quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Construtora WTorre venderá sede da Petrobrás, no Rio, por R$ 1,2 bilhão

Obras. Empresa está criando um fundo imobiliário para fechar o negócio, que será a maior transação imobiliária do País; prédio que está sendo construído para abrigar a estatal tem aluguel garantido, de cerca de R$ 100 milhões por ano, até 2029

Patrícia Cançado, Naiana Oscar - O Estado de S.Paulo

A construtora e incorporadora WTorre vai protagonizar mais uma mega transação imobiliária. Depois de vender o prédio sede do banco Santander por R$ 1 bilhão, em junho do ano passado, a construtora está prestes a negociar o futuro edifício da Petrobrás, no Rio de Janeiro, por um valor recorde de R$ 1,2 bilhão.

Para isso, a empresa criará um fundo de investimento imobiliário (FII) e venderá cotas no mercado. O valor da operação é inédito no Brasil para esta modalidade de investimento.

O prospecto para constituição de fundo e o pedido de distribuição de cotas foram registrados na última sexta-feira na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A autarquia leva em média 20 dias para emitir uma autorização desse tipo. Só então a empresa poderá ir à caça de investidores - pessoas jurídicas e também pessoas físicas. Itaú e Banco do Brasil serão os administradores do fundo e a gestão ficará por conta da butique de investimentos Plural Capital, de ex-sócios do Pactual. Nenhuma das empresas envolvidas na operação quis conceder entrevista.

A WTorre anunciou, no fim de setembro, a intenção de criar dois fundos de investimento para reunir seus ativos. É uma das novas estratégias da empresa depois de ter desistido de vez da abertura de capital - meta perseguida desde 2007, mas que se tornou inviável, primeiro por conta da instabilidade do mercado e agora, por falta de interesse de investidores.

Em princípio, só o fundo lastreado no prédio da Petrobrás será levado ao mercado. O outro deve reunir um portfólio de nove imóveis, que continuarão entre os ativos da construtora.

O edifício da estatal, localizado no centro do Rio de Janeiro, está em construção e deve ser entregue entre o fim do ano que vem e o início de 2012. A obra foi feita sob encomenda da estatal - tem 115 mil metros quadrados de área construída e 95 mil metros de área bruta locável.

A Petrobrás é a única locatária até 2029. O contrato prevê aluguéis de cerca de R$ 100 milhões ao ano por esse período. Com inquilino certo para o empreendimento, a WTorre levantou no ano passado R$ 524 milhões por meio de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) para financiar a obra, que terá um custo total de cerca de R$ 600 milhões.

Com a captação de R$ 1,2 bilhão, cerca de R$ 400 milhões serão embolsados pela WTorre - recursos que devem aliviar o caixa da empresa, conhecida no mercado por manter uma operação de risco e altamente alavancada. Diferentemente das concorrentes, que compram, alugam e depois vendem imóveis comerciais, o empresário Walter Torre atua numa fase anterior a esse processo, que inclui a incorporação do terreno e a construção do prédio. Isso exige financiamento. De acordo com o último balanço, a empresa tinha uma dívida de curto prazo (a vencer em 12 meses) de R$780 milhões.

Outros negócios. Para engordar o caixa, desde a desistência do IPO, a WTorre está vendendo ativos. Em outubro, o banco BTG Pactual comprou duas torres do Complexo JK, em São Paulo. Ao mesmo tempo, o banco comprou 40% de participação em um terreno da WTorre perto do Shopping Morumbi, também em São Paulo, onde será construído um edifício comercial de 96 mil metros quadrados. Mas o próprio BTG Pactual é um forte concorrente da WTorre no segmento de fundos imobiliários. O banco está estruturando o lançamento de cinco FIIs que somam um total de R$ 5 bilhões.

PARA LEMBRAR
Grupo tentou abrir capital duas vezes

No último mês de setembro, a WTorre desistiu definitivamente de abrir o capital. A primeira tentativa da empresa de fazer o IPO (oferta inicial de ações) foi em 2007. A empresa chegou a iniciar o processo, mas foi surpreendida pelo desinteresse dos investidores.
Em fevereiro deste ano, a Wtorre retomou os planos e protocolou o pedido de registro de capital aberto. Desde então, a empresa pediu duas vezes a prorrogação do prazo de definição do IPO. A saída encontrada pela construtora para se capitalizar foi a venda de ativos e a criação de dois fundos de investimento imobiliário.