sexta-feira, 29 de junho de 2012

Brasil aceita negociar acordo comercial com a China

Documento, que será divulgado hoje pelo Itamaraty, antes mesmo de vir à público já deixa industriais ressabiados. Empresários temem perder ainda mais participação do mercado nacional.

Por Gustavo Machado, Brasil Econômico

O Brasil e o Mercosul aceitaram a proposta da China de iniciar discussões para desenvolver um acordo comercial entre as regiões.

A decisão acontece durante o aquecido debate sobre a falta de competitividade da indústria brasileira, que já começa a fazer coro contra o acordo.

Ainda insípido, o documento que será divulgado hoje pelo ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, impõe como meta expandir para US$ 200 bilhões a corrente comercial entre Mercosul e China até 2016.

Em 2011, a comercialização entre os países das regiões alcançou algo em torno de US$ 120 bilhões. Só o Brasil representa 65% desse valor.

Os países do Mercosul também concordaram em aumentar os limites de crédito para financiar importações chinesas, facilitar o investimento direto do gigante asiático e definir uma agenda de reuniões entre as nações.

A primeira delas, diz um dos diretores do Itamaraty, deve ser realizada já no segundo semestre deste ano.

Mal o documento havia sido definido, alguns setores industriais já chiavam contra o acordo. Mario Branco, diretor de relações internacionais da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), critica o momento escolhido para retomar as negociações.

"Ninguém do governo questiona os empresários para saber se isso será benéfico ou não. Estamos perdendo participação dentro do nosso próprio mercado para os produtos chineses e eles ventilam a possibilidade de ter livre comércio com a China?", questiona Branco.

Para o executivo, o país precisa fazer a lição de casa antes de abrir portas para o gigante asiático. "Somente o setor de eletro-eletrônicos já possui um déficit comercial de US$ 10 bilhões em 12 meses. Isso acontece com toda a indústria. Me preocupa o tamanho do déficit que pode ser gerado com este acordo."

Para Josefina Guedes, sócia da consultoria de comércio exterior Guedes, Bernardo, Imamura e Associados, o Brasil trocará a indústria nacional pela chinesa caso o tratado avance.

"Voltaremos à época do colonialismo. Qualquer acordo não tem respaldo da indústria. Enquanto o governo não fizer a parte dele, e reduzir carga tributária, melhorar infraestrutura e todos os problemas que conhecemos, qualquer acordo com a China significará abandonar o parque industrial brasileiro", decreta.

Júlio Gomes de Almeida, diretor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), declara ser inviável qualquer tratado com um país que possui uma moeda tão subvalorizada quanto o iuane.

"A diferença entre a sobrevalorização do real e a subvalorização do iuane chega chega a 60 pontos percentuais. Isso significa que qualquer produto chinês tem só a metade do preço do nacional. Seria a morte para a indústria."

Ivan Ramalho, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Comércio Exterior (Abece), ao contrário de seus colegas, vê com bons olhos as negociações. "Esse acordo é inevitável. 80% das importações é feita pela própria indústria brasileira. Ela ganharia nesta ponta, a da produção, além de abrir um mercado complicado", diz.