domingo, 6 de abril de 2008

Analistas próximos da empresa fornecem visões de investimento mais apuradas

Por: Rodolfo Cirne Amstalden

Em escritório fechado de São Paulo ou do Rio, cercado por computadores e livros de valuation, 12 horas de trabalho por dia. O estereótipo do analista passa uma imagem de dedicação formidável, mas não necessariamente de recomendações formidáveis.

As sugestões acima da média parecem partir mesmo de outros analistas mais desenvoltos, dispostos a viajar e visitar as empresas cobertas, ou que estejam geograficamente próximos de seus racionais de investimento.

A comparação é levantada por Christopher J. Malloy, professor assistente da Harvard Business School. No paper "The geography of equity analysis", Malloy fornece evidências sobre diferentes perfis para as equipes de research. Aquelas que acompanham de perto o dia-a-dia de suas investidas normalmente fazem projeções mais apuradas.

Próximo da fonte
O estudo do professor de Harvard baseia-se na hipótese de que analistas próximos das empresas desenvolvem uma vantagem no contato com as fontes. Aqueles com acesso fácil a teses de investimento pouco conhecidas beneficiam-se de duas singularidades: informações privadas disponíveis e baixa concorrência por essas informações.

A proximidade geográfica, por exemplo, é inversamente relacionada ao custo de aquisição da informação. Analistas vizinhos têm mais chances de visitar a firma, conversar com funcionários, clientes e fornecedores, e investigar aspectos regionais condicionando as operações.

Christopher Malloy argumenta que tais equipes de research podem substituir os tradicionais "conference calls" pelos chamados "house calls". É bem melhor encontrar os diretores ao vivo, no ambiente de trabalho, e tirar conclusões sobre a firma que não se limitem a múltiplos e fluxos de caixa descontados.

"Por tudo isso, a proximidade em relação à empresa funciona como variável significativa para se julgar a qualidade das opiniões de um analista", afirma o professor da Harvard Business School.

Melhores projeções, mais lucros
As vantagens de informação detidas pelos analistas próximos traduzem-se em estimativas mais apuradas. Utilizando um amplo banco de dados com observações do mercado dos EUA entre 1994 e 2001, Malloy identifica que o grupo em pauta supera o daqueles que trabalham distantes das empresas.

Esse diferencial é mais relevante para firmas pequenas e/ou localizadas longe dos grandes centros urbanos. Por acompanhá-las de perto, algumas equipes de research conseguem traçar projeções apuradas, que quase sempre embasam estratégias de investimento mais lucrativas.