terça-feira, 16 de março de 2010

A epidemia dos indicadores

por Rogério Passos

A literatura especializada em análise técnica, bem como os sites da internet especializados no assunto, parecem estar sofrendo de uma doença contagiosa. Gosto de chamá-la de "epidemia dos indicadores". Com raras e honrosas exceções, os indicadores se multiplicam pela literatura, cada vez mais promissores e contagiantes. Cada vez mais complexos e "poderosos". Quase chegam ao status de verdadeiras "bolas de cristal".

Devemos sempre lembrar, como fazemos em nossos cursos, que nada, nem ninguém, prevê o futuro. A análise técnica em geral (e os inúmeros indicadores em particular) também não prevêem o futuro. Aliás, nem a análise técnica, nem a análise fundamentalista, nem o "Fibonacci", nem as "Ondas de Elliot", nem qualquer outro tipo de análise. Isso nos parece óbvio, mas dada a constância com que os investidores são bombardeados diariamente com essas fórmulas mágicas, as pessoas acabam por se convencer de que talvez possam realmente prever o futuro de vez em quando. Não podem.

Parafraseando o Prof. Van K. Tharp, em seu livro "Trade your way to financial freedom", indicadores servem para distorcer as informações que já estão presentes nos preços. Em outras palavras, os indicadores são cálculos matemáticos realizados sobre dados "crus" (os preços e volumes dos gráficos). Eles não "criam" informação nova. Apenas apresentam as informações já existentes de uma forma diferente. Apesar de acreditar que o uso de alguns indicadores pode realmente melhorar o resultado estatístico de uma estratégia de operação no mercado, devemos ter em mente que os indicadores, juntamente com qualquer outra ferramenta de análise, poderão ser apenas coadjuvantes no sentido de melhorar o desempenho de uma estratégia de operação no mercado. O papel principal neste cenário é, e sempre será (pelo menos enquanto não pudermos prever o futuro) do Controle de Risco. E estou falando aqui de um modelo de Controle de Risco que seja estatisticamente validado através de simulações computacionais.
Ou seja, como sempre dizemos, a análise técnica (ou qualquer outra análise) pode apenas ajudar a melhorar o resultado de uma estratégia de operação que já esteja calcada no controle adequado do risco. E só!

A tentativa ingênua de procurar pontos ótimos de entrada é sempre limitada estatisticamente. Isto significa que o investidor não tem total controle deste ponto. Por outro lado, o dimensionamento e o controle do risco assumido estão totalmente nas mãos do investidor. Total controle. Investidores mais experientes sabem que preocupar-se (ou sofisticar) mais a saída (ligada ao controle adequado do risco) com certeza levará a uma performance superior no mercado. Não se iluda: não existe bola de cristal!