Por Marcos Troyjo
Diretor do BRICLab da Columbia University e professor do IBMEC
Se um curto-circuito da História nos permitisse regressar duas décadas – época da importante Rio-92 – veríamos como a topografia do cenário mundial mudou nesses 20 anos.
Em 1992, as relações internacionais parametrizavam-se pelos seguintes pressupostos:
(i) a extinção da União Soviética e o subsequente "Fim da História", concebido por Francis Fukuyama, levariam a uma era de conjunção entre democracia representativa e liberalismo econômico.
(ii) acabada de vez a Guerra Fria, os EUA eram alçados à condição de "hiperpotência".
(iii) a ascensão econômica da Ásia tinha o Japão à frente.
(iv) o mundo se reorientava em torno de blocos econômicos regionais, sendo a integração européia o caso paradigmático de sucesso.
Ora, no limiar de 2012, estes parâmetros se alteraram para um cenário em que observamos:
(i) conflitos e tensões "multiplataformas" (terrorismo, crítica intra-Ocidente à ordem liberal, ciber-vandalismo). Em lugar do "Fim da História", a emergência de "Poli-Histórias".
(ii) os EUA em crise existencial pela Grande Recessão de 2008 e o pesado legado da Guerra contra o Terror e as custosas incursões no Iraque e Afeganistão.
(iii) a ascensão da Ásia liderada pela China.
(iv) o estacamento das dinâmicas de integração regional e o ressurgimento do Estado-Nação como protagonista.
Neste quadro, visualiza-se o renascimento das relações "internacionais" (aqui entendidas como relações entre nações). Quando o conflito bipolar entre EUA e URSS encerrou-se em 1989, o período global que se seguiu foi tão indefinido que analistas o chamaram de "Pós-Guerra Fria".
Hoje, com a retração dos vetores globalizantes, podemos dizer que estamos na "Pós-Globalização". Para o Brasil, este cenário oferece grandes oportunidades.
No âmbito continental, o Brasil pode superar barreiras ideológicas e voltar a liderar uma cooperação hemisférica ao lado dos EUA que lhe permita acesso privilegiado ao mercado interno americano. Essa atitude contrabalançaria a ênfase que os EUA hoje atribuem ao Pacífico asiático e a seu desengajamento de assuntos europeus e do Oriente Médio.
No plano multilateral, não há macro-ambiente mais propício para uma reforma das Nações Unidas que democratize o Conselho de Segurança, aí incluindo o Brasil como sócio permanente. A voz brasileira no fortalecimento da OMC também pode ser ouvida em tom ampliado num mundo que clama por mais governança global.
Na esfera do "soft power", o Brasil tem combatido injustiças históricas mediante programas de inclusão que não apenas alargam as faixas da classe média, mas tornam-se referência para África e América Latina.
O grande desafio brasileiro neste novo cenário reside em delimitar o que seja seu próprio interesse. Definir projeto de poder, prosperidade e prestígio. Saber o que quer do mundo.
Temos de nos conscientizar que, ainda que leve uns poucos anos, o ciclo de reajustes nos EUA e na Europa se concluirá. O mundo entrará numa "neoglobalização" ainda mais permeada por tecnologias.
Se utilizarmos a plataforma agroenergética não como fonte "desindustrializadora", mas trampolim gerador de excedentes para investimento num mundo intensivo em conhecimentos, são imensas as chances do Brasil lucrar com os novos meridianos globais.
Diretor do BRICLab da Columbia University e professor do IBMEC
Se um curto-circuito da História nos permitisse regressar duas décadas – época da importante Rio-92 – veríamos como a topografia do cenário mundial mudou nesses 20 anos.
Em 1992, as relações internacionais parametrizavam-se pelos seguintes pressupostos:
(i) a extinção da União Soviética e o subsequente "Fim da História", concebido por Francis Fukuyama, levariam a uma era de conjunção entre democracia representativa e liberalismo econômico.
(ii) acabada de vez a Guerra Fria, os EUA eram alçados à condição de "hiperpotência".
(iii) a ascensão econômica da Ásia tinha o Japão à frente.
(iv) o mundo se reorientava em torno de blocos econômicos regionais, sendo a integração européia o caso paradigmático de sucesso.
Ora, no limiar de 2012, estes parâmetros se alteraram para um cenário em que observamos:
(i) conflitos e tensões "multiplataformas" (terrorismo, crítica intra-Ocidente à ordem liberal, ciber-vandalismo). Em lugar do "Fim da História", a emergência de "Poli-Histórias".
(ii) os EUA em crise existencial pela Grande Recessão de 2008 e o pesado legado da Guerra contra o Terror e as custosas incursões no Iraque e Afeganistão.
(iii) a ascensão da Ásia liderada pela China.
(iv) o estacamento das dinâmicas de integração regional e o ressurgimento do Estado-Nação como protagonista.
Neste quadro, visualiza-se o renascimento das relações "internacionais" (aqui entendidas como relações entre nações). Quando o conflito bipolar entre EUA e URSS encerrou-se em 1989, o período global que se seguiu foi tão indefinido que analistas o chamaram de "Pós-Guerra Fria".
Hoje, com a retração dos vetores globalizantes, podemos dizer que estamos na "Pós-Globalização". Para o Brasil, este cenário oferece grandes oportunidades.
No âmbito continental, o Brasil pode superar barreiras ideológicas e voltar a liderar uma cooperação hemisférica ao lado dos EUA que lhe permita acesso privilegiado ao mercado interno americano. Essa atitude contrabalançaria a ênfase que os EUA hoje atribuem ao Pacífico asiático e a seu desengajamento de assuntos europeus e do Oriente Médio.
No plano multilateral, não há macro-ambiente mais propício para uma reforma das Nações Unidas que democratize o Conselho de Segurança, aí incluindo o Brasil como sócio permanente. A voz brasileira no fortalecimento da OMC também pode ser ouvida em tom ampliado num mundo que clama por mais governança global.
Na esfera do "soft power", o Brasil tem combatido injustiças históricas mediante programas de inclusão que não apenas alargam as faixas da classe média, mas tornam-se referência para África e América Latina.
O grande desafio brasileiro neste novo cenário reside em delimitar o que seja seu próprio interesse. Definir projeto de poder, prosperidade e prestígio. Saber o que quer do mundo.
Temos de nos conscientizar que, ainda que leve uns poucos anos, o ciclo de reajustes nos EUA e na Europa se concluirá. O mundo entrará numa "neoglobalização" ainda mais permeada por tecnologias.
Se utilizarmos a plataforma agroenergética não como fonte "desindustrializadora", mas trampolim gerador de excedentes para investimento num mundo intensivo em conhecimentos, são imensas as chances do Brasil lucrar com os novos meridianos globais.