terça-feira, 3 de junho de 2008

Otimismo para mercado de ações ainda predomina, mas obstáculos pedem cautela

Por: Nathália A. Terra Pereira

De forma geral, maio se apresentou como um mês positivo à renda variável internacional. Ainda que a crise do subprime e o setor financeiro preocupem muitos economistas e investidores, a crença de que o "pior já passou" é cada vez maior no mercado, escorada em bons números trazidos por indicadores norte-americanos, embora muitos deles ainda se situem no campo negativo.

Tal panorama propiciou ganhos às principais praças financeiras, embora estas não estivessem isentas da forte volatilidade que segue presente. E nesse contexto, a segunda conquista do investment grade solidificou ainda mais o desempenho do Ibovespa, que com a sua alta de 13,63% no acumulado do ano, lidera a performance das rentabilidades dos mais importantes índices de ações ao redor do globo.

Na visão do Unibanco, o anúncio da concessão do grau de investimento por parte da Fitch deve aumentar o fluxo líquido de recursos estrangeiros à procura de ativos brasileiros, "fato que cria estímulo adicional para a valorização dos papéis". Todavia, o HSBC alerta sobre o otimismo em torno do assunto: "não devem ser esperadas melhoras no curto prazo, e sim uma melhoria gradual das condições caso consideremos todas as demais variáveis constantes".

Obstáculos à frente no plano doméstico
E atribuir constância a variáveis que, a cada dia que passa, geram cada vez mais apreensão entre investidores e economistas, é, definitivamente, um tiro no escuro. "Euforia à parte em relação ao grau de investimento, o Brasil continua deparando-se com o problema da inflação que, até o momento, não dá sinais de que arrefecerá no curto prazo", pondera a equipe do HSBC.

Além de ser um fenômeno de respaldo global, como bem lembram os analistas do Banco Safra, uma vez que a disparada de commodities no mercado internacional é um dos fatores que mais vêm impulsionando as pressões inflacionárias no País, a forte demanda brasileira contribui ainda mais para a perigosa deterioração no ambiente inflacionário interno, o que, para o Unibanco, "traz a perspectiva de um aperto monetário maior e mais longo".

Mas as elevações na taxa Selic não são o único trunfo da equipe econômica do governo Lula para conter a "explosão de demanda no País", nas palavras do HSBC. O banco ressalta que novas regras para o crédito consignado, que reduzem a capacidade média de alavancagem do consumidor, podem ter impacto mais imediato do que o movimento contracionista da política monetária implementado pelo Copom (Comitê de Política Monetária).

Apostas à parte, Ibovespa deve manter alta
Nesse sentido, embora o advento do investment grade tenha impacto positivo direto sobre as instituições financeiras brasileiras, o efeito deve ser mais que compensado pelas perspectivas de queda na concessão de crédito no País, segundo as expectativas do HSBC para este mês de junho, que com isso, também recomenda uma menor exposição a papéis do setor de varejo.

Embora não adentre na temática dos setores, a equipe do Unibanco aposta na valorização das small caps - papéis de menor liquidez - que oferecem ótimo ponto de entrada e múltiplos atrativos. Cabe lembrar que o grau de investimento deve beneficiar as empresas menores do País, uma vez que o custo e dificuldade de captação de recursos no mercado se faz decrescido com o rating.

Sejam quais forem as apostas setoriais, a leitura dos analistas para a performance do Ibovespa segue pautada pelo otimismo, prevendo a continuidade da trajetória de alta do índice, ainda que a volatilidade possa ser maior nos próximos pregões. "Acreditamos que ainda existe espaço para observamos uma valorização do Ibovespa", sintetiza a equipe de análise do Banco Safra.