quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Metade das empresas médias planeja ir ao mercado em cinco anos

Pesquisa mostra que empresas que faturam entre R$ 101 milhões e R$ 400 milhões vêm a oferta de ações como meio para a expansão

Nelson Rocco, iG

Metade das empresas brasileiras de médio porte planejam usar o mercado de capitais para financiar sua expansão, sendo que a grande maioria destas vê na abertura de capital em cinco anos uma forma de viabilizar esse crescimento. Essa é a principal conclusão de uma pesquisa com 106 empresas de quatro regiões do País, que faturam entre R$ 101 milhões e R$ 400 milhões. Dos 49% das empresas que planejam acessar o mercado, a maioria afirma que pensa na abertura de capital entre um e três anos, enquanto 42% vislumbram chegar à Bolsa de Valores num prazo maior, de mais de cinco anos.

A pesquisa foi realizada entre agosto e outubro deste ano pela Câmara Americana de Comércio Brasil (Amcham-Brasil), pela empresa de auditoria e consultoria Ernst & Young Terco e pela Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros (BM&FBovespa). O trabalho começou com 250 empresários que participaram de seminários em Recife, Goiânia, Porto Alegre, Curitiba e Campinas (SP), sendo que 106 responderam aos questionários. Os setores de destaque na pesquisa foram automotivo, químico e petroquímico, construção, agronegócios, comércio atacadista, vestuário, tecnologia e bens de consumo.

Segundo Cristiana Pereira, diretora da BM&FBovespa, o resultado da pesquisa vai ao encontro das perspectivas traçadas pela Bolsa para o mercado. “A Bolsa anunciou a meta de trazer 200 novas empresas para o mercado nos próximos cinco anos. É uma meta bastante ambiciosa mas, se olharmos o número de empresas no País, há cerca de 15 mil a 20 mil com faturamento entre R$ 100 milhões e R$ 400 milhões. A pesquisa identificou uma parte desse universo e mostra que a abertura de capital é uma alternativa de financiamento dessas empresas nos próximos anos”, afirma ela.

Fernando Schmidt, representante da Amcham, diz que a maioria das empresas pesquisadas vem crescendo acima do Produto Interno Bruto (PIB) do País. “E elas estão otimistas com os próximos cinco anos.” Segundo a pesquisa, 45% das empresas cresceram entre 10% e 25% ao ano nos últimos cinco anos. Outras 18% afirmaram ter registrado uma taxa entre 5% e 10% no período. Para os próximos cinco anos, 48% avaliam que a receita bruta deve subir entre 10% e 25% ao ano, enquanto 17% estão mais otimistas, acham que o crescimento se dará entre 25% e 50%. “É como se a gente se deparasse com diversas Chinas dentro do Brasil”, analisa Paulo Sérgio Dortas, sócio da Ernst & Young Terco.

Caso vá ao mercado, planeja abrir o capital



Fonte: pesquisa "O Processo de Construção de Valor para a sua Empresa"

Schmidt diz que o objetivo do trabalho foi ouvir empresas fora do eixo Rio-São Paulo. “Nosso plano era descobrir o que acontece com as empresas fora desse eixo”, conta. “Até porque, hoje, a maioria das empresas da Bolsa se localiza no Rio e em São Paulo, onde há um grau maior de informação sobre o mercado financeiro”, complementa Cristiana.

Financiamento

De acordo com a pesquisa, 45% das empresas usam financiamento bancário e crédito de entidades de fomento, como BNDES, BID e Finep para alavancar seu crescimento, enquanto 32% tomam empréstimos-padrão na rede bancária de varejo e 12% não pegam dinheiro emprestado. Um grupo de apenas 6% prefere aporte de capital de acionistas, 2% têm um investidor estratégico, como fundos de venture capital ou private equity, e só 1% adotam instrumentos financeiros como títulos de dívida ou debêntures.

“A única praça que fugiu um pouco desses 45% foi Goiânia. Isso mostra que as empresas optam por financiamentos bastante onerosos. Esse é um fator para que elas caminhem para um IPO ou uma operação de private equity”, afirma Dortas. Ele se refere à abertura de capital na sigla em inglês (IPO) e aos fundos de compra de participação de empresas, que geralmente participam da gestão por um determinado período para ajudá-las a crescer.

Pelo trabalho, 22% das empresas tinham dívidas menores que 10% de seu capital no final de 2009, enquanto para 28% o endividamento variava entre 10% e 25% do capital. Um grupo de 23% afirmou que as dívidas superavam 50% do capital.

Para Cristiana, apesar de as empresas terem um endividamento alto, ele não é o principal fator observado pelos empresários. Nessa questão, 24% disseram que o principal índice financeiro observado é a geração de caixa medida pelo ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês). O crescimento da receita foi apontado por 23% como o principal fator, e o crescimento da lucratividade, por 18%. O endividamento só foi anotado por 11% dos empresários, em uma questão de múltipla escolha.

Processo longo

A diretora da BM&FBovespa diz que o processo de abertura de capital é longo e que é importante as empresas terem a intenção e se preparar para ele. Cristiana reconhece que a tônica do mercado nos últimos anos foi de abertura de capital por empresas que fizeram operações maiores, no valor médio de R$ 500 milhões, o que exigiria um valor de mercado médio de R$ 2 bilhões. “Mas a Bolsa tem trabalhado para viabilizar operações de valor mais baixo. O mercado brasileiro está maduro para absorver essas empresas.”

Um segmento natural para companhias médias é o Bovespa Mais, que até hoje tem apenas uma empresa listada. Cristiana atribui ao sucesso do Novo Mercado, segmento em que estão as empresas que se comprometem com maiores níveis de governança corporativa, pela falta de opções no Bovespa Mais. “Mas achamos que em 2011 ele (o segmento) pode ter um novo impulso. Temos trabalhado com empresas e acreditamos que muitas virão para o Bovespa Mais, empresas com entre R$ 100 milhões e R$ 600 milhões de faturamento, que farão ofertas de ações menores”, afirma. “A liquidez do Bovespa Mais depende do número de empresas listadas, para que tenham massa crítica e atraiam fundos de investimentos locais, por exemplo.”

Dortas ressalva que as empresas médias não precisam necessariamente ir direto para o pregão, mas podem passar primeiro por uma injeção de capital de um fundo de private equity e, depois, chegar ao Bovespa Mais.