Por Cláudio Gradilone (Reuters)
As ações brasileiras têm sido duramente castigadas desde meados do ano passado, quando a crise financeira começou a dar sinais de gravidade. A causa da queda, mais do que a incerteza em relação à solidez do sistema financeiro brasileiro, foi o impacto nos preços internacionais das commodities, cujo ciclo de ajuste ainda vai demorar para acabar. O movimento de alta das ações brasileiras entre 2005 e o início de 2008 foi consequência de uma aceleração global no crescimento econômico. Pela primeira vez na história econômica recente, praticamente todas as regiões econômicas do globo cresceram bastante e ao mesmo tempo. Estados Unidos, Europa, Ásia, Bric e os países emergentes, todos cresceram depressa. O resultado? Inflação mundial.
Todos os preços subiram. Petróleo, metais, ferro, grãos e energia viram suas cotações disparar. A pressão de alta espalhou-se por outros setores da economia. Fretes e armazenagem atingiram os maiores níveis da história.
A bolsa brasileira, com forte participação do setor de commodities e insumos minerais básicos --grãos, minérios e aço, por exemplo-- foi duplamente beneficiada por esse processo.
Hoje, esse movimento se inverteu. As cotações dos fretes são o melhor exemplo. Em julho de 2007, enviar um contêiner do Mar da China para a costa Oeste dos Estados Unidos poderia custar até 1.400 dólares --se houvesse contêineres disponíveis. Hoje, o mesmo envio custaria pouco mais de 10 dólares, e há muitos contêineres parados nos pátios de armazenagem, esperando carga.
Os preços das commodities que interessam ao Brasil também desabaram, com reflexos muito negativos sobre a bolsa. Esse movimento ocorreu por dois motivos. O primeiro é estrutural. A crise de crédito fez o crescimento estancar e fez a demanda por commodities e insumos encolher abruptamente. Esse movimento é de longo prazo e deve levar dois ou três anos para ser revertido.
O segundo é conjuntural. A redução do ritmo da economia levou à desova de estoques, algo especialmente notado nos insumos industriais. Um bom exemplo foi o cobre. Todos os produtores que tinham estoques começaram a desová-los rapidamente para fazer caixa depressa.
Essa necessidade decorreu da crise bancária. Uma conta preliminar mostra que o patrimônio dos bancos encolheu algo como 500 bilhões de dólares desde o início da crise. Como em média os bancos trabalham com uma alavancagem de dez vezes, o desaparecimento desse capital significou o desaparecimento de 5 trilhões de dólares em linhas de crédito ao redor do mundo.
ATÉ QUANDO?
Como resultado, clientes de primeira linha viram seus limites desaparecer, e foram obrigados a torrar o que tinham nos pátios para fazer dinheiro e quitar as dívidas antes da execução bancária. Esse movimento deflagrou uma queda suplementar dos preços, que ajudou a pressionar as cotações das ações brasileiras para baixo nas últimas semanas.
Até quando esse movimento vai durar? Na avaliação dos especialistas, o processo de torrar estoques para fazer caixa deverá ser de curta duração, prolongando-se, no máximo, até o fim do primeiro trimestre. Até lá, resultados de empresas e prognósticos de ações serão os piores possíveis.
A partir do segundo trimestre, quando passar o pânico da necessidade de vender estoques a qualquer preço, será possível sentir a real temperatura do mercado. Os prognósticos são de uma leve melhora na demanda, especialmente no mercado interno brasileiro, que deverá sustentar uma valorização discreta das ações.
As ações brasileiras têm sido duramente castigadas desde meados do ano passado, quando a crise financeira começou a dar sinais de gravidade. A causa da queda, mais do que a incerteza em relação à solidez do sistema financeiro brasileiro, foi o impacto nos preços internacionais das commodities, cujo ciclo de ajuste ainda vai demorar para acabar. O movimento de alta das ações brasileiras entre 2005 e o início de 2008 foi consequência de uma aceleração global no crescimento econômico. Pela primeira vez na história econômica recente, praticamente todas as regiões econômicas do globo cresceram bastante e ao mesmo tempo. Estados Unidos, Europa, Ásia, Bric e os países emergentes, todos cresceram depressa. O resultado? Inflação mundial.
Todos os preços subiram. Petróleo, metais, ferro, grãos e energia viram suas cotações disparar. A pressão de alta espalhou-se por outros setores da economia. Fretes e armazenagem atingiram os maiores níveis da história.
A bolsa brasileira, com forte participação do setor de commodities e insumos minerais básicos --grãos, minérios e aço, por exemplo-- foi duplamente beneficiada por esse processo.
Hoje, esse movimento se inverteu. As cotações dos fretes são o melhor exemplo. Em julho de 2007, enviar um contêiner do Mar da China para a costa Oeste dos Estados Unidos poderia custar até 1.400 dólares --se houvesse contêineres disponíveis. Hoje, o mesmo envio custaria pouco mais de 10 dólares, e há muitos contêineres parados nos pátios de armazenagem, esperando carga.
Os preços das commodities que interessam ao Brasil também desabaram, com reflexos muito negativos sobre a bolsa. Esse movimento ocorreu por dois motivos. O primeiro é estrutural. A crise de crédito fez o crescimento estancar e fez a demanda por commodities e insumos encolher abruptamente. Esse movimento é de longo prazo e deve levar dois ou três anos para ser revertido.
O segundo é conjuntural. A redução do ritmo da economia levou à desova de estoques, algo especialmente notado nos insumos industriais. Um bom exemplo foi o cobre. Todos os produtores que tinham estoques começaram a desová-los rapidamente para fazer caixa depressa.
Essa necessidade decorreu da crise bancária. Uma conta preliminar mostra que o patrimônio dos bancos encolheu algo como 500 bilhões de dólares desde o início da crise. Como em média os bancos trabalham com uma alavancagem de dez vezes, o desaparecimento desse capital significou o desaparecimento de 5 trilhões de dólares em linhas de crédito ao redor do mundo.
ATÉ QUANDO?
Como resultado, clientes de primeira linha viram seus limites desaparecer, e foram obrigados a torrar o que tinham nos pátios para fazer dinheiro e quitar as dívidas antes da execução bancária. Esse movimento deflagrou uma queda suplementar dos preços, que ajudou a pressionar as cotações das ações brasileiras para baixo nas últimas semanas.
Até quando esse movimento vai durar? Na avaliação dos especialistas, o processo de torrar estoques para fazer caixa deverá ser de curta duração, prolongando-se, no máximo, até o fim do primeiro trimestre. Até lá, resultados de empresas e prognósticos de ações serão os piores possíveis.
A partir do segundo trimestre, quando passar o pânico da necessidade de vender estoques a qualquer preço, será possível sentir a real temperatura do mercado. Os prognósticos são de uma leve melhora na demanda, especialmente no mercado interno brasileiro, que deverá sustentar uma valorização discreta das ações.