quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

"Medidas adotadas para destravar o crédito fizeram efeito", diz economista

Por: Tabata Pitol Peres

Os dados referentes ao crédito no mês de janeiro, divulgados nesta quinta-feira (26) com a Nota de Política Monetária e Operações de Crédito do Banco Central, mostram que as medidas adotadas pelo governo brasileiro no final de 2008 para destravar o crédito tiveram um efeito positivo. A afirmação é do economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges.

"No final do ano passado, o crédito travou e isso fez a economia dar uma freada. Mas, hoje, tivemos bons indicativos de que a situação já está bem melhor. Considerando os números de hoje, eu acredito que seja um sinal de que a recuperação da economia brasileira possa acontecer já no começo deste ano e não ficar para o segundo semestre, como apontam os cenários mais pessimistas".

Spread
Para Borges, a redução do spread bancário - diferença entre os juros cobrados nos empréstimos à pessoa física e aqueles pagos nas aplicações financeiras - que passou de 3,16% em dezembro para 3,06% ao mês, é um dos sinais mais claros do sucesso das medidas adotadas.

"Esse é um dado importante, porque o spread influencia diretamente a tax
a média de juro cobrada nas operações de crédito ao consumidor. Que a redução é um bom sinal, não há dúvidas, mas é preciso perceber que, mesmo com o recuo, os spreads continuam em níveis bastante elevados, bem acima do que estavam antes do agravamento da crise".

Para o economista, isso acontece, em grande parte, por causa da inadimplência. "A inadimplência de pessoa física está crescendo. Hoje mesmo, a Nota mostrou que em janeiro a inadimplência cresceu 0,8 p.p., e no cálculo do spread, está tanto a inadimplência passada, quanto a inadimplência futura, por isso os bancos ainda o mantém bastante elevado".

Juros
Sobre as taxas de juros cobrad
as no cheque especial, que apresentaram recuo de nove pontos-base frente a dezembro de 2008, embora seja as maiores desde julho de 2003, e no crédito consignado, Borges também vê os dados com otimismo.

"Esse recuo [no cheque especial] reflete a queda no custo de captação dos bancos, que caiu bastante. Óbvio que os bancos estão sendo bastante cautelosos em repassar essa queda do custo de captação com alguma cautela, principalmente p
orque a inadimplência está crescendo e a tendência é de alta para os próximos meses". E completa: "mas, mesmo com essa cautela, eu acredito que esse tipo de juros vai continuar caindo nos próximos meses".

Quanto à taxa de juros cobrada pelos ba
ncos nos empréstimos consignados, que permaneceu estável em 2,26% ao mês em janeiro, na comparação com dezembro, o economista conta que não houve queda porque esse tipo de crédito envolve muitos bancos pequenos e médios, que foram os que mais sofreram com a falta de liquidez no ano passado.

"Só o fato de não ter subido, de ter permanecido estável, já é uma vitória, porque muitos bancos médios e pequenos ficaram praticamente sem recursos para emprestar. Conta a favor dessa modalidade de crédito o fato de que a maioria dos empréstimos é feita para aposentados, que recebem recursos do governo, então, a inadimplência é bem menor, o que também serve de argumento para que não haja elevação", explica.

Concessão
Outro destaque da Nota, na opinião de Borges, é o fato de que a média d
iária de concessões de crédito ao consumidor registrou alta de 3%.

"Esses números mostram que a concessão de crédito praticamente voltou aos níveis registrados em setembro de 2008, depois de terem caído muito em dezembro do ano passado. Isso mostra que o crédito voltou a fluir de maneira mais normal no começo deste ano".