Em reunião do G-20, ministro diz que países ricos não devem fazer ajuste fiscal severo e aumentar as exportações para emergentes
Patrícia Campos Mello e Luciana Xavier - O Estado de S.Paulo
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que a Europa não pode "fazer ajuste fiscal às custas do Brasil" e de outros países emergentes, reduzindo sua demanda doméstica por causa de aperto fiscal e aumentando as exportações. "É preciso que os emergentes não carreguem nas costas a retomada (global); países avançados exportadores não devem fazer um ajuste severo", disse Mantega em entrevista.
O recado tinha endereço certo: a Alemanha é o maior país exportador da Europa e a chanceler Angela Merkel defende de forma enérgica a adoção de medidas de austeridade em seu país. Mantega disse que, em caso de ajustes severos na Europa, pode haver agravamento de déficit em transações correntes em países emergentes.
O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, afirmou que os integrantes do G20 concordaram em reduzir pela metade os déficits fiscais até 2013. Segundo Mantega, esse objetivo não é "factível" para muitos países que têm déficits acima de 10%.
Reduzir pela metade os déficits seria "draconiano e exagerado", disse o ministro. Ele avalia que muitas economias avançadas ainda não estão em condições de retirar todos os estímulos e fazer apertos fiscais fortes, sob o risco de prejudicar o crescimento. "Se exagerar na dose, mata o paciente", comparou.
Na última cúpula de líderes do G20, em Pittsburgh em setembro de 2010, ficou estabelecido um framework para reequilibrar a economia mundial - os países com superávit em conta corrente, principalmente a China, mas também Alemanha e Japão, se comprometem a estimular a demanda interna e não depender tanto de exportações. Já países consumidores como os EUA se comprometem a aumentar a poupança e dividir o déficit em conta-corrente, exportando mais e importando menos. Para o Brasil, o aperto fiscal dos europeus vai contra o framework.
"Quero deixar claro que sou favorável a ajustes fiscais. No Brasil, já estamos aumentando o resultado fiscal e retomamos a trajetória de redução da dívida. Mas vejo ansiedade de alguns governos em fazer logo o ajuste fiscal, principalmente nas economias avançadas", afirmou Mantega. "A consolidação da recuperação (mundial) pode ser ameaçada pela pressa na retirada dos estímulos", insistiu.
Reforma financeira. Segundo Mantega, a reforma financeira global também deve ter avanços no comunicado de hoje. O ministro disse que a reforma deve estar formatada e aprovada até a próxima reunião do G20, em Seul, Coreia, em novembro. Os países teriam prazo até 2012 para implementar as medidas previstas na reforma, como o aumento de exigência de capital em bancos e políticas de desincentivo ao risco.
Em relação à taxa bancária, ele admitiu que as divergências continuam, "Achamos que os países devem fazer a taxação que acharem necessária; Grã-Bretanha e EUA já fizeram, mas isso não significa que nós tenhamos de fazer", disse Mantega. "Já temos mais impostos e nossos bancos não criaram problemas".
Mantega voltou a falar em antecipar a reforma das cotas do FMI para novembro, em Seul, em vez do primeiro semestre de 2011. O ministro brasileiro disse ainda que a China "demonstrou boa vontade" ao flexibilizar o yuan. "Precisamos saber em que velocidade vai ocorrer a valorização da moeda chinesa", disse. "É um passo positivo, mas apenas um primeiro passo."
Analistas têm poucas expectativas sobre o comunicado de hoje. "O resultado da cúpula será limitado por causa das grandes divergências entre os Estados, principalmente em relação a coordenação de estímulos, redução de déficit e resolução de desequilíbrios" disse o analista Dan Alamariu, do Eurasia Group.
Patrícia Campos Mello e Luciana Xavier - O Estado de S.Paulo
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que a Europa não pode "fazer ajuste fiscal às custas do Brasil" e de outros países emergentes, reduzindo sua demanda doméstica por causa de aperto fiscal e aumentando as exportações. "É preciso que os emergentes não carreguem nas costas a retomada (global); países avançados exportadores não devem fazer um ajuste severo", disse Mantega em entrevista.
O recado tinha endereço certo: a Alemanha é o maior país exportador da Europa e a chanceler Angela Merkel defende de forma enérgica a adoção de medidas de austeridade em seu país. Mantega disse que, em caso de ajustes severos na Europa, pode haver agravamento de déficit em transações correntes em países emergentes.
O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, afirmou que os integrantes do G20 concordaram em reduzir pela metade os déficits fiscais até 2013. Segundo Mantega, esse objetivo não é "factível" para muitos países que têm déficits acima de 10%.
Reduzir pela metade os déficits seria "draconiano e exagerado", disse o ministro. Ele avalia que muitas economias avançadas ainda não estão em condições de retirar todos os estímulos e fazer apertos fiscais fortes, sob o risco de prejudicar o crescimento. "Se exagerar na dose, mata o paciente", comparou.
Na última cúpula de líderes do G20, em Pittsburgh em setembro de 2010, ficou estabelecido um framework para reequilibrar a economia mundial - os países com superávit em conta corrente, principalmente a China, mas também Alemanha e Japão, se comprometem a estimular a demanda interna e não depender tanto de exportações. Já países consumidores como os EUA se comprometem a aumentar a poupança e dividir o déficit em conta-corrente, exportando mais e importando menos. Para o Brasil, o aperto fiscal dos europeus vai contra o framework.
"Quero deixar claro que sou favorável a ajustes fiscais. No Brasil, já estamos aumentando o resultado fiscal e retomamos a trajetória de redução da dívida. Mas vejo ansiedade de alguns governos em fazer logo o ajuste fiscal, principalmente nas economias avançadas", afirmou Mantega. "A consolidação da recuperação (mundial) pode ser ameaçada pela pressa na retirada dos estímulos", insistiu.
Reforma financeira. Segundo Mantega, a reforma financeira global também deve ter avanços no comunicado de hoje. O ministro disse que a reforma deve estar formatada e aprovada até a próxima reunião do G20, em Seul, Coreia, em novembro. Os países teriam prazo até 2012 para implementar as medidas previstas na reforma, como o aumento de exigência de capital em bancos e políticas de desincentivo ao risco.
Em relação à taxa bancária, ele admitiu que as divergências continuam, "Achamos que os países devem fazer a taxação que acharem necessária; Grã-Bretanha e EUA já fizeram, mas isso não significa que nós tenhamos de fazer", disse Mantega. "Já temos mais impostos e nossos bancos não criaram problemas".
Mantega voltou a falar em antecipar a reforma das cotas do FMI para novembro, em Seul, em vez do primeiro semestre de 2011. O ministro brasileiro disse ainda que a China "demonstrou boa vontade" ao flexibilizar o yuan. "Precisamos saber em que velocidade vai ocorrer a valorização da moeda chinesa", disse. "É um passo positivo, mas apenas um primeiro passo."
Analistas têm poucas expectativas sobre o comunicado de hoje. "O resultado da cúpula será limitado por causa das grandes divergências entre os Estados, principalmente em relação a coordenação de estímulos, redução de déficit e resolução de desequilíbrios" disse o analista Dan Alamariu, do Eurasia Group.