quarta-feira, 23 de abril de 2014

China, Brasil e as Leis de Newton

Por Marcos Troyjo
 
Desde que apanhar o rato tornou-se mais importante que a cor do gato, a China cresceu a média anual de 10%. Com as reformas introduzidas por Deng Xiaoping em 1979, a China dobrou o tamanho de sua economia a cada 8 anos.
Não se discute mais a hipótese da economia chinesa tornar-se a maior do mundo. Debate-se apenas quando isso acontecerá.

O assunto é de imensa importância estratégica para grande parte dos países em desenvolvimento. A ascensão chinesa permitiu a alguns deles reproduzir os padrões de comércio internacional que mantiveram com potências europeias durante o século 19.

À época, a Inglaterra era a grande bússola para a formação da demanda mundial. O crescimento inglês, sustentado por inovação, produtividade e comércio exterior, demandava bens agrícolas e minerais inexistentes no Reino Unido. A expansão britânica automaticamente puxava para cima preço e volume de commodities exportadas para as economias centrais da Europa.

O que observamos – com maior nitidez ainda no período de 2003 a 2010 –, foi que a ascensão dramática da economia chinesa e o apetite pantagruélico por matérias-primas ofereceram uma "reminiscência" desse modelo semicolonial.
Já são bastante conhecidos os desdobramentos do fenômeno sobre o crescimento de países como o Brasil. Por um lado, comércio bilateral com os chineses que ora atinge volume de US$ 90 bilhões. Por outro, concentração, por parte das exportações brasileiras, em bens de baixo valor agregado.  

Quando desponta no horizonte o chamado "pouso forçado" da economia chinesa, os efeitos colaterais sobre a perspectiva de crescimento brasileiro e, mais especificamente, na performance de empresas como a Vale no mercado de ações, são corrosivos. Em 2004, a China crescia 13,1%. Neste ano, estima-se expansão de 7,5%. Fica claro que a desaceleração é grande, não?

O fato porém é que as economias não impactam globalmente por conta de sua "aceleração", mas por sua "força". É como se o papel relativo de um país no mundo também fosse determinado pela Segunda Lei de Newton. Ou seja, força é igual a massa vezes a aceleração.

Se apenas aceleração bastasse, a Mongólia, cujo crescimento médio anual no último triênio é de 15%, seria a grande estrela da economia global. Seu PIB, no entanto, é de apenas US$ 11,5 bilhões.

Quando, há dez anos, a China crescia 13,1%, seu PIB totalizava US$ 2 trilhões. Sua contribuição incremental à economia global era de US$262 bilhões. Hoje, com "massa" de PIB de US$ 9 trilhões, expandir-se a 7,5% representa acréscimo de US$ 675 bilhões ao produto mundial.

Sobre o Brasil também operam as Leis de Newton. Apesar do crescimento murcho dos últimos anos, somos ainda a segunda maior economia emergente. Portanto, se o Brasil acelerar, a dimensão da "massa" brasileira também repercutirá muito no resultado de nossa "força".

Para isso, será preciso desvencilhar-se da armadilha Estado-capitalista de baixo investimento e inspiração autárquica. Se o fizer, o Brasil superará a Primeira Lei de Newton – a da inércia.