quinta-feira, 5 de junho de 2008

Depois de três quedas fortes, para onde vai o Ibovespa? Será que é hora de 'entrar'?

Por: Roberto Altenhofen Pires Pereira

Depois dos frutos dos investment grades, o mercado acionário brasileiro se depara com um movimento expressivo de ajuste, marcando baixas fortes e consecutivas. Mas até onde vai esta correção?

A resposta que todo investidor gostaria de saber passa por diversas variáveis. A análise do ajuste atual deve começar necessariamente no ritmo de valorizações que a gerou. Grande parte dos ganhos que colocaram o índice na casa de 73.500 pontos no dia 20 de maio pode ser associada à obtenção do grau de investimento.

É consenso que quando se trata de mercados, a máxima "sobe no boato, cai no fato" se faz presente, tendo em vista a antecipação dos investidores na tentativa de ainda se aproveitar dos ganhos que virão no futuro. Somente esta breve frase reforça o caráter de "ajuste" da baixa citada.

Mas junto com esta consideração, vem outra dúvida crucial e que deve necessariamente fazer parte da resposta procurada. Será que estas baixas são mesmo realização, ou o Ibovespa pode estar passando por uma inversão de sua tendência?

Dentro do normal; realização saudável...
Para Fernando Góes, analistas da Win - homebroker da Alpes Corretora -, tanto a análise gráfica quanto a fundamentalista do índice apontam para a mesma direção. Na avaliação do especialista, é "totalmente normal o movimento desta semana, uma vez que depois de se atingir um objetivo, o mercado tende a realizar".

Este "objetivo" citado por Góes faz menção à análise gráfica, que projetava o patamar dos 74 mil pontos como importante ponto de resistência. O que realmente impressiona é a velocidade da correção. Cair mais de 5% em apenas três dias não é toda semana que se vê.

A velocidade das baixas pode ser associada a fatores extra-correção. Junto com o movimento de realização, veio a queda mais agressiva das commodities, a piora no cenário norte-americano nos últimos dias - com a volta dos temores acerca do setor financeiro -, e a já tradicional tensão pré-reuniões dos Bancos Centrais.

E a realização dos lucros tende ser interpretada pelo investidor como movimento saudável dos mercados. Góes ressalta que além de normal, o movimento de realização é necessário, pois abre importantes pontos de "entrada" aos investidores. Depois desta afirmação, já são três as questões que ficam: Se é mesmo ajuste, até onde vai este ajuste e se as baixas são os momentos ideais para "entrar"?

É hora de "entrar"?
Apenas uma frase de Góes tornam mais claras as três dúvidas: "Ainda não vejo inversão da tendência, até 66 mil pontos, é correção normal". No fechamento da quarta-feira (4), o Ibovespa ficou levemente acima de 68.500 pontos, o que indica que ainda dá para esperar um pouco mais caso o investidor queira se aproveitar do movimento "total" de recuperação, segundo as projeções do analista.

Ainda assim, Góes alerta: "as vezes é melhor esperar o mercado se estabilizar comprando um pouco mais caro". Mas como se trata de bolsa, sempre tem um risco atrelado.

Desafios
A visão de Góes exprime com fundamentos e embasamento gráfico uma expectativa sólida para o rumo do índice, mas não verdade absoluta. Relatório da Fator Corretora assinado por Lika Takahashi associa ambiente mais desafiador para o índice. "O ambiente atual continua complexo e preocupante", ressalta.

Mencionado um mix de eventos que entrou em evidência nos últimos dias, como variação das commodities, inflação, impactos ainda presentes da crise principalmente sobre os setores imobiliário e financeiro dos EUA, a analista traça um horizonte de ganhos para o Ibovespa mais estreito do que as projeções de Fernando Góes.

Apesar de trilhar projeção mais amena, o estrategista da Win não descartou os potenciais impactos de uma piora norte-americana. Em sua visão, para baixo de 66 mil pontos o índice só vai se voltarem sinais fortes da crise de crédito.

Entre 75 mil e 80 mil pontos
Para o final do ano, a Fator projeta o Ibovespa na casa de 75 mil pontos, enquanto Góes acredita que o índice pode tocar os 80 mil pontos em até 6 meses.

Mas algo é consenso. A forte performance recente dos papéis atrelados ao segmento de commodities deve inverter o eixo principal de ganhos do índice. "As histórias domésticas e empresas de segunda linha devem se valorizar mais que aquelas relacionadas com commodities", alerta a Fator.

O discurso é acompanhado por Góes, que chama atenção para os papéis dos bancos que, para ele, encontram-se muito bem "armados" para os próximos períodos.