terça-feira, 21 de agosto de 2012

Brasil precisa mudar os vetores de crescimento

Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco, minimiza baixo crescimento do país neste ano e afirma: "O Brasil cresceu o que o mundo nos permitiu crescer".

Por Niviane Magalhães, Brasil Econômico

Após o Brasil crescer gradualmente nos últimos 10 anos, impulsionado pelo crédito farto, com avanço de 30% ao ano, políticas sociais, com 50 milhões de novos brasileiros no mercado de consumo, moeda valorizada e alta na renda, o país deve mudar os vetores de expansão.

De acordo com Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco, esses pilares precisam ser reavaliados para buscar mais competitividade, com menos juros, melhores condições de financiamento e reformas na produtividade.

"Durante anos, a carga tributária nos ajudou a crescer, mas agora estamos falando de desonerações. A indústria brasileira está parada desde março de 2010 e devemos ter queda de 2,5% na produção deste ano", destaca Barros.

No entanto, para o ano que vem, as perspectivas são boas. Segundo o economista-chefe, a indústria do país deve crescer 3% por causa do conjunto de políticas de estímulos setoriais, câmbio depreciado, juros menores e medidas protecionistas que, no curto prazo, beneficiam a economia, que deverá crescer 4% em 2013.

"Os estoques voltaram a patamares normais. Além disso, o faturamento real do setor não está no mesmo ritmo da produção e isso tem ajudado muito", aponta.

Neste ano, ele mostra que fatores atípicos irão afetar o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB). Entre eles, estão a forte seca que atingiu as exportações brasileiras, com o PIB do setor agrícola caindo 8,5% no primeiro semestre, crise da construção residencial, com preços altos e queda na demanda, problemas com bancos pequenos e médios e a crise argentina que impactou as exportações.

"Com isso, as exportações terão crescimento próximo de zero neste ano e em relação à China o patamar está negativo em 12 meses. No entanto, não tenho dúvida quanto à recuperação da economia, mas será gradual", diz Barros.

Para 2013, a perspectiva é positiva, com o segmento agrícola registrando o melhor ano de sua história por causa de um ciclo regular de chuvas e preços mais altos.

Em relação aos investimentos, o economista-chefe estima que, após ficarem estagnados neste ano, a projeção é de alta de 7%. Somente a parte dos estrangeiros, o valor deverá passar de R$ 60 bilhões neste ano para R$ 63 bilhões no que vem.

Perspectiva mundial

Na opinião de Octavio Barros, a crise financeira na Europa não é nada comparável a de 2009. Para ele, os investidores aguardam que a Espanha irá pedir um resgate ainda nesta semana e que o Banco Central Europeu (BCE) irá atuar de forma mais efetiva.

Por outro lado, o grande foco agora é a Alemanha, que irá divulgar o PIB nesta semana. "A Alemanha sempre foi a grande locomotiva da Europa e agora está se flexibilizando. Não cabe extravagâncias, pois os bancos do país possuem cerca de € 210 bilhões nas economias emergentes. Não deve haver ruptura na Europa, mas sim uma desaceleração", explica.

Para o segundo semestre, a projeção é de melhora e apesar de estimativa de queda de 0,5% na economia da Zona do Euro, a perspectiva para 2013 é de avanço de 0,5%.

Para os Estados Unidos, o prognóstico está melhor. "Os mercados estão mais confiantes com os dados de consumo e de mão de obra, apesar das incertezas eleitorais e fiscais, mas os fundamentos econômicos mostram um renascimento industrial", pontua o economista.

Ele destaca ainda que os Estados Unidos terão papel importante na retomada mundial e que a economia do país deverá crescer 2,5% no próximo ano.

Já a China, que é o maior investidor no Brasil nos últimos três anos, deverá ter expansão abaixo de 8%. "Ela não vai cumprir o mesmo papel de locomotiva na economia mundial porque enfrentam uma grave crise industrial", completa Barros.