segunda-feira, 2 de junho de 2008

Rating: mais pelo valor do status que pelo da informação ao mercado

Por: Rodolfo Cirne Amstalden

O momento é para comemorações. Graus de investimento por Standard & Poor's e Fitch ainda no primeiro semestre de 2008. O Brasil agora bom o suficiente para recepcionar recursos externos exigentes. No entanto, a euforia perde o sentido - ao menos em parte - quando os significados, os métodos, os pilares do rating são postos em xeque.

Nada contra o caso brasileiro. Dentro das regras do jogo, as justificativas para o triplo B ao País não devem nada a outros tantos triplos B de emergentes. No entanto, as regras do jogo convencem cada vez menos, à medida que as agências de classificação de risco trocam o caráter informacional pelo mercadológico.

Quem precisa de informação?
Quando John Moody introduziu seu método de rating para títulos de rodovias em 1909, uma premissa importante se formava. As agências como fornecedoras de impressões valiosas para o mercado, em um contexto de difícil acesso à informação. Serviço vital para investidores interessados em um leque crescente de títulos de dívida.

Contudo, nas últimas décadas, inovações em transporte, comunicação e tecnologia deram mais proximidade e transparência aos mercados. Se no início do século XX apenas a Moody's conseguia agregar dados confiáveis sobre determinada empresa ou país, no início do XXI há muitas outras formas de fazê-lo.

Com isso, o papel das agências é relativizado. Interações naturais de mercado parecem quase sempre adiantar-se às classificações de risco. As surpresas dadas por Standard & Poor's, Fitch e Moody's são surpresas formais, não fundamentais. E o trio vem mantendo sua reputação graças a correções ex post em vez de sinais ex ante.

Outra razão de ser
Sem a função informacional, as agências de rating se adaptaram em busca de sobrevivência; adotaram uma postura galgada em normas. O aval por parte de uma instituição presumidamente ilibada - um triplo B, por exemplo - tem grande valor simbólico e financeiro. Satisfaz requisitos de regulamentação dos grandes fundos, licença para alocar recursos.

A nova prática das agências não só deixa em segundo plano o combate à informação assimétrica, como também fomenta assimetrias. Negociar classificações gera claros incentivos para a divulgação de ratings imprecisos. Além disso, desvirtua a demanda dos contratantes, já que a empresa paga pelo status de crédito e não pelo valor informacional da avaliação.

Quem se interessa pela razão entre dívida pública e PIB, trajetória da Selic, controle inflacionário, reformas microeconômicas se interessa menos pelo grau de investimento em si.