segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Ouro: conheça os diferentes contratos deste ativo listados na BM&F

Por: Juliana Pall Farias

A intensificação da crise subprime nos últimos meses levou muitos investidores a procurar diversificação de suas aplicações em produtos conservadores, que focam a preservação do capital. Um dos ativos que mais se enquadrou nestes quesitos foi o ouro. Prova disto é que a intensificação na procura pela commodity levou as cotações a patamares recordes nos mercados internacionais.

Tradicionalmente, o ouro ganha maior evidência em períodos de crise, por ser tida como uma reserva de valor. O investidor brasileiro ainda é pouco familiarizado com este ativo, contudo, aplicar é muito mais simples do que parece.

Qualquer categoria de investidor pode participar deste mercado, com o número de contratos adequado a seu capital, já que não há qualquer restrição deste tipo. Basta apenas se credenciar em uma corretora filiada à BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros) e dar início aos negócios.

O caminho do ouro até virar ativo financeiro
Antes de entender os diferentes contratos de ouro negociados na BM&F, é importante ter claro o conceito de ouro enquanto ativo financeiro. Após extraído das minas, o ouro é entregue a uma fundidora, responsável pelo processo de refino e produção das barras. Estas barras são lacradas e postas em invólucro, e só então ganham um código e uma certificação de garantia.

Finalizado este processo, as barras certificadas são entregues a uma instituição financeira - fiel depositária - que passa a ser responsável pela custódia do ouro. Esta instituição pode emitir certificados de garantia, que nada mais são do que papéis que garantem a seu proprietário o direito ao ouro representado pelo certificado. Estes certificados de garantia, negociados na Bolsa de Mercadorias e Futuros, representam o ouro enquanto ativo financeiro.

O caminho inverso também pode ser feito. Um investidor pode comprar certificados de garantia e querer retirá-lo da instituição custodiante. Neste processo, a commodity perde seu lacre e deixa de ser um ativo financeiro, passando à forma de um produto físico como qualquer outro. Contudo, feito este processo, para o ouro novamente retornar a ser ativo financeiro é necessário voltar à ponta deste ciclo, ou seja, a fundidora, e o investidor deve arcar com todo o custo de refino, fundição e certificação.

Os diversos contratos negociados na BM&F
Como explica Verdi Rosa Monteiro, diretor de Desenvolvimento e Fomento de Mercado da BM&F, o contrato mais negociado e com maior volume é o lote-padrão de 250 gramas de ouro no mercado spot. Este mesmo lote-padrão encontra contratos futuros e opções de compra e venda (pelas quais o investidor adquire o direito, mas não a obrigação, de negociar o ativo em um determinado preço fixo num período futuro).

Há ainda os contratos a termo, que, ao contrário das opções, delega a seu portador o compromisso de negociar o ativo num período futuro. A BM&F também disponibiliza ao investidor o contrato fracionário de 10 gramas, pelo qual é possível montar um lote padrão (25 contratos fracionários representam um lote padrão de 250 gramas). Apesar de não haver restrição para a negociação dos contratos fracionários, o resgate junto às instituições custodiantes pode ser feito apenas em lotes padrão.

O último dos contratos negociados na BM&F, o fracionário de 0,225 grama, tem como maior característica o ajuste a diferentes níveis de pureza. Suponha que você adquiriu um certificado que representa uma barra de ouro de 250 gramas cujo padrão de pureza é 49. Neste grau de pureza, sua barra de ouro é multiplicada pelo fator 0,9999, ou seja, 250 gramas x 0,9999, resulta em 249,975 gramas de ouro fino.

Contudo, no mercado brasileiro o padrão de pureza mais comum é o 39, que delega a multiplicação da barra pelo fator 0,999, resultando em 249,75 gramas de ouro fino. A diferença entre os fatores de pureza 49 e 39 é exatamente 0,225 grama, montante negociado neste contrato fracionário que serve de ajuste nestas transações.

O fator liquidez
O alerta de Verdi Rosa Monteiro vai para a baixa liquidez deste ativo. O fato de o ouro ter se apresentado como um dos ativos mais rentáveis nos últimos meses não deve ser visto como motivo para fuga maciça de recursos. Na hora de se desfazer destas posições, o investidor pode não encontrar liquidez suficiente. A diversificação da carteira, contando com outros ativos além do ouro, é a alternativa mais recomendada na visão do diretor de Desenvolvimento e Fomento de Mercado da BM&F.

Na avaliação de Verdi, foi-se o tempo em que o ouro representava um grande mercado no Brasil. No período em que antecedeu a criação do Plano Real, o investidor tinha poucas alternativas de investimento indexadas ao dólar - devido ao mecanismo de arbitragem com o mercado internacional realizado na época. Contudo, o ouro não incorpora mais as expectativas com relação ao câmbio, sem contar que agora os investidores encontram no mercado outras opções para se operar no mercado cambial, o que restringe a liquidez da commodity.