quarta-feira, 20 de junho de 2012

O modelo asiático acabou?

Marcos Troyjo
Diretor do BRICLab da Universidade Columbia e professor do Ibmec

Antoine Von Agtmael, antigo funcionário da IFC (International Finance Corporation) creditado como formulador do termo "Mercados Emergentes", defende em recente texto na revista 'Foreign Policy' que o Milagre Asiático estaria acabando. Será que isso é verdade? Guru de investimentos, Agtmael argumenta que mercados mundiais mais protecionistas e custos de mão-de-obra crescentes estariam minando as vantagens relativas da Ásia.

A retomada econômica do Japão após a II Guerra Mundial, turbinada pelo Plano Marshall, gerou repetidos ganhos de produtividade esalariais para os japoneses. Com o consequente aumento nos custos da mão-de-obra no Japão, nos últimos 40 anos transferiram-se empreendimentos para países mais tarde conhecidos como "tigres asiáticos". Esta dinâmica fez da Ásia região especializada em "adaptação criativa" -- que convidada a um perfil fortemente exportador. Nascia assim o "Modelo Asiático".

Tal modelo lograva basicamente produzir versões mais baratas -- e muitas vezes mais eficientes -- de tecnologias existentes, e alcançaram excelência na exportação de produtos manufaturados. Graças a esse modelo, os japoneses há um tempo tornaram-se os maiores exportadores de bens de capital para os EUA -- posição em que foram ultrapassados recentemente pela China. Esta, por seu turno, é o principal destino de exportações de bens de capital de um outro ilustre ínterprete do "modelo" -- a Coreia do Sul.

Outra interessante característica do Modelo Asiático é o desapego ao chamado "core business". A pujança de conglomerados multissetoriais é uma das principais marcas da economia sul-coreana, chinesa e japonesa.  A sul-coreana Samsung tem 86 áreas de negócios. A BYD chinesa faz carros elétricos e telas de computador. A Mitsubishi japonesa produz foguetes espaciais e automóveis de passeio.

O Modelo Asiático foi, em verdade, interpretação específica de um modelo mais amplo, o da "Nação-Comerciante", estratégia que prioriza mercados externos e atração de investimentos estrangeiros diretos (IEDs) como principais trampolins para a prosperidade. Este modelo, com suas adaptações pertinentes, também foi plenamente utilizado em países como Alemanha e Chile. Contrasta com o modelo de "Nação-Passivo", que privilegia mercado consumidor interno e proteção paternalista de indústrias locais, além de combinar baixas taxas domésticas de poupança e investimento.

Em sua vertente asiática, tal modelo não está acabando, mas evoluindo. Constituiu-se como grande instrumento gerador de excedentes. O investimento em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D)  na Ásia e a subsequente expansão de patentes e exportações mais sofisticadas é boa prova de tal evolução. Hoje a China já investe 1,5% de seu PIB em P&D, o Japão 2,7% e a Coreia do Sul 3,3% (mais do que o triplo do Brasil, que despende apenas 1%).

Com essa importante base de capitais e conhecimentos alcançados, os países asiáticos encontram-se em melhor posição para moldar seu próprio futuro. Este, para que seja exitoso, demandará algo além da disciplina que também distingue os asiáticos: doses crescentes de liberdade e empreendedorismo -- requisitos imprescindíveis das sociedades movidas por inovação.