quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O pior inimigo do bom é o ótimo

Por: Waldir Kiel

"Os erros de raciocínio das pessoas afetam sua forma de investir e, em última instância, sua riqueza. Mesmo aqueles que entendem as ferramentas modernas de investimento podem falhar como investidores se deixarem que os vieses psicológicos controlem suas decisões". Fala de Daniel Kahneman, psicólogo que junto com o economista experimental Vernon Smith faturaram o Prêmio Nobel de Economia em 2002.

Por que é que as pessoas por mais que estudem a fundo as escolas mais tradicionais de mercado, fundamentalista e técnica (grafista), acabam invariavelmente cometendo erros na avaliação de ativos e investimentos?

Porque o comportamento do indivíduo costuma mudar de acordo com as diferentes situações econômicas que a ele se apresentam.


Se individualmente existe essa dificuldade de avaliação, imagine quando as pessoas se agrupam para tomar decisões financeiras, o grau de dificuldade que encontram?

Estudos cada dia mais avançados, inovações em análises, avaliações de indicadores e disciplina operacional são exemplos de como as pessoas procuram incansavelmente o sucesso em operações financeiras que lhes propiciem retornos cada vez maiores.

No entanto, a utilização de instrumentos e ferramentas tecnológicas teoricamente avançadas ao invés de produzirem uma situação real acaba gerando apenas simulações de comportamento padronizado, que não condiz com uma rede complexa de relações comunicativas como a do mercado e com uma ciência social como a economia.

Mesmo o assunto sendo muito interessante, vamos deixar de lado um pouco essa teoria dos mercados e falar um pouco da parte prática, senão essa coluna vira um divã de psicanalista financeiro.

Um economista famoso de mercado costuma dizer que: "cama de mulher bonita, mesa de bom restaurante e bolsa de valores, todo mundo sabe a hora de entrar, mas não sabe a hora de sair".

Acredito que, em se tratando de ativos financeiros, a hora de entrada é tão importante como a de saída.

Essa situação que vivemos hoje na bolsa de valores é bem ilustrativa.

Quando o mercado subia sem parar, quantos daqueles que no início não acreditavam na alta mais tarde se posicionaram na compra, impulsionados pelo otimismo contagiante, na tentativa de ganhar algo também e esquecendo do que pensava antes? Quantos na queda brusca que se seguiu irão aguardar o chamado fundo do poço para comprar ações?

A busca de um pouco mais. Isto acontece em qualquer mercado: dólar, ouro, bolsa, renda fixa, commodities e etc...

Acontece também nas decisões coletivas, como a dos bancos centrais pelo mundo diante da crise e do banco central do Brasil na definição da taxa de juros. Acabam tendo decisões reativas e influenciadas pelos agentes de mercado quando deveriam atuar preventivamente e com sentido indutor.

O mercado de renda fixa pode parecer mais fácil de operar que os mercados de renda variável, mas o fato de se ter que aguardar um determinado prazo, uma rentabilidade pré-estabelecida enquanto os outros mercados flutuam e possibilitam ganhos rápidos provoca uma sensação de perda de oportunidades e conservadorismo desnecessário para quem estuda tanto os mercados.

Muitos são os erros que cometemos ao operar, mas a meu ver o maior de todos eles é estar sempre à procura do rendimento máximo possível, nos limites de baixa e nos limites de alta dos ativos. Querer sempre o máximo do rendimento que a aplicação pode render, não se contentar com aquilo que no início procurou estabelecer e se influenciar com o consenso de que vai um pouco mais.

Invariavelmente essa busca do ótimo nos leva a amargar prejuízos e paixões em posições que se tornam perdedoras.

Há 35 anos no mercado financeiro, Waldir Kiel Junior é economista