quinta-feira, 31 de março de 2011

Quanto custa o futuro?

Mais investimentos em pesquisa e desenvolvimento são fundamentais, se o Brasil quiser mesmo ser grande

Por Simão Mairins, www.administradores.com.br


É quase consenso entre organismos e especialistas de todo o mundo que o Brasil, em alguns anos, será uma das cinco maiores potências do planeta. Bons resultados no mercado internacional e a blindagem demonstrada na crise econômica fortaleceram essa opinião e ajudaram a deixar o governo ainda mais otimista. No entanto, o crescimento comemorado atualmente segue caminhos duvidosos e a sustentabilidade da boa fase ainda é uma incógnita.



No Brasil de hoje já não se fala mais em país do futuro, mas, sim, do presente. Só que, quando o assunto é economia, uma coisa não pode estar dissociada da outra. A sustentabilidade, a longo prazo, da boa fase vivida atualmente, depende estritamente do que se faz agora. Será que o Brasil está mesmo no caminho certo?



Exportador de commodities



Entre os chamados Brics – bloco de emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia e China – os dois últimos têm despontado na frente, investindo pesado em inovação tecnológica e formação de mão de obra. Com essas características, ambos, principalmente a China, estão se consolidando como fortes exportadores de bens industrializados. Enquanto isso, o Brasil se fortalece como um dos maiores fornecedores mundiais de commodities, ou seja, bens de valor agregado muito baixo, como minérios e produtos agrícolas.



Posicionado de tal maneira no mercado internacional, o Brasil assume dois riscos sérios. O primeiro é o de ter um desequilíbrio na balança comercial, porque os países que importam commodities brasileiras vendem de volta produtos manufaturadas por valores superiores.



Outro problema é que nenhuma das grandes economias do mundo (nem as que despontam atualmente) se constituiu como tal sem uma sólida indústria de bens de consumo. No entanto, o Brasil ainda depende, majoritariamente, do agronegócio e da indústria de base.



Hoje, o país começa a investir em formação de profissionais, com a ampliação do número de universidades e de escolas técnicas, mas os resultados ainda devem demorar um pouco. Segundo João Maria de Oliveira, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea, a Coréia do Sul levou cerca de 20 anos para colher os frutos dos investimentos feitos em formação de mão de obra para seu mercado.



Registro de patentes



Outra questão fundamental para o posicionamento do Brasil no mercado internacional de forma sólida é o registro de patentes. Na economia liberal, a propriedade de processos e tecnologias é um dos principais fatores responsáveis pela competitividade nos mercados, e quem desenvolve e patenteia sai na frente.



"O registro de patente que está sendo feito agora é que vai determinar o posicionamento de uma empresa no futuro", disse João Maria, em conferência promovida pelo Ipea para jornalistas. Ele explica que muitas empresas no mundo investem em pesquisas no intuito de desenvolver tecnologias e patenteá-las visando um nicho que pode ser criado no futuro.



No Brasil, no entanto, a indústria investe menos de 1% de seu faturamento em pesquisa e desenvolvimento, número bastante inferior, por exemplo, ao da Alemanha, que investe 2,6%, segundo dados do Ipea.



O índice brasileiro de investimentos em pesquisa e desenvolvimento está acima da média latino-americana, mas ainda é, majoritariamente, de origem pública. Segundo gráficos do Ipea, de 0,91% do PIB brasileiro que é investido nesse campo, mais da metade parte dos governos.



O setor de petróleo e gás, através da Petrobras, é, no Brasil, o que mais detém patentes, e coloca o país em uma posição de vanguarda na área, no plano internacional. Mesmo assim, o Brasil responde por menos de 0,1% do total de produtos ou processos patenteados no mundo.



Pesa ainda o fato de o processo de registro de patentes no Brasil ser muito lento, o que, além de dificultar o posicionamento das tecnologias nacionais no mercado externo, gera uma situação de insegurança jurídica internamente.



O órgão federal responsável pelo registro de patentes no Brasil é o INPI – Instituto Nacional da Propriedade Industrial, que é encarregado, também, pelo registro de marcas no país, processo que, da mesma forma, é criticado pela morosidade. Confira a matéria que fizemos sobre este assunto clicando aqui.