quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

China é principal risco estrutural para o Brasil, diz CSHG

Em relatório que leva nome de música sobre fim do mundo, Luis Stuhlberger avalia os "mitos" do crescimento sustentado chinês e destaca os principais problemas da Europa

Olívia Alonso, iG São Paulo 

A China, apesar de ser o maior comprador das exportações do Brasil, configura hoje um dos principais riscos estruturais para a economia brasileira, avalia Luis Stuhlberger, responsável pela área de Asset Management da Credit Suisse Hedging-Griffo (CSHG). Em apresentação intitulada "It´s the end of the world as we know it. And I feel fine!" ("É o fim do mundo como o conhecemos. E eu me sinto bem!"), em referência à música de mesmo nome da banda REM, ele destaca os principais pontos de preocupação para o País, os problemas das economias europeias e comenta que os Estados Unidos, por sua vez, estão em recuperação.

Os principais riscos para a economia brasileira, na avaliação de Stuhlberger, estão relacionados a "mitos" da economia chinesa. Enquanto costuma-se prever que a China terá 1 bilhão de consumidores em 2030, o que significaria um gigantesco mercado consumidor não apenas para o Brasil, mas para todo o mundo, ele diz que, na verdade, o crescimento demográfico está se tornando negativo no país. No mesmo sentido, enquanto se previa que o país asiático passaria por uma mudança para uma economia de consumo, com redução da poupança, o que se observa é o aumento da poupança de empresas e a continuidade da dependência do comércio internacional e do investimento.

Outro mito citado por ele é o dos investimentos em infraestrutura. Se antes era comum ouvir que os recursos chineses são bem direcionados, a realidade é que o país está construindo "elefantes brancos" e fazendo uma má alocação de recursos, diz o analista. Ele cita ainda o mito das "forças das reservas internacionais" chinesas, afirmando que o excesso de reservas é, na realidade, um sinal dos "desequilíbrios globais". Como é um grande comprador de commodities brasileiras, qualquer sinal de deterioração das estruturas econômicas da China acaba sendo uma notícia negativa para o Brasil.

O executivo da CSHG também diz que há um aumento excessivo do crédito e um super investimento no setor imobiliário chinês e rebate a tese de que as ações de empresas vão se beneficiar do forte crescimento da economia, afirmando que "o retorno das ações e o crescimento do PIB não são positivamente correlacionados."

O analista pondera, entretanto, que "apesar dos temores, [a China] ainda tem uma história positiva," o que pode favorecer o Brasil, ainda que não seja o suficiente para eliminar os riscos. Segundo ele, é difícil imaginar que o retorno do investimento chinês seja negativo a ponto de não "ser pago". Ele diz ainda que a urbanização ainda é um fator estrutural favorável, uma vez que apenas cerca de 45% da população chinesa vive em cidades. Além disso, Stuhlberger diz que o apetite chinês por commodities deve "se manter voraz", com o país em crescimento. Ele destaca que 47,7% da demanda global por minério de ferro – um dos principais itens exportados pelo Brasil – é da China.


Stuhlberger acrescenta ainda que a dependência brasileira da China vem aumentando e que, se não fossem os chineses, o deficit em conta corrente do Brasil seria bem maior do que os atuais 2% do PIB.

Além da China, ele também aponta problemas internos brasileiros que configuram riscos ao País, como a falta de competitividade da indústria, o sistema de previdência insustentável e a taxa de investimento público do Brasil, que é de apenas 2,4% do PIB. Em porcentagem das receitas primárias da nação, os aportes são somente 7%, valor que coloca o Brasil na frente apenas da Hungria e da Argentina em uma lista com 27 países emergentes. Stuhlberger também cita a alta carga tributária brasileira, que chega a 34,4%, enquanto a média de outros países emergentes é de 25,1%.

Europa e EUA

Em uma breve avaliação sobre as economias europeias, o responsável pela área de gestão de ativos da CSHG diz que a impossibilidade de emitir moeda é um grande problema europeu e que a raiz da situação atual da região é o "diferencial de produtividade." Citando dados de pesquisa do Morgan Stanley e da Haver Analytics, ele compara o custo do trabalho no setor manufatureiro em cinco países europeus. Enquanto a França tem um valor unitário de 100, a Alemanha consegue gastar apenas 85, enquanto Portugal, Itália e Espanha têm valores superiores a 120. Além disso, ele mostra que em um ranking global de crescimento da produtividade nos últimos 10 anos, os quatro últimos colocados são europeus: Itália, França, Espanha e Portugal.

Ele mostra menos preocupação com os Estados Unidos. Na visão dele, "os temores de um 'duplo mergulho' eram exagerados." Ele afirma que o crescimento norte-americano está em recuperação, que a demanda do setor privado no país voltou a crescer 4% ao ano e que o mercado imobiliário "parece ter se estabilizado." Pela primeira vez desde 2005, diz Stuhlberger, o setor habitacional poderá contribuir para o PIB dos EUA em 2012.