terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Depois da globalização

Por Marcos Troyjo
Diretor do BRICLab da Columbia University e professor do IBMEC

 
Se um curto-circuito da História nos permitisse regressar duas décadas – época da importante Rio-92 – veríamos como a topografia do cenário mundial mudou nesses 20 anos.

Em 1992, as relações internacionais parametrizavam-se pelos seguintes pressupostos:

(i) a extinção da União Soviética e o subsequente "Fim da História", concebido por Francis Fukuyama, levariam a uma era de conjunção entre democracia representativa e liberalismo econômico.

(ii) acabada de vez a Guerra Fria, os EUA eram alçados à condição de "hiperpotência".

(iii) a ascensão econômica da Ásia tinha o Japão à frente.

(iv) o mundo se reorientava em torno de blocos econômicos regionais, sendo a integração européia o caso paradigmático de sucesso.

            Ora, no limiar de 2012, estes parâmetros se alteraram para um cenário em que observamos:

(i) conflitos e tensões "multiplataformas" (terrorismo, crítica intra-Ocidente à ordem liberal, ciber-vandalismo). Em lugar do "Fim da História", a emergência de "Poli-Histórias".

(ii) os EUA em crise existencial pela Grande Recessão de 2008 e o pesado legado da Guerra contra o Terror e as custosas incursões no Iraque e Afeganistão.

(iii) a ascensão da Ásia liderada pela China.

(iv) o estacamento das dinâmicas de integração regional e o ressurgimento do Estado-Nação como protagonista.

            Neste quadro, visualiza-se o renascimento das relações "internacionais" (aqui entendidas como relações entre nações). Quando o conflito bipolar entre EUA e URSS encerrou-se em 1989, o período global que se seguiu foi tão indefinido que analistas o chamaram de "Pós-Guerra Fria".

            Hoje, com a retração dos vetores globalizantes, podemos dizer que estamos na "Pós-Globalização".  Para o Brasil, este cenário oferece grandes oportunidades.

            No âmbito continental, o Brasil pode superar barreiras ideológicas e voltar a liderar uma cooperação hemisférica ao lado dos EUA que lhe permita acesso privilegiado ao mercado interno americano. Essa atitude contrabalançaria a ênfase que os EUA hoje atribuem ao Pacífico asiático e  a seu desengajamento de assuntos europeus e do Oriente Médio.

            No plano multilateral, não há macro-ambiente mais propício para uma reforma das Nações Unidas que democratize o Conselho de Segurança, aí incluindo o Brasil como sócio permanente. A voz brasileira no fortalecimento da OMC também pode ser ouvida em tom ampliado num mundo que clama por mais governança global.

            Na esfera do "soft power", o Brasil tem combatido injustiças históricas mediante programas de inclusão que não apenas alargam as faixas da classe média, mas tornam-se referência para África e América Latina.

            O grande desafio brasileiro neste novo cenário reside em delimitar o que seja seu próprio interesse. Definir projeto de poder, prosperidade e prestígio. Saber o que quer do mundo.

Temos de nos conscientizar que, ainda que leve uns poucos anos, o ciclo de reajustes nos EUA e na Europa se concluirá. O mundo entrará numa "neoglobalização" ainda mais permeada por tecnologias.

Se utilizarmos a plataforma agroenergética não como fonte "desindustrializadora", mas trampolim gerador de excedentes para investimento num mundo intensivo em conhecimentos, são imensas as chances do Brasil lucrar com os novos meridianos globais.