sexta-feira, 21 de março de 2008

Em tempos de subprime, risco-país é muito mais risco-EUA que risco-Brasil

Por: Rodolfo Cirne Amstalden

No acumulado de 2008, o risco-país subiu de 212 pontos-base para cerca de 300 pontos. A variação é bastante tímida se comparada a outras percebidas em momentos de crise global, mas nem por isso deixa de chamar atenção.

Contudo, um olhar superficial sobre a trajetória do Embi BR neste início de ano traz impressões precipitadas acerca do comportamento dos títulos da dívida externa brasileira.

É fato que a aversão ao risco decorrente das turbulências com o subprime roubou alguma atratividade de papéis como o Global 40, exigindo rendimentos por vezes maiores. Porém, os grandes culpados pelo aumento do risco-país são os títulos do Tesouro dos EUA.

Culpa dos Treasuries
Como o risco-país é uma medida relativa, é preciso observar sempre as duas pontas. O JP Morgan Chase, instituição responsável pelo índice, calcula o prêmio de risco do Embi BR comparando rentabilidades entre os Treasuries norte-americanos e os títulos da dívida externa brasileira.

Do lado doméstico, o exemplo dado pelo Global 40 diz que as oscilações de yield foram relativamente tímidas. O título em pauta iniciou o ano cotado a 133,90% de seu valor de face, e fechou a segunda-feira (18) a 133,95%. Ou seja, praticamente na mesma situação.

Já os títulos do Tesouro norte-americano viram seus rendimentos comprimidos ao longo do ano, graças à seqüência de cortes na taxa básica de juro do país. Como parâmetro, os Treasuries de 10 anos negociavam com yield de 4,021% no fim de 2007, passando a 3,314% na última sessão.

O país-risco
Movimentos como o observado atualmente colocam em questão a definição do Embi BR como "risco-país". A crise do subprime não representa uma ameaça tão grande aos emergentes quanto o é aos desenvolvidos, sobretudo os EUA. Portanto, a variação de pontos deste início de ano não deve ser interpretada estritamente como maior percepção de risco em relação à dívida brasileira.

Na verdade, o Brasil ganha credibilidade com a posição de credor externo; e a desconfiança está muito mais concentrada na economia norte-americana. Isso obriga o Federal Reserve a reduzir o juro, esticando o diferencial entre o yield dos Treasuries e de outros papéis emergentes. Nesse sentido, o risco-país reflete muito mais o risco-EUA que o risco-Brasil.