segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Petrobras reaparece nas seleções de corretoras

O Globo    

Mas recomendações ainda são tímidas após a capitalização da empresa. Ações acumulam queda de até 34% no ano

Bruno Villas Bôas

Quase um mês após a conclusão da maior capitalização da história, as ações da Petrobras voltam a ser recomendadas por corretoras: de 20 consultadas pelo GLOBO no mês de outubro, a companhia aparece na carteira de dez (entre mensais e semanais). Segundo analistas, as ações da empresa continuam muito voláteis - com dias de forte ganho e de forte queda - nos próximos meses, embora com um bom potencial de ganhos no longo prazo. Mas eles afirmam que o inferno astral da companhia ainda não terminou.

Quem aderiu à oferta pública de ações da Petrobras, que levantou R$ 120,2 bilhões no mercado, não tem muito o que comemorar. Neste mês, as ações preferenciais (PN, sem voto) da companhia encolheram 32,55%, para R$ 24,21. E as ordinárias (ON, com voto) caem 34,52%, para R$ 26,75. No mesmo período, o Ibovespa, índice que serve de referência da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e que tem forte influência da Petrobras, deixou a empresa para trás e acumula ganho de 1,37%.

- O mercado foi muito negativo sobre a capitalização. Algumas corretoras mantêm ações da companhia na carteira só porque precisam acompanhar o desempenho do Ibovespa - afirma William Alves, analista da XP Investimentos.

Número de compradores caiu após a capitalização Nas últimas semanas, bancos como Itaú, Barclays e Morgan Stanley saíram do período de silêncio - durante uma oferta de ações, instituições ligadas à operação não podem divulgar análises sobre a empresa emissora dos papéis - e reduziram suas expectativas para os papéis da empresa. Os relatórios citam riscos do aumento de participação do governo após a capitalização (de 40% para 48% do capital total) e o alto preço pago (US$ 8,51) pelos barris de petróleo do pré-sal, que foram cedidos pela União para a estatal explorar, sistema conhecido como cessão onerosa, além da diluição de minoritários após a oferta.

Esses relatórios pesaram sobre as ações. Na última sextafeira, uma ação PN da Petrobras valia a metade de uma ação da Vale, o que não acontecia há mais de 17 anos.

Segundo o analista Osmar Camilo, da Socopa Corretora, a capitalização levantou recursos suficientes para aliviar o caixa da Petrobras. A alavancagem da empresa recuou: as dívidas passaram de 34% para 18% do patrimônio líquido. A estatal agora tem condições de tocar os investimentos de US$ 224 bilhões previstos até 2014, incluindo o pré-sal. Para ele, o mercado apenas está se acomodando ao novo volume de papéis em circulação da estatal, que aumentou em 48%, de 8,77 milhões para 13 milhões de ONs e PNs: - Quem tinha interesse em ter ações da Petrobras comprou na oferta ou logo depois dela. Isso reduziu a quantidade de pessoas no lado comprador e pressionou a queda.

Corretoras: ganhos podem chegar a 72% em 12 meses Na Socopa, a Petrobras ficou de fora da carteira de outubro, mas transitou na carteira semanal recomendada, com um peso de 6,1%. Segundo Camilo, o papel tem potencial de ganho, mas será preciso "estômago" para a volatilidade de preços.

Outros agentes do mercado também acreditam que a Petrobras é um bom investimento de longo prazo. Citibank, BofA Merrill Lynch e Santander divulgaram relatórios mais amenos sobre a companhia. O BofA Merrill Lynch, por exemplo, afirmou que seria hora de "olhar para frente" e recomendou a compra de papéis preferenciais, negociado com "múltiplos bastante atrativos".

Na última sexta-feira, a Petrobras confirmou o potencial de reservas de petróleo leve de Tupi entre 5 e 8 bilhões de barris, o que foi bem recebido.

Entre quarta e sexta-feira desta semana, a empresa começa a explorar o campo, no pré-sal da Bacia de Santos.

No fim das contas, o chamado preço-alvo das ações - valor considerado justo pelos analistas para a empresa com base em seus fundamentos - oscila de R$ 34 a R$ 41,65 para os papéis PN. Isso significa que as ações ainda têm espaço para subir de 40% a 72% nos próximos 12 meses.

Erick Scott, da SLW Corretora, explica que mais corretoras não têm a Petrobras na carteira de outubro porque estavam no período de silêncio sobre a companhia no começo do mês, o que significa que não poderiam recomendar a compra aos clientes. Na SLW, a Petrobras segue fora da carteira recomendada. Scott diz que os papéis continuam voláteis pelo menos até o segundo turno das eleições presidenciais, que acontecem em 31 de outubro próximo.

- E, ao longo da capitalização, vimos que a operação iria pesar sobre as ações. Desde o começo recomendamos manutenção dos papéis, sem compra- explica Scott.

O analista espera que companhia comece a se recuperar.

- Estimamos um potencial de valorização de 62% para os papéis - afirma.

Analistas veem ganhos a partir de janeiro próximo Para janeiro, analistas acreditam num movimento de ganho dos papéis, quando sairá a nova carteira do Ibovespa, ou seja, será divulgada a lista de ações que compõem o índice, que reúne os papéis mais negociados.

Como as ações da Petrobras tiveram o maior volume em setembro e outubro, seu peso deve aumentar no índice, superando novamente a Vale. Isso vai obrigar fundos de ações passivos, que replicam o Ibovespa, a comprar ações e puxar a alta.

O médico Gustavo Laufer, de 30 anos, comprou ações da Petrobras em agosto deste ano, pouco antes da capitalização.

Pagou R$ 26,70 por cada ação preferencial, acima valor definido na oferta da estatal.

- Eu tinha a expectativa que as ações estivessem bem melhor, mas não andaram. Mas sou um investidor de longo prazo e acredito na alta - afirma Laufer, que mantém na carteira também ações de varejo e construção, entre outras.

ENTENDA

Capitalização

É um aumento de capital de uma empresa.

No caso da Petrobras, isso aconteceu com a venda de novas ações na Bolsa de Valores.

Cessão onerosa

O governo cedeu à Petrobras o direito de explorar 5 bilhões de barris de petróleo da camada do pré-sal por R$ 74 bilhões. Para que a Petrobras pudesse pagar por esses barris, o governo comprou ações da empresa com títulos públicos. Esses mesmos títulos foram devolvidos ao governo como pagamento pelos barris.

Alavancagem

É quando a dívida líquida está muito alta em relação ao patrimônio líquido de uma empresa.

Preço-alvo

É quanto os analistas consideram justo pagar por uma ação, com base nos fundamentos da empresa.

Diluição

Quem tinha ações da Petrobras e não aderiu à oferta passou a ter uma participação menor no capital da empresa.