Por: Adriele Marchesini
Os números crescentes de financiamento do carro zero-quilômetro, responsáveis por vendas recordes, devem causar, nos próximos dois anos, no mercado brasileiro um problema parecido com o subprime norte-americano: uma inadimplência generalizada, que afetará a comercialização de veículos novos. A avaliação é de Olivier Girard, especialista em Infraestrutura, Logística e Transporte da Trevisan Consultoria.
"A facilidade do crédito faz as pessoas esquecerem que não terão de pagar apenas a parcela, mas também outros gastos, como seguro, IPVA [Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores], combustível, manutenção", afirmou. "Além disso, em vez de comprar um modelo 1.0, com R$ 100 a mais por mês, é possível comprar um 1.4. Por mais R$ 20 por mês, dá para colocar ar-condicionado no carro. E as pessoas acabam, de pouco em pouco, fazendo parcelas maiores do que poderiam", continuou.
Descontrole financeiro
A situação se agravaria com o passar do tempo. Atualmente, o prazo máximo para financiamento do auto é de 84 meses - ou sete anos - podendo chegar a 99 meses - ou mais de oito anos -, em casos de promoções de concessionárias. "Se o consumidor se comprometeu com uma parcela muito alta e, por isso, não conseguir contratar um seguro, pode acontecer muita coisa nesse tempo: o carro pode ser roubado, bater e dar perda total. E a pessoa terá de continuar pagando."
Além disso, a possibilidade de perder o controle do orçamento durante o período é grande: além de automóveis, é possível tomar crédito para comprar diversos outros produtos, de televisões até casas. E, para o consultor da Trevisan, uma forma de voltar a equilibrar as contas seria a devolução do carro ao seu alienador.
Com isso, o mercado de usados ficaria aquecido, resultando em diminuição no preço dos modelos disponíveis. As vendas de zero-quilômetro seriam comprometidas, por conta da economia proporcionada pela compra de um veículo de segunda mão - e não tão velho.
Opinião contrária
"Concordo que as pessoas esquecem dos demais gastos com veículo, mas não acho que haverá uma inadimplência generalizada daqui a uns anos", opinou Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças). "Isso ocorrerá apenas se houver um problema de recessão e desemprego no País, possibilidades que não existem, pelo menos por enquanto", continuou.
Conforme o executivo, alguns consumidores realmente acabam por tomar crédito sem organizar o orçamento, mas eles não são maioria entre os mutuários. Em sua avaliação, com quedas nas taxas de juros - que atualmente são altas e rondam os 2% ao mês -, é possível que o mercado brasileiro ofereça financiamentos de até dez anos para a aquisição de carros.
Números do setor
Dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) divulgados na última segunda-feira (10) mostraram que, em fevereiro, foram licenciados mais de 200 mil carros, mostrando um crescimento de 36,8% sobre o mesmo mês de 2007.
Por enquanto, o não-pagamento não é motivo de preocupação entre as alienadoras. De acordo com levantamento da Anef (Associação Nacional das Financeiras das Montadoras), o saldo das carteiras de financiamento e arrendamento de veículos cresceu 43,5% em 2007, atingindo o valor de R$ 110,7 bilhões ante R$ 77,1 bilhões em 2006. Já a inadimplência chegou a 3,01% no ano passado, mostrando uma queda de 26 pontos-base em relação a 2006, quando atingiu 3,27%.
Os números crescentes de financiamento do carro zero-quilômetro, responsáveis por vendas recordes, devem causar, nos próximos dois anos, no mercado brasileiro um problema parecido com o subprime norte-americano: uma inadimplência generalizada, que afetará a comercialização de veículos novos. A avaliação é de Olivier Girard, especialista em Infraestrutura, Logística e Transporte da Trevisan Consultoria.
"A facilidade do crédito faz as pessoas esquecerem que não terão de pagar apenas a parcela, mas também outros gastos, como seguro, IPVA [Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores], combustível, manutenção", afirmou. "Além disso, em vez de comprar um modelo 1.0, com R$ 100 a mais por mês, é possível comprar um 1.4. Por mais R$ 20 por mês, dá para colocar ar-condicionado no carro. E as pessoas acabam, de pouco em pouco, fazendo parcelas maiores do que poderiam", continuou.
Descontrole financeiro
A situação se agravaria com o passar do tempo. Atualmente, o prazo máximo para financiamento do auto é de 84 meses - ou sete anos - podendo chegar a 99 meses - ou mais de oito anos -, em casos de promoções de concessionárias. "Se o consumidor se comprometeu com uma parcela muito alta e, por isso, não conseguir contratar um seguro, pode acontecer muita coisa nesse tempo: o carro pode ser roubado, bater e dar perda total. E a pessoa terá de continuar pagando."
Além disso, a possibilidade de perder o controle do orçamento durante o período é grande: além de automóveis, é possível tomar crédito para comprar diversos outros produtos, de televisões até casas. E, para o consultor da Trevisan, uma forma de voltar a equilibrar as contas seria a devolução do carro ao seu alienador.
Com isso, o mercado de usados ficaria aquecido, resultando em diminuição no preço dos modelos disponíveis. As vendas de zero-quilômetro seriam comprometidas, por conta da economia proporcionada pela compra de um veículo de segunda mão - e não tão velho.
Opinião contrária
"Concordo que as pessoas esquecem dos demais gastos com veículo, mas não acho que haverá uma inadimplência generalizada daqui a uns anos", opinou Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças). "Isso ocorrerá apenas se houver um problema de recessão e desemprego no País, possibilidades que não existem, pelo menos por enquanto", continuou.
Conforme o executivo, alguns consumidores realmente acabam por tomar crédito sem organizar o orçamento, mas eles não são maioria entre os mutuários. Em sua avaliação, com quedas nas taxas de juros - que atualmente são altas e rondam os 2% ao mês -, é possível que o mercado brasileiro ofereça financiamentos de até dez anos para a aquisição de carros.
Números do setor
Dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) divulgados na última segunda-feira (10) mostraram que, em fevereiro, foram licenciados mais de 200 mil carros, mostrando um crescimento de 36,8% sobre o mesmo mês de 2007.
Por enquanto, o não-pagamento não é motivo de preocupação entre as alienadoras. De acordo com levantamento da Anef (Associação Nacional das Financeiras das Montadoras), o saldo das carteiras de financiamento e arrendamento de veículos cresceu 43,5% em 2007, atingindo o valor de R$ 110,7 bilhões ante R$ 77,1 bilhões em 2006. Já a inadimplência chegou a 3,01% no ano passado, mostrando uma queda de 26 pontos-base em relação a 2006, quando atingiu 3,27%.