quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Emergentes, Europa e EUA em crise: diante disso, Pimco recomenda investir no Brasil

Por: Giulia Santos Camillo

Um ano após o início da crise do subprime nos EUA já é possível notar efeitos muito maiores do que aqueles previstos pelo Federal Reserve em 2007. Em meio a um cenário de desaceleração e crescimento do risco inflacionário, parte das apostas dos analistas agora aponta para uma recessão no estilo da enfrentada pelo país nos anos 1970.

Na visão de Michael Gomez, vice-presidente executivo da Pimco, a crise enfrentada pelos EUA atualmente é muito similar às crises no balanço de pagamentos, vistas com freqüência nos mercados emergentes, embora sem os problemas relativos ao câmbio, já que os títulos do Tesouro são lastreados em dólar.

Enquanto a deterioração do mercado de crédito deve continuar pressionando o crescimento da economia norte-americana, um outro cenário preocupa: a redução da confiança no dólar e do fluxo de capital externo, e aceleração da inflação, simultaneamente à necessidade do Fed de manter o juro real negativo para apoiar a expansão da economia.

Reflexos nos mercados emergentes
De acordo com Gomez, esse panorama possui diversas implicações globais. Um deles seria a - muito comentada - desaceleração do crescimento mundial. Mas para os países emergentes, há um outro ponto a ser observado, que é a perda da âncora das suas políticas monetárias na política monetária dos EUA, o que foi visto nos últimos anos.

Esse fator tem dois impactos negativos. O primeiro é que a Ásia e o Oriente Médio importaram a política monetária dos EUA. Porém a atual flexibilização dessa política serve para a economia problemática norte-americana, mas não para esses países, que apresentam alta taxa de crescimento e grande risco inflacionário.

"Segundo, os investidores procurando refúgio da queda dos mercados norte-americanos e do enfraquecimento do dólar têm reduzido suas aplicações nessa moeda e elevado os preços das commodities, particularmente petróleo e ouro", explica o executivo. Para ele, esse movimento se une à alta demanda pelos produtos e aos danos fiscais dos subsídios, elevando o risco inflacionário dos mercados emergentes.

Apenas um dentro da meta
Os reflexos desse cenário são visíveis. Com toda a preocupação no mercado doméstico acerca da alta da inflação, é interessante notar que, dentre os 18 países emergentes que atualmente mantêm uma política de metas de inflação, o Brasil é o único cuja alta dos preços ainda está dentro do objetivo traçado pelo Banco Central.

Para Gomez, fica claro que as autoridades monetárias dos mercados emergentes enfrentam a difícil decisão de escolher entre a inflação e o crescimento. "Aqueles que escolherem manter um forte crescimento e sacrificar a luta contra a inflação no curto prazo provavelmente vão encontrar um caminho mais difícil no longo prazo", prevê Gomez.

Inversão da história
O panorama assusta. A recomendação do vice-presidente executivo da Pimco? "Concentrar investimentos nas economias cujas políticas possuem âncoras de credibilidade e balanço forte o bastante para ajudá-los a enfrentar a tempestade".

No topo da lista de Gomez, o Brasil - com o lugar reservado principalmente devido à demonstração de credibilidade do Banco Central após os aumentos agressivos da taxa Selic a fim de manter a inflação dentro da meta.

Ademais, fica a sugestão também para refúgio em moedas asiáticas, especialmente de Cingapura e da China, que oferecem uma boa proporção de risco-retorno.

Por outro lado, o executivo recomenda distância de economias fundamentalmente fracas, assim como de seus ativos financeiros que irão enfrentar os efeitos colaterais da crise. Nesse caso, a sugestão é fugir do dólar e dos títulos do Tesouro norte-americano, assim como do Reino Unido e países da Europa, como Hungria e Romênia.