas-feiras.
leandro.ruschel@infomoney.com.br