terça-feira, 5 de junho de 2012

Reestruturar o comércio exterior

Por Marcos Troyjo - Diretor do BricLab da Universidade Colúmbia e professor do Ibmec
Brasil Econômico

A crise global pode fazer com que as estratégias de desenvolvimento de Brasil e China percorram trajetórias diagonalmente opostas. Por um lado, os chineses devem abandonar um pouco a ênfase em exportações como motor do crescimento.

Buscam igualmente baixar o elevado teto de poupança interna, estimulando o consumidor chinês a comprar mais. O keynesianismo à Pequim, no entanto, continuará a turbinar o investimento na já bastante extensa e competitiva infraestrutura.

Por outro lado, o Brasil, com o arrefecimento do real, pode assumir um perfil mais exportador. E aí reaparece a questão de nossa estrutura organizacional para lidar com o comércio exterior e a atração de investimentos produtivos.

Este é um desafio que vai além da política externa e da diplomacia tradicional. Deve ser prioridade na definição das estratégia de inserção global do Brasil. Mais do que iniciativas voltadas a poder ou prestígio internacionais, deveríamos priorizar em nossos esforços externos o projeto de prosperidade do país.

Aumentar o fluxo de exportações e importações como percentual do PIB é elemento constitutivo de um tal projeto. Hoje, o comércio exterior representa apenas uns 17% do PIB brasileiro. Para China e Coreia do Sul, são mais de 50%.

Nesse contexto, tínhamos de promover, como sempre salienta o experiente embaixador Rubens Barbosa, a unificação do comando da política de comércio exterior e atração de IEDs para o Brasil.

Hoje esta interlocução encontra-se dispersa e desarticulada na Esplanada dos Ministérios. Commodities e bens de baixo valor agregado, que têm caracterizado a pauta brasileira de exportações, não demandam grandes esforços de comercialização. São portanto "mais comprados do que vendidos".

Numa conjuntura cambial que pode facilitar as exportações brasileiras de bens de maior valor adicionado, é de novo hora de recolocar a discussão dos contornos - e rumos - de nosso organograma de comércio exterior.

Formulação, negociação, promoção e solução de contenciosos são quatro fases da dinâmicas de comércio internacional extremamente complexas. Precisamos de mais gente, mais coordenação e mais foco.

E temos de fazer uso mais eficiente, em termos de promoção e de investimentos, da rede de embaixadas e consulados do Brasil no exterior. Ela deveria tornar-se verdadeira "vitrine" de tudo que de melhor o Brasil tem de oferecer ao mundo.

Poderiam também ser "antenas" de oportunidades científico-tecnológicas, ainda mais nesse momento em que o Brasil implementa programas como o "Ciência sem Fronteiras" e o tema da inovação parece ter entrado de vez na tela de radar das preocupações brasileiras.

É portanto essencial que a nova competitividade da moeda brasileira seja acompanhada de estrutura mais atualizada e robusta para nossos objetivos comerciais.

Estas iniciativas voltadas a um projeto de prosperidade são mais importantes do que a incerta entrada do Brasil nos clubes mais exclusivos de um sistema de organizações multilaterais claramente defasadas.