segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Quando a virada da bolsa realmente chegar, que ações se recuperam primeiro?

Por: Roberto Altenhofen Pires Pereira

A crise deixou boa parte da bolsa brasileira a preço de barganha. São seguidos os comentários que destacam múltiplos em mínimas históricas; fundamentos que não condizem com o preço da ação. A tendência de baixa não poupa ninguém, mas quando a inversão realmente ganhar força, que ativos se recuperam primeiro?

Antes de mais nada, o mercado precisa encontrar espaço para sua virada. A palavra "crise" remete a uma fase de mudança, que torna determinado cenário diferente do que costumava ser. Atribuído em sua origem a estados de saúde, o termo acompanhava a possibilidade de não retornar mais aos antigos padrões.

Mas por piores ou duradouras que sejam, as crises sempre passam para os mercados. A história comprova que, por mais profunda que a baixa seja, o caráter cíclico abre o caminho para pontos de inflexão. Começand
o a acreditar que o pior pode ter ficado para trás, o mercado parece procurar sua recuperação; ainda sem saber o que precisa para se recuperar.

A liquidez das commodities
Daí surgem teorias tentando apontar de onde os índices acionários irão tirar sua recuperação. Tomando por base o caso do Ibovespa, a desvalorização veio em boa parte pela fuga do investidor estrangeiro. Para cobrir perdas lá fora, liquidavam suas posições na bolsa brasileira. Os ativos de maior liquidez foram os que mais sofreram.

A partir deste ponto, pode-se assumir que, com a volta da tendência de alta, estes papéis de maior liquidez serão os responsáveis pela virada da bolsa; exatamente pela volta destas posições liquidadas pelos estrangeiros.

E
m entrevista à InfoMoney no começo de dezembro, o analista João Pedro Brugger, da Leme Investimentos, destacou a questão: "em um primeiro momento de recuperação, as blue chips deverão ser uma boa aposta por terem muita liquidez e estarem desvalorizadas; (...) o estrangeiro tenderá a vir para elas".

Small caps na briga
Dada a dimensão desta crise, qualquer esboço de recuperação do mercado tende a acompanhar boa dose de incerteza. Este fato coloca o ponto de vista do fundo Galleas em evidência. Para os gestores, por esta incerteza se estamos no começo, meio ou fim da crise, deve-se "ir migrando para a liquidez à medida que consigamos captar ou que os cases em carteira se tangibilizem".

Mas há outra corrente. Papéis de menor liquidez, menos apegados ao mercado de commodities e voltados ao consumo ou vendas internas, também podem iniciar a virada. Para o próprio Galleas, um movimento interessante é "buscar catalisar eventos em nossas investidas small caps que façam com que suas rentabilidades sejam outliers entre suas pares".

Consumo e infra-estrutura
Como tudo indica que as nações desenvolvidas, exatamente as maiores consumidoras de nossas commodities, devem atravessar período mais extenso de enfraquecimento econômico, não dá para descartar a possibilidade da recuperação começar via fundament
os internos. Mais exposição a vendas internas e consumo doméstico pode ser a chave da inversão de tendência.

É a aposta da Orbe Investimentos. Para a instituição, acreditar que quando a bolsa voltar a subir as ações líquidas subirão antes não é o caminho; seria "pensamento absolutamente de curto prazo". "Não otimiza a rentabilidade total de longo prazo de cada um".

Com grandes consumidores de matérias-primas em desaceleração, será que as companhias ligadas a commodities realmente irão se destacar? "Não seria mais inteligente buscar valor em companhias voltadas ao mercado interno de consumo e companhias voltadas a infra-estrutura no Brasil?", perguntam.