segunda-feira, 24 de março de 2008

Há explicações suficientes para o petróleo próximo de US$ 110 por barril?

Por: Rodolfo Cirne Amstalden

Enquanto o dólar vai se desvalorizando frente às principais moedas internacionais, o barril de petróleo dispara, aproximando-se do impressionante recorde de US$ 110.

A relação inversa entre a divisa norte-americana e o combustível é quase tautológica. Se a unidade monetária na qual um ativo está denominado perde valor, é natural que haja uma compensação.

No entanto, especialistas do setor energético, impressionados com a rapidez e a magnitude da alta nos preços, avaliam se a compensação explica integralmente esse movimento. Visões mais críticas indicam que o "efeito-dólar" divide espaço com outros fatores relevantes.

O efeito-Opep
A disparada nos preços do barril também é decorrente de estratégias financeiras adequadas à crise. Investidores se posicionam na commodity - um ativo real bastante popular - visando se proteger da perda de patrimônio em aplicações mais arriscadas.

Na verdade, essa explicação financeira está entre as preferidas da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), enquanto seus membros se esquivam de um aumento das cotas de produção.

Atualmente, o enfoque em preços altos defendido por Algéria e Venezuela predomina dentro da Organização. Esses países argumentam que o movimento atual não tem razões estruturais; portanto, não pede expansão da oferta. Assim, é muito mais provável que as cotas se mantenham estáveis, ou até caiam, durante os próximos meses.

Mesmo assim
Mesmo se a Opep aumentasse sua produção, dificilmente o petróleo retomaria patamares abaixo de US$ 100. A demanda energética na Ásia tende a garantir cotações elevadas, independente de um cenário de recessão nos EUA.

Em complemento, a capacidade adicional da Organização é questionada dentro do mercado. A aparente falta de investimentos no segmento de Extração & Produção implica insegurança para o suprimento em médio e longo prazo.

Dentro do heterogêneo cartel, muitos membros carecem da tecnologia necessária para explorar novas reservas. Sinal de que a estrutura de reinversões na cadeia petrolífera parece alheia às oportunidades geradas pelo barril a US$ 110.