domingo, 1 de junho de 2008

Brasil já tem duas notas de investment grade, e agora? Veja a opinião de analistas

Por: Camila da Rocha Mendes

Ao contrário do ocorrido
quando a Standard & Poor´s promoveu o Brasil a investment grade, o anúncio da agência de classificação de risco Fitch elevando o País à mesma nota, nesta quinta-feira (29), não foi uma surpresa.

Para os analistas consultados pela InfoMoney a segunda classificação não altera muito os rumos dos mercados, justamente porque já foi amplamente embutida nos preços dos ativos. "A alteração de nota da Fitch está precificada na Bolsa, que nesta sessão inclusive comprovou a máxima: sobe no boato, cai no fato", avalia Adriano Moreno, estrategista da Futura Investimentos.

Volatilidade no curto prazo
Marco Savalle, analista da corretora Coinvalores, concorda com Moreno e completa: "Os investidores que entraram na ocasião do anúncio da S&P devem ter realizado tudo neste pregão". De fato, o Ibovespa fechou em baixa de 1,85% após ter disparado na seqüência da notícia da segunda classificação, duramente penaliz
ado pela derrocada dos papéis de suas duas principais blue chips, Petrobras e Vale.

Savalle ainda lembra que "antes de 30 de abril, dia em que a S&P concedeu o investment grade ao Brasil, o cenário era de incertezas mundiais e a desaceleração nos Estados Unidos assim como a crise das commodities devem persistir e causar volatilidade no mercado interno no curto prazo".

Bolsa a longo prazo
Apesar do pouco efeito imediato, os especialistas concordam que no longo prazo o mercado brasileiro se beneficiará. "Haverá um aumento no ingresso de recursos, o que vai alterar o valuation de muitas empresas", explica Moreno.

Se com o primeiro investment grade concedido, a perspectiva de entrada de recursos externos era grande, agora ela se confirma pois muitos fundos só investem em países avalizados por ao menos duas agências de prestígio.

Small caps
Moreno afirma que "o pote de ouro está nos papéis de segunda e terceira linhas, daquelas empresas que ficaram esquecidas nos últimos meses". Savalle concorda que na comparação com as blue chips, as small caps irão se destacar, pois as empresas de primeira linha já têm acesso fácil à captação no exterior.

Entre os setores que devem ser favorecidos, os especialistas citam os de infra-estrutura e construção civil, que precisam de financiamentos altos e assim saem ganhando com os custos de capital menores.

Renda fixa
Quanto à curva de juros, os especialistas compartilham da mesma opinião, uma vez que para ambos a principal influência é a atual política monetária. "O aumento da Selic para mais de 13% ao ano é realidade", afirma Moreno. Savalle projeta uma taxa de 14,25% até o final de 2008.

Porém, na curva de longo prazo, a tendência é de queda. Esse é mais um fator que beneficia as empresas de construção civil, avaliam.

Câmbio
O segundo investment grade incentiva a entrada de investimentos estrangeiros diretos e indiretos, contudo "ela não acontecerá do dia para noite a ponto de alterar o mercado bruscamente", opina Savalle, analista da Coinvalores. E mais uma vez, Moreno, da Futura Investimentos, concorda: "não vejo o dólar muito abaixo de R$ 1,65, mesmo com o aperto monetário".

Miriam Tavares, diretora da AGK Corretora de Câmbio, divulgou avaliação em que considera a possibilidade de o dólar atingir R$1,60. Contudo, este patamar só será alcançado caso o governo não tome medidas alternativas para ajudar a segurar as pressões inflacionárias.

A economista acredita que o fundo soberano em dólares possa ser aprovado mais rapidamente depois da decisão da Fitch. Além disso, conclui Miriam: "O cenário externo ainda preocupante e a queda no preço das commodities exportadas pelo Brasil também devem contribuir para conter uma valorização mais significativa e brusca do real".