terça-feira, 11 de outubro de 2011

Menos é mais

Marcelo Nakagawa - Professor de empreendedorismo e inovação
Brasil Econômico

Tive um choque quando entrei no dormitório que iria ficar durante uma semana em um curso de verão em Babson College, que fica na região de Boston, em julho passado. Uma escrivaninha, cadeira e um guarda-roupa simples de madeira.

Sobre a cama, um colchão e um saco plástico com travesseiro, fronha e um lençol que parecia feito de gaze de tão fino. Ainda bem que iria ficar sozinho. Não iria ser fácil dividir "tudo" aquilo. Já tinha sido avisado que deveria trazer o resto, como toalhas, sabonete e shampoo.

Só não sabia que o banheiro era coletivo. "Ainda bem que não tinha trazido sabonete líquido. Vai que o danado cai no chão". Pensei em voltar para o super hotel que tinha deixado em Boston com seus travesseiros de pluma de ganso, lençol de fios egípcios, banheiro individual, opções de chá, café, cappuccino e cookies.

Mas estava como convidado, não poderia fazer uma desfeita dessas e não seria uma semana, mas apenas cinco dias.

Só lembrei disso porque, na semana passada um dos empreendedores que ajudo disse que teve que sair às pressas para comprar uma cadeira grande para oferecer para o consultor que iria trabalhar por dois meses em sua empresa como voluntário.

O problema era que o sujeito tinha quase 2 metros e nenhuma cadeira da empresa era adequada. Já conhecia outras iniciativas semelhantes, mas este programa da Ernst & Young era diferente.

A empresa desloca alguns dos seus principais executivos mundiais para trabalhar em tempo integral por dois meses em uma empresa associada à Endeavor no mundo. Mas o que um grande executivo pode aprender em um pequeno negócio?

Também na semana passada fui convidado a participar de um programa de formação de executivos da General Electric. A empresa selecionou alguns dos seus executivos mais seniores ao redor do mundo e enviou ao Brasil para vivenciar como empreendemos e inovamos.

Mas o que você mostraria para uma das empresas mais inovadoras do mundo, cujo faturamento ultrapassa US$ 150 bilhões? Bom, mostramos histórias de pessoas que fizeram muito com muito pouco.

Histórias como a de Valério Dornelles, fundador da Tecno Logys, uma das empresas mais inovadoras no Brasil, que vende paredes por m2 ou de Luis Chicani, fundador da DentalCorp, empresa que virou case em Harvard. Chicani está em sua quarta empresa, que vende serviços de saúde e bem estar para as classes mais populares por meio de um cartão pré-pago.

Fiquei impressionado como os executivos prestavam atenção nas histórias contadas pelos empreendedores. Havia uma nova forma de educação executiva ali.

Quando atingimos alguma situação de conforto só passamos a nos preocupar em buscar mais conforto. O simples se torna complexo, o útil se torna fútil e passamos a incluir o "não" no início das frases. Não posso, não pode, não vai dar, não está no orçamento, não foi previsto.

E pior: Pessoas em situações confortáveis sentem sono! Mas quando estamos em situação de limitação de recursos, o não nós já temos. Não tinha televisão no meu dormitório.

E daí? Que tal sair para conversar com os colegas vendo o pôr-do-sol? Não tinha o que fazer de manhã cedo? Que tal correr pelo bosque ou nadar na academia? Não tem recurso para fazer algo na sua empresa? Que bom! Vai ter que ser criativo!