promissor em expectativa de emprego no 1º trimestre de 2011
20/12/2010 - 20:41 - Antonio Machado
O Brasil importando trabalhadores dos EUA? Incrédulo, o repórter do
tradicional programa 60 Minutes, exibido no último domingo pela rede
de TV CBS, insistiu com o seu entrevistado, o empresário Eike Batista,
que ratificou: a petroleira de seu grupo, em que o nome das empresas
tem a letra x, sinal de multiplicar, está recrutando soldadores, entre
outros, para virem trabalhar na Bacia de Campos.
Não há surpresa: a Petrobras há muito tempo recruta mão-de-obra no
exterior para trabalhar na exploração de petróleo no Brasil. É gente
especializada, carente no país, e cada vez mais demandada.
O que faltava era alguém com status de bilionário, o que nos EUA
confere credibilidade, desde que não seja banqueiro, aparecer num
programa popular e de alta audiência para confrontar a realidade dura
vivida pelos americanos à afluência do ex-Terceiro Mundo.
Falar de pleno emprego, conforme a explicação de Eike para a rede
CBS, num país em que a taxa de desemprego beira os 10% como não se via
há muito tempo, é como zombar da desgraça alheia. E ele não se fez de
rogado, segundo descreve a revista americana Forbes, que o apresenta
como o "8º homem mais rico do mundo", conforme o ranking anual da
própria publicação. "Já criamos, este ano, 1,5 milhão de empregos",
disse Eike, que ainda fez graça: "É inacreditável".
Eike errou por um milhão: pelos dados do Caged (Cadastro Geral de
Empregados e Desempregados), até novembro foram criados mais de 2,5
milhões de empregos. E a taxa de desemprego caiu para 5,7%, o patamar
em que se encontravam os EUA pré-recessão, iniciada no fim de 2007 e
já superada, mas sem repercussão no mercado de trabalho.
A roda da fortuna rodopiou depois da grande crise global, e hoje, a
cada rodada de infortúnios das economias desenvolvidas, sempre volta
para um grupo seleto de países emergentes, com China, Índia e Brasil
revezando-se nas manchetes da imprensa econômica mundial.
Não é que EUA, a Europa do euro e o Japão, o antigo trio de ferro das
potências econômicas a partir da 2ª Guerra, tenham entrado em
decadência. Os seus problemas de dívida e de déficit maciços, alto
custo de produção, comparado aos emergentes, e também o excesso de
capacidade ociosa no mundo é que tomarão muito tempo até que sejam
sanados, enquanto os novos ricos já entraram energizados na crise.
Emprego é aqui mesmo
Tais movimentos divergentes aparecem nas medidas de desempenho do
Produto Interno Bruto (PIB) de cada um, mas é o emprego a variável
relevante para se aferir a situação dos países.
Na única pesquisa com abrangência global, da empresa de recrutamento
e administração de recursos humanos Manpower, envolvendo 64 mil
empregadores em 39 países, Brasil desponta como o 4º mercado mais
promissor em termos de expectativa de emprego para o primeiro
trimestre de 2011.
A pesquisa da Manpower amplifica o que exibem os dados do Caged e o
mapa do emprego do IBGE. No fim de novembro, ela indagou a 858
empregadores, incluindo órgãos públicos, sobre o que aconteceria com
sua força de trabalho no primeiro trimestre de 2011 em relação ao
trimestre atual. E repetiu a pergunta em 39 dos 82 países em que tem
operações. Resultado: o Brasil surge no topo da pesquisa.
4 em 10 vão contratar
A metodologia da Manpower subtrai da expectativa de contratações no
primeiro trimestre (40% dos entrevistados) o percentual dos que
projetam redução da folha (4%), resultando na projeção de que 36% das
empresas - 5 pontos percentuais mais que em igual período de 2010 –
preveem aumento líquido de seu quadro de pessoal. Os outros 47%
disseram não prever nem demissões nem novas contratações.
Com quatro em cada dez empregadores indicando que vão aumentar o
quadro de empregados no próximo trimestre, o Brasil se equipara ao que
ocorre na Ásia, a região maior crescimento econômico do mundo.
Inchaço ameaça avanços
Os primeiros postos da pesquisa são da Ásia, com a Índia passando a
China, com 47% das empresas projetando aumento do emprego para o
início de 2011. China vem logo atrás, com 40%. E Taiwan, com 37%,
aparece colada ao Brasil, o 4º colocado.
A rabeira é ocupada pelos países desenvolvidos. Mas Alemanha e EUA
com, respectivamente, 11% e 9% de suas empresas prevendo contratações
depois de janeiro, dão sinais de que bateram no fundo do poço e
começam a voltar à tona.
É esse o desafio do governo Dilma: manter o nível de emprego com
controle da inflação. Depois de anos em crise, o setor privado não tem
que se sacrificar. É o governo que inchou, e requer uma dieta até para
preservar os avanços sociais. O abacaxi sobrou para ela.
A audácia do Congresso
Os processos de crescimento, quando assimétricos, criam confusão,
como o desbalanceamento entre os superávits da China e os déficits dos
EUA. No Brasil há algo assim.
A renda per capita em Brasília, onde o Estado é o maior empregador, é
o dobro da média nacional e também superior à de São Paulo, que
concentra o parque industrial e as sedes dos bancos. Mas o que é ruim
sempre pode ficar pior.
O Congresso aprovou aumentos salariais de 61,8% para deputados e
senadores, sem respaldo na inflação, sem provisão orçamentária, e os
estendeu ao presidente da República e ministros, criando, além disso,
efeito cascata nos estados e municípios.
Suas Excelências, em fim de mandato, sem nenhum aviso, elevaram seus
salários de R$ 16,7 mil para R$ 26,7 mil. E são 15 salários/ano. Vai
ficar assim?