sexta-feira, 21 de março de 2008

Merrill Lynch: Fed falhou em prevenção da crise; agora, é hora de administrá-la

Por: Juliana Pall Farias

Para os mais otimistas, que acreditam que o Federal Reserve fará o que for necessário para conter a crise no mercado de crédito, o banco de investimentos Merrill Lynch traz duas constatações.

A primeira delas é que as medidas adotadas pela autoridade monetária norte-americana não transcendem a constatação dos problemas. A segunda, "arduamente óbvia" nas palavras de David Rosenberg, economista da instituição, é que as atuações do Fed desde 17 de agosto do ano passado, com a expansão da janela de redesconto, até o leilão de US$ 200 bilhões anunciado no último dia 11, falharam em seu objetivo de prevenir a instauração de uma crise.

O momento agora é de transição, de prevenção para administração da crise. Os próximos passos, na avaliação da Merrill Lynch, devem ser dados em busca de se prevenir um contágio generalizado no sistema financeiro, ou um "efeito-dominó". Porém, isto não significa que o Fed agirá de maneira a proteger todo o sistema, favorecendo uma ou outra instituição. Até porque a autoridade não tem o poder de resolver todos os problemas que envolvem o setor.

O Fed tem suas limitações
Entre ampliação da janela de redesconto, cortes agressivos na Fed Funds Rate e oferta de cerca de US$ 1 trilhão, as políticas do Banco Central dos EUA se limitam a prover liquidez ao mercado e influenciar o custo do capital.

Não está no alcance do Federal Reserve recapitalizar o setor bancário, renovar a confiança dos investidores ou mesmo prevenir a precificação dos ativos atrelados a papéis contaminados pelo subprime. As perdas serão embutidas nestes papéis, e parte do processo de resolução da crise remete à liquidação das instituições financeiras sem estrutura para suportar tal processo de precificação.

O foco da autoridade monetária norte-americana, nesta fase de administração da crise, deve ser, essencialmente, prover liquidez no mercado. Mas a Merrill Lynch alerta: liquidez não substitui capital.

Japão ou Suécia: qual modelo o Fed deve adotar?
Na avaliação do banco de investimentos, esta nova etapa, de administração da crise, deverá, necessariamente, transcender o Federal Reserve e contar também com suporte governamental. Resta apenas saber qual modelo de solução de crise financeira será adotado nos EUA: o japonês ou sueco.

Estas duas economias passaram por problemas em seus respectivos sistemas financeiros na década de 1990. A diferença está na forma que foi executada a administração da crise, o que leva a Merrill Lynch a separar o que deve ser feito do que não deve ser feito pelo Fed.

No Japão, as autoridades postergaram por anos o anúncio dos problemas enfrentados pelos bancos do país. Levou quase uma década para que os formadores de política monetária abrissem caminho para a quebra das instituições "contaminadas".

Já no caso sueco, quando foi constatado que não era mais possível prevenir uma crise no sistema bancário, os agentes, além de correr em busca de forte intervenção do governo, trataram de definir a magnitude da crise, distinguir individualmente a estrutura de ativos das instituições e administrar, de maneira distinta, a crise enfrentada pelas financeiras "contaminadas". O resultado: a estabilidade do sistema financeiro foi retomada em três anos.

A lição aprendida
Mas isto não significa que o processo de administração da crise bancária foi fácil. A economia do país enfrentou 20 meses de recessão, a demanda doméstica se contraiu em torno de 2,5%, o mercado acionário sueco acusou 28 meses de tendência declinante com o principal benchmark de sua bolsa de valores acumulando perda de 45%.

Contudo, três anos após a normalização do sistema financeiro, tanto a atividade econômica quanto o mercado acionário atingiam recordes históricos. Ao contrário do Japão, que até hoje não recuperou o nível de atividade econômica doméstica visto há 12 anos, com o índice Nikkei ainda 68% abaixo de seus patamares antecedentes à crise.

Da avaliação dos problemas financeiros enfrentados por Japão e Suécia, a Merrill Lynch apresenta a lição aprendida: a transição rápida e eficiente do processo de prevenção para administração da crise é fundamental para a solidez econômica e financeira no longo prazo.