segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Brasil-China: bom ou ruim?

Por Marcos Troyjo

Em maio de 2004, durante visita de estado à China, o presidente Lula disse a uma plateia de empresários (na maioria brasileiros): "a China é um shopping center de oportunidades". 

Na ocasião, o comércio Brasil-China era de US$ 9 bilhões. Hoje, beira US$ 90 bilhões. Será então que aproveitamos as oportunidades? 

O correto é dizer que commodities -- predominantes nas exportações brasileiras -- não são vendidas, mas compradas. Demandam menor esforço de promoção comercial.  

Esse grande salto no comércio exterior deveu-se ao apetite pantagruélico que a China tem por commodities agrícolas e minerais em que o Brasil dispõe de vantagens comparativas. É o caso dos três principais produtos de exportação aos chineses: minério de ferro, petróleo e soja. 

A exuberância no comércio Brasil-China fez com que muitos estabelecessem certa lógica automática: somos "sinodependentes". Um vagão atrelado à locomotiva chinesa. E tal percepção é para o bem e para o mal.

Bastou o anúncio há poucos dias da surpreendente expansão do PIB chinês no terceiro trimestre, à ordem de 7,8%, para que humores globais sobre o Brasil melhorassem. 

No entanto, supõe-se que a evolução da economia chinesa daqui adiante vulnerabilizaria o Brasil em duas frentes. 

A primeira: a China deve crescer na próxima década 7% anuais -- aparente esfriamento ante os mais de 10% ao ano observados de 1978 até a Crise Global de 2008, com efeitos  constrangedores sobre a demanda chinesa.

A segunda: muito do investimento chinês em sua infraestura já teria sido feito. Portanto menor procura por commodities minerais, com impactos negativos para o Brasil.

As janelas de oportunidade, no entanto, continuam abertas. Crescer 7,5% sobre base de US$ 8,7 trilhões (atual PIB chinês) representa o mesmo que crescer 20% ao ano uma década atrás. São US$ 600 bilhões incrementais que a China contribui à economia global a cada 12 meses.

É difícil, ante esse quadro, pensar numa demanda chinesa tímida. Para as commodities agrícolas, basta imaginar o impacto que cada US$ 100 a mais na renda per capita geram em termos de consumo de calorias.

O mesmo para commodities minerais. Os chineses continuarão gastando pesadamente em infraestrutura como medida contracíclica à baixa atividade econômica global. E mesmo com todo investimento em complexos logísticos e urbanos dos últimos 30 anos, há muito por fazer.

É por isso que, em 2013, apesar de toda conversa de desaquecimento, o Brasil deve vender mais minério de ferro e soja à China do que em anos anteriores. E só não exporta mais petróleo em razão dos conhecidos problemas de produção.

As principais resultantes de nossa sinodependência não serão, portanto, sequelas de suposto desaquecimento chinês. 

O problema é que os superávits comerciais de nossa competitividade agromineral têm financiado custosos experimentos de política industrial, cujos resultados até agora são pouco expressivos.

E, com a presença da China no mapa da demanda global, tornamo-nos preguiçosos na busca de acordos com outros grandes mercados compradores como EUA e Europa.