terça-feira, 23 de novembro de 2010

Maiores perdas do Ibovespa podem esconder oportunidade de entrada

InfoMoney


SÃO PAULO - Impactos cambiais, elevação da concorrência, diluição de capital. Entre as cinco empresas cujas ações mais recuaram no Ibovespa desde o início do ano, estes são alguns dos fatores que levaram à perdas superiores a 25% no valor de mercado destas companhias.

Apesar do mau momento, quatro dentre as cinco ações citadas já sinalizam um retorno ao cenário de boas perspectivas, principalmente para o próximo ano, por parte de analistas. A visão mais pessimista parece ficar com a B2W (BTOW3), que enfrenta dificuldades para melhorar suas margens frente à concorrência, cujas perspectivas são de acirramento ainda maior após o anúncio da fusão entre as varejistas Pão de Açúcar e Casas Bahia. O cenário da empresa contraria a tendência de seu setor, em que estão localizadas algumas das maiores altas do índice.

Em sentido decrescente, o frigorífico JBS (JBSS3), a varejista B2W (BTOW3), a estatal Petrobras (PETR3, PETR4) e a Fibria (FIBR3) ocupam as cinco posições negativas do Ibovespa, com base no pregão de 18 de novembro. As ações da ALL (ALLL3) foram excluídas deste comparativo por conta de sua migração para o Novo Mercado, que resultou na conversão das units da empresa para as ações ON.

JBS Friboi: problemas de gestão e cenário adverso
Em um cenário de menor oferta de gado no Mercosul e impactos cambiais nas exportações, as ações da JBS Friboi (JBSS3) acumulam as mais elevadas perdas de ações listadas no Ibovespa, com 32,08%, considerando-se o último pregão. Incertezas em balanços e problemas de gestão costumam ser associados à empresa, que neste ano já sofreu a suspensão temporária de exportações por autoridades norte-americanas e adiou a capitalização da subsidiária JBS USA para 2011.

A passagem do processo de capitalização agregou uma multa de US$ 300 milhões, que deve ser paga até o fim deste ano ao BNDESPar. Entre outros problemas, o IPO (Oferta Pública de Ações) realizado no primeiro semestre, que arrecadou R$ 1,6 bilhão, ficou abaixo das expectativas da companhia.

Mercado pode ter exagerado em reação
"Nós achamos que o mercado exagerou na reação (...), e nós vemos isto como uma oportunidade de 'compra na fraqueza'", dizem os analistas Luis Miranda e Gabriel Vaz de Lima, do Santander, em relatório. Para a dupla, os custos, amplamente criticados pelo mercado, foram pontuais e não devem se repetir no próximo ano. Na última terça-feira (16), o Santander incorporou o novo preço-alvo para as ações e substituiu o target de 2010, de R$ 13,50, por R$ 9,60 em 2011, enquanto a recomendação de compra foi mantida.

O BB Investimentos acredita na recuperação das ações, "em função de nossas expectativas de crescimento do faturamento, incremento das margens operacionais, potencial significativo de captura de sinergias e expansão da distribuição própria da companhia" diz a analista Mariana Peringer, em relatório. Segundo ela, também devem ser levadas em conta o crescente consumo de proteínas, a diversificação geográfica e de produtos da empresa e as sinergias das recentes aquisições.

“A empresa vislumbra um cenário favorável, em virtude do aumento da demanda de carne tanto no Brasil como nos mercados asiáticos, em países ricos em petróleo e regiões onde há dificuldade para aumentar a produção de proteína. Este fato possibilita o total repasse de elevação de custos ao preço final de venda, o que irá sustentar o crescimento e a rentabilidade da companhia”, diz a analista Luciana Leocadio, da Ativa, em relatório sobre os resultados do terceiro trimestre.

B2W: forte concorrência corroeu margens...
Apesar do crescimento do varejo, por conta do momento macroeconômico positivo, as ações da B2W (BTOW3) traçam a trajetória oposta, ao recuarem mais de 31% até esta sexta-feira (19).

Nos últimos meses, a empresa enfrenta a corrosão de suas margens por conta da associação entre os gigantes Pão de Açúcar e Casas Bahia. A fusão elevou a concorrência tanto em capacidade física como em atuação no e-commerce. Primando por sustentar seu market share, a empresa reduziu preços e viu suas margens corroerem.

...e trouxe ceticismo
A empresa promete futuros resultados positivos, dado seu plano de integração de centros distribuidores e os resultados de suas três principais subsidiárias: a Submarino Finance, ingresso.com e B2W Viagens.

“Reiteramos nosso parecer de manutenção, pois continuamos reticentes quanto à melhora sustentável de seus números, dada a elevada concorrência”, diz a analista Sandra Peres, da Coin, em relatório.

Petrobras: diluição de capital e indefinição de custos
Após a maior oferta de ações da história do país, a Petrobras (PETR3, PETR4) colhe os frutos da diluição de seu capital. As ações ordinárias e preferenciais da estatal, respectivamente, ocupam a terceira e quarta posição dentre as maiores perdas do benchmarck, com recuos de 30,74% e 28,36%, nesta ordem.

A capitalização elevou em 49% o número de ações do capital social anterior, diminuindo a relação entre lucros e dividendos para os acionistas nos próximos anos. Além disso, a compra de 5 bilhões de barris da cessão onerosa inspiraram cautela a investidores e analistas. Segundo Andrés Kikuchi, da Link, o longo ciclo de investimentos e captações futuras traz indefinições nos custos reais da exploração. Neste cenário, uma onda de calls de redução de recomendação e preço-alvo abalou a estatal.

Porém, passado é passado
Para o analista Salomão Santos, da iCash Investimento, o atual patamar de negociação dos papéis o torna “atrativo”. Ele prevê um viés de alta ou manutenção no preço dos ativos. “O início da exploração do pré-sal e a diminuição dos riscos eleitorais devem reduzir o receio dos investidores”, comenta. Ademais, o perfil do investidor da Petrobras costuma ser de longo prazo, lembra o analista.

Já os analistas Carlos Sequeira, Antônio Junqueira e Bernardo Miranda, da BTG Pactual, alertam para a abertura de um ponto de entrada interessante nos papéis após o desempenho negativo de outubro, no que são endossados pela equipe do banco Safra. “Neste momento, acreditamos que a Petrobras oferece um bom potencial de valorização”, destaca o trio de analistas.

A potencial de desenvolvimento das atividades no pré-sal da Bacia de Campos, a renovação da confiança no valor das reservas, conforme a companhia expande sua produção no campo de Tupi, e a perspectiva de revisões das projeções de resultados no curto prazo por conta do câmbio, também sugerem a recuperação dos papéis.

Fibria: endividamento alto e preço da celulose baixo
Pressionada por um elevado endividamento e a baixa nos preços da celulose, a Fibria (FIBR3) vê suas ações com perdas acima de 27%, acumuladas nos últimos 11 meses. Além disso, a queda da atividade econômica na China trouxe uma elevação nos estoques da empresa e a a instabilidade nos preços de seu principal ativo, a celulose.

“Nós esperamos volatilidadade no curto prazo para as ações da Fibria, dada nossa projeção para baixos preços de celulose no primeiro trimestre de 2011”, diz o analista Felipe Jiman Koh, em relatório do Citigroup. “Assim, nós deveríamos usar o recuo nas ações para calcar posições para 2011, já que as ações devem se beneficiar de melhores balanços e aumento no preço da celulose no segundo semestre de 2011”, completa.

Os últimos trimestres têm mostrado a redução do endividamento e a intenção de novos investimentos. As compras de terras para a expansão da Unidade de Três Lagoas já começaram, assim como a negociação com a Stora Enso para a expansão da Veracel. A linha de produção deve atingir a capacidade de 1,5 milhão de toneladas a partir de 2014. Além disso, a recente baixa dos estoques na China sinaliza um aumento no ritmo do crescimento econômico por lá.

A recomendação do Citi é de compra, enquanto a Link classifica as ações como “market perform”, preferindo a Suzano no setor.