domingo, 9 de janeiro de 2011

Fundamento da ação não é nada sem timing de mercado, diz Spinelli

Por: Thiago Salomão
InfoMoney


SÃO PAULO – Trabalho em equipe, atenção ao timing e “um pouquinho de sorte”. Esses são alguns dos elementos que ajudaram a equipe de research  da Spinelli a registrar um ótimo desempenho em sua carteira recomendada em 2010. Com ganhos de 20,48%, o portfólio da corretora fechou o ano na terceira posição no ranking elaborado pelo Portal InfoMoney, superando não apenas o Ibovespa como também o desempenho médio das carteiras monitoradas pela InfoMoney nesses 12 meses (+11,4%).

“Tivemos um feedback bastante positivo por conta do nosso resultado no ano, inclusive dos parceiros institucionais que trabalham conosco”, disse Max Bueno, responsável pela cobertura do setor de commodities na Spinelli, ressaltando ainda que o bom desempenho relatado em 2010 também tem ajudado a corretora a atrair novos clientes.

Como é feita a seleção das ações da carteira?
Com foco principal na análise fundamentalista, Bueno explica que o principal fator na hora de incluir ou retirar um ativo do portfólio de recomendações é a perspectiva de crescimento de lucro dessa empresa. “Primeiro a gente busca identificar os drivers de valor de cada empresa, ou seja, os fatores-chave que levam a empresa a aumentar sua geração de caixa ou seu lucro”, explica o analista.

Identificado esses drivers, leva-se em consideração se eles já estão precificados ou não pelo mercado. “Embora as vezes enxerguemos um cenário positivo para um setor ou uma empresa, esses fundamentos podem já estar precificados, tornando o ponto de entrada não muito favorável”, explica.

Por conta disso que o analista diz que é preciso dar bastante importância para o “timing” do mercado, tanto na compra quanto na venda de uma ação. “Acho isso muito importante para uma performance, talvez mais ainda do que os fundamentos da empresa”, afirma Bueno.

A importância do timing fica evidente quando conseguimos identificar uma ação com boas perspectivas de crescimento mas, mesmo assim, ela acaba não tendo a performance esperada – ou seja, o mercado não compartilhou da mesma expectativa. “Quando identificamos um ativo atrasado em relação aos seus pares, a percepção do mercado a esse evento leva algum tempo. É necessário que o mercado e os investidores comprem essa tese de investimentos e dirijam o fluxo para esse ativo. E aí que a gente ganha”, explica Bueno.

Tendo em vista que os mercados muitas vezes demoram para absorver uma distorção injustificada nos preços, o analista da Spinelli prega paciência ao investidor na hora que pensar em desfazer sua posição. “As vezes você coloca um ativo na carteira e no primeiro mês e ele tem uma performance negativa, mas no mês seguinte ele mais do que compensa essas perdas”, explica.

Resultados e fusões: jogando a favor da rentabilidade da carteira
Embora as premissas anteriores sejam prioritárias no processo de análise da equipe de research da Spinelli, o analista também destaca alguns eventos não recorrentes que podem acabar impulsionando a rentabilidade mensal da carteira recomendada. Um desses fatores ocorre a cada trimestre do ano, quando as empresas divulgam seus balanços corporativos.

Nesse cenário, o importante é buscar companhias que passam por um bom momento e que isso se traduza em resultados positivos, explica Bueno. Com isso, a performance do portfólio pode acabar ganhando impulso com o bom momento gerado após a divulgação do balanço.

O analista também comenta sobre a possibilidade de auferir ganhos em meio a especulações ou rumores de mercado, sobretudo referente a fusões e aquisições de empresas. Quando essas suspeitas se tornam verdade, o que é frequentemente visto é uma forte valorização nas ações da companhia adquirida. Bueno vê na identificação de possíveis aquisições um bom driver para fortalecer os ganhos da carteira recomendada.

Liquidez: diferencial, mas não uma condição
Partindo para outro tema importante no processo de escolha de um ativo para a carteira, Bueno deixa claro que, embora tenha preferência por aplicar em blue chips, o fato de uma ação possuir mais liquidez do que outra é considerado um diferencial, mas não uma condição para participar do portfólio.

“Não temos preconceito com small caps, contanto que o papel mantenha um volume em torno de R$ 1 milhão por dia, para que clientes maiores possam montar ou desfazer posições em um período curto de tempo sem causar grandes distorções na cotação”, explica o analista.

Qual o melhor momento para modificar o portfólio?
Passando agora para a fase de remanejamento das ações em carteira, Bueno chama atenção para importantes referências não só da análise fundamentalista como também da análise técnica – embora deixe claro que a prioridade fica com a interpretação dos múltiplos, deixando em segundo plano a avaliação gráfica dos ativos.

Um dos fatores que podem indicar uma boa hora para modificar o portfólio é justamente a diferença entre os múltiplos de uma ação em comparação com o restante do setor. Encontrando ativos nessa situação, o analista procura identificar motivos que justifiquem essa diferença. “Não encontrando justificativas, avaliamos se vale a pena incorporar o ativo na carteira (caso ele esteja atrasado) ou retirar (caso ele esteja acima da média do setor)”, explica.

Partindo para a análise técnica, Bueno costuma olhar para o que os grafistas chamam de objetivo do papel, ou seja, qual é a tendência mais provável que a ação terá de acordo com o seu gráfico. “Quanto mais próximo dos suportes, mais atrativo o papel, mas quanto mais próximo de suas máximas, menos atrativos eles ficam”, pondera.

Além da análise de suportes e resistências, Bueno também costuma utilizar o indicador gráfico conhecido como IFR (Índice de Força Relativa), que basicamente mostra quanto o papel está sobrecomprado ou sobrevendido.

Forte 2010 não inibe otimismo para 2011
Mesmo com excelente performance da carteira recomendada em 2010 e com as perspectivas de um desempenho melhor do Ibovespa em 2011, a equipe da Spinelli segue otimista com seu portfólio, enxergando espaço para novas performances acima do benchmark. “Acho que isso está diretamente ligado à capacidade de nossa equipe identificar em grupo as oportunidades e aproveitá-las num timing adequado, e isso é resultado de estudo, acompanhamento, dedicação e preparo”, afirma Bueno.

Sobre as perspectivas para o Ibovespa em 2011, ele ressalta que, independentemente se os mercados esperam um ano favorável ou desafiador para a bolsa de valores, sempre terá ações que performarão o Ibovespa. “A ideia é conseguir identificar esses papéis”, comenta.

Para este ano, Bueno diz que a equipe de research da Spinelli manterá a mesma gestão que norteou a performance da carteira em 2010. “Esperamos que a gente consiga nos próximos anos superar ou pelo menos igualar a performance obtida em 2010”, diz o analista.

Um pouco de sorte não faz mal a ninguém
Mesmo com tantas premissas que são levadas em consideração na hora de escolher um ativo, Bueno ressalta que, assim como para muitas outras coisas na vida, é sempre bom ter o fator “sorte” ao nosso lado. “Apesar de trabalho, estudos e preparo, quando a gente opera em mercado em que os eventos e as oscilações são extremamente imponderáveis, a gente sempre tem que acabar contando com um pouquinho de sorte”, finaliza.