terça-feira, 11 de março de 2008

Investment grade trará apenas 2% de alta às ações brasileiras, diz Merrill Lynch

Por: Juliana Pall Farias

O que tempos atrás era um importante driver do mercado acionário brasileiro se tornou menos atrativo em 2008. Para o banco de investimentos Merrill Lynch, ainda que a obtenção do grau de investimentos traga uma série de resultados positivos a nosso mercado, a confirmação do investment grade traria um upside de apenas 2% às ações do país, como resultado da convergência aos múltiplos de outros mercados emergentes.

Há dois anos, este potencial era de 20%. Tal limitação se deve ao fato, de acordo com o banco, de grande parte deste provável retorno já ter se materializado ao longo de 2007, com o mercado antecipando a notícia. Ainda assim, o Brasil atualmente é o terceiro mercado na América Latina mais descontado em relação aos demais emergentes, com o México encabeçando esta lista.

No caso brasileiro, os vetores do mercado já são, de acordo com a Merrill Lynch, "velhos conhecidos" dos investidores: expectativa de alcance do grau de investimento e redução nas taxas reais de juro.

Na avaliação de Felipe Illanes e Virgílio Castro Cunha, economistas do banco de investimentos, a elevação do rating brasileiro pelas agências de risco ainda em 2008 é provável, porém, não é certo. Assim, a instituição trabalha com a projeção de conquista do grau de investimento num espaço de 12 meses.

O que muda no mercado brasileiro com o investment grade
Por mais que este retorno seja reduzido, por estar em grande parte já precificado, a Merrill Lynch avalia que, com o investment grade, o spread entre os Treasuries e os títulos da dívida pública brasileira iria se reduzir a patamares próximos do visto no México, o que, alinhado às projeções frente ao juro básico norte-americano - a aposta do banco é que a Fed Funds Rate encerre 2008 em 1% ao ano - resultaria em menores taxas de desconto no mercado brasileiro.

Na renda fixa, este cenário traria o fortalecimento da moeda doméstica, em resposta ao fluxo de recursos que ingressaria no país com o investment grade, o que ancoraria as expectativas inflacionárias e abriria caminho para a redução da taxa básica de juro do país, a Selic. A combinação destas variáveis traria uma melhora no perfil de risco do país, e incentivaria os investidores a tomar posições de prazos mais longos.

Já no que diz respeito à renda variável, os benefícios do grau de investimentos serão vistos, de acordo com o banco de investimentos, no estímulo ao consumo conseqüente ao menor custo, extensão de prazos e maior acesso ao crédito. Um dos setores mais favorecidos com estes estímulos seria o de infra-estrutura.

Telecomunicações e Energia & Saneamento são, atualmente, os segmentos da Bovespa cujos papéis listados apresentam os maiores descontos frente aos benchmarks de mercados emergentes. Para a Merrill Lynch, tal desconto deve se perpetuar, como resposta aos impasses governamentais em ambos esses setores.

Os riscos ao grau de investimento
O banco lista a deterioração do quadro fiscal brasileiro e a possibilidade de alta na Selic como os dois principais fatores que poderiam retardar o investment grade. O choque de demanda, oriundo da expansão na procura interna por bens em ritmo mais acentuado que a expansão da capacidade produtiva, poderia levar o Banco Central a elevar o juro básico do Brasil, cenário que não é tido com grande probabilidade de materialização pelo banco de investimentos.

No que diz respeito à questão fiscal, o alerta vai para a perda de R$ 40 bilhões em arrecadação com a extinção da CPMF sem que o governo demonstre grande empenho em cortar gastos públicos visando a continuidade dos programas na área social.