quinta-feira, 18 de março de 2010

Com votação dividida, Copom mantém Taxa Selic em 8,75% ao ano

Em reunião encerrada na noite desta quarta-feira, o Comitê de Política Monetária do Banco Central manteve a taxa Selic em 8,75% pela quinta vez consecutiva. Não houve unanimidade entre os membros do Copom, com 3 diretores defendendo o aumento dos juros já neste encontro, mas tendo prevalecido a opinião da maioria dos componentes (5). O comunicado anunciado ao término da reunião citou que o “Comitê irá monitorar atentamente a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária”. O uso da expressão “monitorar atentamente”, que não aparecia no texto passado, e principalmente a divisão do placar, sinalizam abertamente mudanças na política monetária na próxima reunião em abril.

Tal decisão veio em linha com as expectativas de cerca de metade dos analistas – entre os quais nos incluíamos – sendo que a outra parte aguardava uma elevação dos juros já neste encontro de hoje. Apesar da deterioração do cenário inflacionário, com aceleração dos índices correntes e alta das expectativas futuras para acima do centro da meta, nossa expectativa se baseou no texto da última ata, que não apontou claramente a urgência do aperto monetário, e também na necessidade de se obter mais informações a respeito (i) da participação da demanda na alta recente da inflação e (ii) do ritmo de aquecimento da atividade.

Tendo em vista o cenário exposto acima e a sinalização agora mais contundente por parte do BC, esperamos que a alta da Selic ocorra de fato na próxima reunião, em abril (dias 27 e 28). A inflação deve manter a desaceleração nas próximas semanas, mas sem reduzir substancialmente os riscos em torno de uma dinâmica menos favorável e incompatível com o centro da meta, o que coloca viés de alta para as expectativas. Neste contexto, o Banco Central também deverá endurecer o discurso cauteloso na ata, apontando uma clara possibilidade de elevação no encontro seguinte. Com isso, manteria o protocolo de transparência na comunicação com o público, que tem direcionado suas ações de política monetária nos últimos anos.

Sendo assim, mantemos nosso cenário principal para a evolução da Selic ao longo de 2010, que contempla um ajuste total de 250 pontos-base, iniciando o ciclo com um aumento de 50 pontos na reunião de abril, e prosseguindo no movimento de alta até a taxa básica alcançar 11,25% no segundo semestre.

De toda maneira, fica a expectativa pela leitura da ata, que será divulgada na próxima quinta-feira (25), e que poderá dar indícios mais claros sobre esta perspectiva de iminência do início de um novo ciclo de aperto monetário no país.

Silvio Campos Neto