sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Vale faz investimento US$ 12 bilhões em fertilizantes

Nivaldo Souza

Barbosa: foco nos mercados americano, brasileiro, chinês e indiano para ser a 2ª maior produtora de matéria-prima para fabricação de insumos agrícolas

A mineradora quer a vice-liderança do mercado de fosfato e potássio até 2014, com produção de 23,5 milhões de toneladas. Para isso, toca um pacote de investimentos de US$ 12 bilhões.

A Vale Fertilizantes ainda não nasceu formalmente como empresa, o que ocorrerá no primeiro semestre do próximo ano com a abertura de capital na BM&FBovespa, mas a segunda mineradora do globo que colocar sua divisão de insumos agrícolas na segunda posição do ranking mundial de produtoras das matérias-primas potássio e fosfato - principais componentes para fabricação de fertilizantes.

"Esse investimento será financiado em parte com recursos de operação de caixa das atividades que já existem, parte com dívida e com a emissão de ações", afirma ao Brasil Econômico o diretor da Vale Fertilizante, Mário Barbosa.

O destaque será o potássio, cuja produção vai saltar de 750 mil toneladas anuais extraídas na mina de Taquari-Vassouras (SE), para 10,6 milhões de toneladas em cinco projetos (Argentina, Brasil, Canadá e Moçambique).

Em fosfato, a capacidade atual de produção de 8,8 milhões de toneladas por ano será aumentada para 12,8 milhões de toneladas, com a ampliação do projetos Bayóvar - recém-inaugurado no Peru, com capacidade de 3,9 milhões de toneladas.

Outro projeto em Moçambique, na África, o Evate, que produzirá 2 milhões de toneladas - está em fase de estudos de viabilidade econômica.

Segundo o executivo, o aporte é feito de olho em um crescente mercado de consumo de alimentos puxado pelo aumento da população mundial, que se consolida em áreas urbanas.

"O mercado de fertilizantes vai crescer bastante por estar ligado intimamente com a produção de alimentos", observa. "Isso tem despertado as grandes empresas para esse mercado. A Vale, que já opera uma mina desde 1992, vem se movimentando mais fortemente nesse setor há dois anos."

O principal movimento da mineradora aconteceu em maio deste ano. A empresa aportou US$ 4,7 bilhões para comprar o controle acionário da Bunge e da Fosfértil. "O objetivo é se consolidar como player mundial no mercado, como segunda maior empresa", afirma.

Potash "é muito dinheiro"

O passo mais ousado da Vale, contudo, seria a compra da canadense Potash, maior produtora mundial de fertilizantes.

O rumor de que a mineradora tentaria cobrir a oferta de US$ 38,6 bilhões feita por sua maior concorrente em minério de ferro, a BHP Billiton, chegou a derrubar o preço das ações da empresa na BM&FBovespa essa semana - o que a obrigou a emitir nota negando negociações.

De acordo com Barbosa, a investida é um passo muito ousado para uma empresa que ainda está em fase de montagem de seu corpo administrativo.

"Acabei de chegar na empresa. Não posso chegar e pedir US$ 40 bilhões para comprar outra companhia", observa. "Está fora de cogitação fazer uma oferta pela Potash. É muito dinheiro."

Com três décadas no setor, o diretor da Vale Fertilizantes vê com bons olhos uma possível entrada de grande companhias.

"Acho que a entrada da BHP e da Rio Tinto pode dar uma disciplina maior ao mercado, em processo de consolidação. A mineração hoje está muito cara e as empresas de fertilizantes não têm fôlego para investir."