quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O bê-á-bá da capitalização da Petrobras

A Petrobras vai promover a maior operação de capitalização já registrada. Uma transação desse tamanho, claro, levanta muitas dúvidas. Por esse motivo, a DINHEIRO Online levantou as principais questões relacionadas ao negócio. Confira.

Por Rodrigo Caetano



Tudo o que você gostaria de saber....



O que é capitalização de uma empresa?

Trata-se do aumento do patrimônio de uma empresa por meio de aportes feitos pelos sócios ou investidores. Pode ser feita, basicamente, de duas formas: com a venda de ações ou com a venda de parte da empresa para um novo investidor.


Por que a Petrobras precisa se capitalizar?

São dois os motivos: primeiro, ela precisa de dinheiro para colocar em prática seu ousado plano de negócios, que prevê investimentos de US$ 224 bilhões até 2014. O outro motivo é seu nível de endividamento. Atualmente, as agências de classificação de risco atribuem à Petrobras o grau de investimento, permitindo que ela receba investimentos de grandes fundos internacionais. Caso a empresa ultrapasse o limite de 35% de endividamento (relação entre as dívidas e o patrimônio), poderá perder essa classificação. Aumentando seu capital, a Petrobras pode contrair mais dívidas sem colocar em risco o grau de investimento.


Existem alternativas à capitalização? Por que a Petrobras optou por ela?

A melhor alternativa para a Petrobras cumprir seu plano de investimentos é mesmo se capitalizar. Só assim a empresa vai conseguir os recursos que necessita. O que pode ser questionada é a forma que o seu controlador, no caso o governo brasileiro, escolheu para fazer isso. No caso, o governo vai ceder cerca de 5 bilhões de barris de petróleo a serem extraídos das futuras reservas do pré-sal para capitalizar a empresa. Uma alternativa seria, em vez de ceder os barris, fazer uma licitação para a exploração de alguns poços do pré-sal com outras empresas e utilizar este dinheiro para capitalizar a Petrobras.


Quando as ações começarão a ser negociadas?

Na Bovespa, o início da negociação dos papéis da oferta será em 27 de setembro.


Qual o volume esperado para a capitalização?

Com base no valor de fechamento da ação da Petrobras no dia 2 de setembro, quando foi divulgado o prospecto da oferta, R$ 111,67 bilhões. Mas pode chegar a R$ 150 bilhões, o seu teto.


O volume projetado para a oferta pode mudar até que a capitalização efetivamente ocorra?

Sim. O volume vai depender do preço por ação a ser definido e pelo interesse dos investidores.


O valor total definitivo da oferta vai ser conhecido quando?

O valor total será conhecido quando for fixado o preço por ação, que deve ocorrer após o dia 23 de setembro.


Esse valor pode chegar a quanto?

Estima-se que, se a demanda dos minoritários, do varejo e de investidores for alta, e também se o governo decidir ficar com todas as sobras, o valor total pode chegar a algo em torno de R$ 150 bilhões. Mas isso é uma estimativa. O governo e o BNDESPar manifestaram a intenção de, em conjunto, subscrever R$ 74,807 bilhões, sem limite de preço por ação. O restante virá dos outros interessados na compra das ações.


Como vai ser formado o preço da ação da Petrobras a ser comprada pelos investidores que participarão da oferta?

O preço por ação terá como parâmetro a cotação de fechamento das ações da Petrobras na BM&FBovespa e das American Depositary Shares (ADS) da empresa na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE), na data de fixação do preço por ação.


O que é o chamado 'bookbuilding'?

É o procedimento de coleta de intenções de investimentos entre aqueles que podem participar da capitalização.


Quando sairá esse preço?

O bookbuildig se dará entre os dias 3 e 23 de setembro. O preço por ação será conhecido após o procedimento de coleta de intenções de investimentos.


Como o governo vai participar dessa oferta?

O governo vai participar por meio da cessão onerosa de 5 bilhões de barris de petróleo das futuras reservas do pré-sal. Ou seja, o investimento do governo não vai representar dinheiro imediato no caixa da empresa.


A fatia que o governo tem na Petrobras é de quanto e pode chegar até quanto?

Hoje, a união possui 32% do capital total da empresa e 55,6% das ações com direito a voto. O objetivo do governo é aumentar sua participação total, para algo entre 40% e até 60%.


O governo quer aumentar sua fatia na Petrobras? Por que?

Sim. O objetivo, segundo o governo, é ter maior controle sobre as reservas de petróleo brasileiras, especialmente em relação ao pré-sal.


Por que o preço médio do barril, de US$ 8,51, ficou muito abaixo da cotação do barril no mercado internacional?

Porque o preço leva em consideração os custos de extração desse petróleo além do risco do negócio. O preço do barril no mercado internacional refere-se ao petróleo já extraído, pronto para o uso. No caso da capitalização, ainda não se sabe com certeza nem a qualidade do petróleo que será extraído.


Por que o preço do barril foi considerado um dos pontos mais polêmicos nas negociações que antecederam a capitalização?

Quanto maior fosse o valor do barril, pior seria para a Petrobras, pois não entraria dinheiro imediato no caixa. Como a participação do governo será por meio da cessão de barris, a única forma de entrar dinheiro será por meio dos minoritários. Com o valor do barril muito alto, os minoritários teriam dificuldade de acompanhar o governo na capitalização e acabariam com sua participação diluída. Para a União, no entanto, quanto maior o valor do barril, mais poder de fogo.


É justo que o governo aumente sua participação na Petrobras vendendo barris de petróleo a ela, enquanto o investidor tem de entrar na operação com dinheiro?

A questão é polêmica. O governo justifica a operação dizendo que terá mais controle sobre as reservas de petróleo do país. Por outro lado, essas mesmas reservas, como destaca o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, pertencem a todos os brasileiros. Na prática, o governo está transferindo algo público para as mãos de capital privado, uma vez que a Petrobras é uma empresa de capital aberto.