quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A escassez de etanol na terra do carro flex

Brasil Economico

Não deixa de ser curioso observar que, apesar do avantajado crescimento da frota de carros flex no país, o consumo nacional de etanol pode cair no ano que vem. O Brasil, ícone global do sucesso dos biocombustíveis, foi incapaz de sustentar o crescimento na produção de etanol para atender a sua própria demanda doméstica.

O assunto gerou certa polêmica quando o Brasil Econômico publicou - em 24 de março - uma reportagem mostrando que o consultor Alexandre Mendonça de Barros, da MB Agro, já previa que a gasolina tomaria espaço do etanol e abasteceria a maior parte dos novos carros flex. Alguns discordaram da teoria, agora incontestável.

Agora não cabe debater se há culpa por esse soluço na rota do etanol como alternativa energética. O fato é que as previsões apontam realmente para uma queda da produção de cana-de-açúcar.

Há mais de dez anos adubada pela alta demanda de seus subprodutos, o açúcar e o álcool, a safra brasileira crescia sem parar. No próximo ano, no entanto, esse ciclo de expansão deve se estancar.

Os motivos são vários. Em 2010 a estiagem causou estragos às lavouras, que devem produzir menos.

A crise financeira internacional iniciada em 2008 pode ter sido menos do que uma marolinha para vários setores industriais do país, mas pegou os usineiros com enormes dívidas, o que acabou por fazer com que o endividamento entre muitos se ampliasse ainda mais, cessando sua capacidade de se capitalizar. Sem capital, não cuidaram como deveriam da safra, daí outra razão para a queda de produção.

Ainda que a safra possa até crescer 5%, como prevê a consultoria Datagro, a produção de etanol será muito mais afetada do que a de açúcar. Isso porque os preços do açúcar devem continuar atraentes, fazendo com que as empresas apostem mais em sua produção do que na do combustível.

A tendência, portanto, é que o país do etanol e dos carros flex consuma mais gasolina do que álcool a partir de agora.