quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Obama desiste de conter déficit e tenta estimular a economia

Sudeep Reddy | The Wall Street Journal


O pacote tributário negociado pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, com a oposição no Congresso do país pode dar um impulso considerável à economia americana ano que vem, propiciando ao governo um novo pacote disfarçado de estímulo econômico sem contrariar parlamentares relutantes em gastar mais para criar crescimento.

Além de estender os cortes de impostos aprovados no governo anterior, de George W. Bush, que venceriam este ano, o acordo inclui cerca de US$ 200 bilhões em outras iniciativas, como um corte no imposto retido na fonte e extensão do seguro-desemprego, medidas que devem impulsionar o crescimento em 2011. O pacote total pode custar US$ 900 bilhões em novos gastos e cortes de impostos nos próximos dois anos.

A maioria das previsões econômicas já levava em conta que Obama conseguiria angariar apoio suficiente para estender pelo menos os cortes de impostos de Bush para a classe média. Sem isso, a economia provavelmente ficaria perto da estagnação em vez de crescer os previstos 2,5% a 3,5% ano que vem.

"A economia não está crescendo com rapidez suficiente para reduzir o índice de desemprego", disse Obama ontem. "O que este pacote faz é dar um empurrão adicional substancialmente mais significativo do que eu acho que a maioria dos economistas esperava."

O acordo deve aliviar a pressão para o Federal Reserve, o banco central americano, expandir seu polêmico programa de comprar US$ 600 bilhões em títulos. Muitos economistas, inclusive diretores do próprio BC, já disseram que um maior estímulo fiscal pode ser mais eficiente do que as ações do Fed para impulsionar a economia.

A possibilidade de um novo pacote de estímulo fiscal tinha definhado no decorrer do ano, enquanto cresciam as críticas de que o gigantesco pacote do ano passado não impulsionou suficientemente a economia. O novo pacote, se aprovado, pode levar a um aumento das previsões para 2011.

Economistas do J.P. Morgan disseram ontem que o pacote pode impulsionar o crescimento em meio ponto porcentual no ano que vem, para 3,5%. Economistas do Goldman Sachs calcularam uma expansão entre meio e um ponto porcentual além de sua previsão de crescimento de 2,7% ano que vem. E economistas do Deutsche Bank disseram que só o corte de impostos retidos na fonte pode impulsionar o crescimento em 0,7 ponto porcentual além do crescimento de 3% que já era previsto por eles para o ano que vem.

O grau de apoio à economia depende em boa parte de as pessoas gastarem ou não os US$ 120 bilhões extras de corte de impostos retidos na fonte, e não poupá-los.

O novo pacote seria a quarta tentativa do governo na última década para impulsionar o consumo, aumentando a liquidez das famílias com cortes ou créditos tributários de curto prazo. As outras tentativas, como restituições extras às famílias em 2001 e 2008, tiveram impacto limitado porque muita gente preferiu economizar os recursos em vez de consumir mais.

Como parte de seu plano de estímulo em 2009, o governo Obama lançou um programa anual de US$ 60 bilhões chamado Making Work Pay para reduzir os impostos retidos na fonte dos trabalhadores que ganham até US$ 95 mil por ano e famílias que ganham até US$ 190 mil por ano. A meta era deixar o dinheiro chegar pelo contracheque, para que as pessoas tivessem a impressão de que a renda delas tinha subido permanentemente e ficassem mais dispostos a gastar.

Só 13% das famílias disseram que o crédito tributário de 2009 as motivou a elevar o consumo, ante 25% nos pagamentos diretos em 2008, segundo pesquisa dos economistas Joel Slemrod e Matthew Shapiro, da Universidade de Michigan, e Claudia Sahm, do Federal Reserve. "Não vejo muita diferença nas condições econômicas daquela época e de agora", disse Slemrod ao "Wall Street Journal". "As pessoas ainda buscam como pagar as dívidas ou aumentar patrimônio."

Os resultados dúbios das outras rodadas de estímulo podem motivar alguns congressistas a reclamar do novo plano, que propõe baixar o imposto previdenciário retido na fonte de 6,2% para 4,2% para rendimentos até US$ 107 mil por ano. Isso inclui pessoas que ganham milhões por ano, embora seja menos provável que elas aumentem o consumo por causa de um corte de impostos como esse.

O acordo alcançado entre Obama e os republicanos inclui uma extensão de 13 meses no seguro-desemprego, que venceu este mês. Esses pagamentos são amplamente considerados uma das formas de estímulo mais efetivas, porque os desempregados tendem a gastar praticamente toda essa renda.

O governo afirmou que outra proposta, para permitir que as empresas descontem da carga tributária todos os investimentos de 2011, pode gerar mais US$ 50 bilhões em investimentos no ano que vem. Isso reduziria os impostos das empresas em 2010 e poderia aumentá-los futuramente, mas muitos analistas acreditam que o efeito seria limitado a empresas com capacidade ociosa que já têm fontes de crédito a juros baixos.

O plano inteiro, que eleva a dívida do governo em quase US$ 1 trilhão, pode esquentar o debate sobre o corte do déficit federal. "Isso vai aumentar muito o foco na redução do déficit", disse Anne Mathias, analista da MF Global. "O fato de que não conseguimos a disciplina fiscal para lidar com essas questões dificulta muito uma redução verdadeira do déficit."

Ontem, em parte por temor com a dívida, investidores venderam títulos do governo dos EUA, fazendo com que o rendimento do papel de dez anos do Tesouro subisse a 3,13%, ante 3,01% na véspera.