segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A competição global entre elites

Por Marcos Troyjo
 

O peso de um país nas relações internacionais se dá em três patamares. Força dissuasiva de defesa. Prosperidade de seus cidadãos e empresas. Influência projetada por valores intangíveis. Em todos, a inovação é cada vez mais determinante. E inovação é algo produzido por elites.
 
Modos de pensar e agir que opõem "Norte/Sul", "mercado interno/externo", "empresas ou universidades públicas/privadas", "manutenção/transformação de empregos" tornam sociedades reféns do imobilismo. Isso está bem argumentado desde o pioneiro Schumpeter até Acemoglu & Robinson e seu indispensável livro Por que as Nações Fracassam.
 
Seu resultado é irrelevância no campo do poder tradicional. Baixa densidade tecnológica de sua economia. Soft power limitado. A saída se dá basicamente com elites liderando uma ou outra estratégia de inovação: destruição criativa ou adaptação criativa.
 
A primeira faz com que a economia esteja sempre em "caos evolutivo". Na dinâmica de constante mutação, apenas os inovadores sobrevivem. A substituição da máquina-de-escrever pelo computador é típico exemplo de destruição criativa. Rica no começo do século 20 graças à agropecuária, a Argentina – de elite educada, mas pouco afeita à inovação – iniciou o terceiro milênio relativamente pobre. Os EUA ascenderam desde o século 19 com elite radicalmente inovadora. Tornaram-se a nação mais rica e poderosa do mundo.
 
A segunda significa fazer o mesmo que o líder, mas com inovação nos custos de trabalho, logística, e velocidade. Este o rumo adotado por elites asiáticas. O que empresas sul-coreanas realizam em setores como televisores, smartphones ou automóveis são típicos exemplos de inovação por adaptação criativa. A grande arrancada chinesa desde 1978 também se deu por maciça adaptação criativa.
 
O problema é que muitos países, empresas e elites acomodam-se a conjunturas que favorecem a substituição de importações ou modelos agroexportadores. Daí, "adaptar-se" vira caminho para obsolescência e conservadorismo.
 
Ao contrário do que possa parecer, a inovação por destruição criativa não é o produto da centelha de gênios. Ela demanda elites visionárias e apaixonadas por seu país. Elites funcionais são as que unem patriotismo e planejamento estratégico – algo raro na tela de radar dos que dirigem o Brasil.
 
Não basta amplo contingente oriundo do ensino médio ou escolas técnicas. Educação universal é obrigação cívica. No entanto, inovação não é medida em horas na sala de aula, mas no que se faz de concreto e inovador com a educação recebida. Portanto inovação é produzida por elites e é o produto de elites.
 
Elites inovadoras levam seus países à combinação de "quatro elementos constitutivos" da destruição criativa. Capital, conhecimento, empreendedorismo e ambientes de negócios conducentes à inovação.
 
O insumo mais determinante da inovação é o capital humano de alta qualidade – o escasso recurso chamado talento. No limite, a grande corrida global deste século 21 nada mais é do que uma competição entre elites.