terça-feira, 9 de março de 2010

Itaú Unibanco: PIB deve ter forte crescimento, desencadeando alta da Selic

Por: Julia Ramos M. Leite

O Itaú Unibanco revelou, em teleconferência realizada nesta terça-feira (9), suas projeções para o cenário macroeconômico brasileiro. O economista-chefe do banco, Ilan Goldfajn, e o economista Aurélio Bicalho comentaram as expectativas do banco para o PIB (Produto Interno Bruto) do País no quatro trimestre, cujo resultado deve impulsionar uma expansão anualizada entre 7% e 8% do produto brasileiro no segundo semestre de 2009.

Depois de crescer 1,4% em novembro, o índice do PIB mensal do Itaú Unibanco – que equivale às expectativas do banco em relação ao PIB brasileiro – avançou outros 0,5% em dezembro, com ajuste sazonal. Com isso, o indicador subiu 2% no último trimestre de 2009, em comparação com os três meses anteriores.

Com avanço de 2% em relação ao trimestre anterior, com ajustes sazonais, o resultado do PIB do último trimestre de 2009 deve ser o melhor desde 2007, na avaliação de Bicalho. Vale mencionar que, na comparação interanual, a alta deve ser de 4,3%.

Além disso, os economistas afirmam que os dados dos últimos trimestres devem ser revisados para cima. O número do 3º trimestre, por exemplo, deve passar passar de 3,1% para 3,7%. “O quadro que isso oferece para a economia brasileira é de que a recessão foi um pouco mais profunda, mas a expansão também foi mais forte do que esperávamos”, afirma Bicalho.

Indústria e investimentos
O grande destaque do PIB deve ser a indústria (cula expectativa é de crescimento de 2,5% na passagem do 3T09 para o 4T09), repetindo taxas elevadas que já acontecem desde o segundo trimestre de 2009. Ainda do lado da oferta, o setor de serviços deve mostrar expansão um pouco menor (+0,8%), enquanto o setor agrícola deve continuar com desempenho fraco (-0,4%).

Já pela ótica da demanda, a expansão do investimento deve ser o foco. “Projetamos uma expansão de 7,1% da formação bruta de capital fixo, cerca de 30% de expansão do investimento – o que é ainda mais relevante, é em cima de uma base que já mostrou avanço, como é o caso do terceiro trimestre”, afirma Bicalho.

Além disso, o consumo das famílias deve mostrar forte expansão de 1,4%, reforçando o crescimento da demanda doméstica, que tem puxado a economia brasileira. Os dados devem se refletir no avanço de 8,5% das importações, segundo o banco. Já as exportações devem mostrar aceleração de 2,8%, refletindo também a recuperação da economia global.

-0,2%, +6% e +4,8%
Para 2009, ano que mostrou “predominância da expansão da economia brasileira”, o banco espera que o produto brasileiro mostre leve contração de 0,2%. Já o crescimento em 2010 deve ser mais robusto, em torno de 6%.

Entretanto, Goldfajn ressalta que o avanço da economia brasileira deve ser em patamares mais sustentáveis, justificando as projeções do Itaú Unibanco de avanço de 4,9% em 2011, e 4,8% em 2012. “Os 2% que devemos ver no 4º trimestre de 2009, por exemplo, é um número muito impulsionado por estímulos e pela recuperação global, e não deve se sustentar”, afirma o economista-chefe do banco.

Preocupações lá fora
De acordo com Goldfajn, a recuperação global também segue em ritmo melhor do que o esperado – as projeções do banco apontam avanço de 4,1% no PIB mundial em 2009, e 3,9% nos anos seguintes.

O economista também ressalta que, com as dificuldades na Europa, os emergentes seguem em foco, e devem continuar liderando o crescimento. “Lá fora, as preocupações são com a Grécia e o déficit fiscal de alguns países, são sobre como crescer”, afirma Goldfajn.

E por aqui
Se por lá a preocupação é como crescer, no Brasil o problema é quase o oposto: o forte crescimento da economia do País traz à tona preocupações com a inflação, que já surpreende em 2010. “Tudo indica que ao final desse mês, a inflação vai estar acima de 2%, o que é um número muito grande”, aponta o economista-chefe do banco. “Com isso, nossa projeção para o IGP-M é de 7% para o ano”, explica Goldfajn, que também revela que as projeções para o IPCA são de 4,9% em 2010.

Com a inflação surpreendendo, o Itaú Unibanco projeta um aumento de 50 pontos-base na Selic já em março, e uma taxa básica de juro em 11,5% ao ano no final de 2010, o que deve ajudar a trazer a inflação para sua meta em 2012.

Outra projeção para o País é de aumento de déficit em conta corrente, já que o Brasil cresce mais do que o restante do mundo. O dólar, por sua vez, deve continuar sua tendência de queda de forma mais amena, fechando o ano cotado a R$ 1,78.

Regiões
O Itaú Unibanco apresentou também projeções para os estados e regiões brasileiros. Já que os dados do PIB regional não só são defasados, mas também têm menor periodicidade, foram analisados dados regionais, como produção industrial, vendas no varejo e emprego formal para a formação de um indicador para cada região.

De maneira geral, o indicador mostra um crescimento forte e homogêneo entre as regiões, com considerável aumento do emprego no último trimestre.