sexta-feira, 6 de março de 2009

Quanto dura o ajuste das commodities (e o da bolsa)

Por Cláudio Gradilone (Reuters)

As ações brasileiras têm sido duramente castigadas desde meados do ano passado, quando a crise financeira começou a dar sinais de gravidade. A causa da queda, mais do que a incerteza em relação à solidez do sistema financeiro brasileiro, foi o impacto nos preços internacionais das commodities, cujo ciclo de ajuste ainda vai demorar para acabar. O movimento de alta das ações brasileiras entre 2005 e o início de 2008 foi consequência de uma aceleração global no crescimento econômico. Pela primeira vez na história econômica recente, praticamente todas as regiões econômicas do globo cresceram bastante e ao mesmo tempo. Estados Unidos, Europa, Ásia, Bric e os países emergentes, todos cresceram depressa. O resultado? Inflação mundial.

Todos os preços subiram. Petróleo, metais, ferro, grãos e energia viram suas cotações disparar. A pressão de alta espalhou-se por outros setores da economia. Fretes e armazenagem atingiram os maiores níveis da história.

A bolsa brasileira, com forte participação do setor de commodities e insumos minerais básicos --grãos, minérios e aço, por exemplo-- foi duplamente beneficiada por esse processo.

Hoje, esse movimento se inverteu. As cotações dos fretes são o melhor exemplo. Em julho de 2007, enviar um contêiner do Mar da China para a costa Oeste dos Estados Unidos poderia custar até 1.400 dólares --se houvesse contêineres disponíveis. Hoje, o mesmo envio custaria pouco mais de 10 dólares, e há muitos contêineres parados nos pátios de armazenagem, esperando carga.

Os preços das commodities que interessam ao Brasil também desabaram, com reflexos muito negativos sobre a bolsa. Esse movimento ocorreu por dois motivos. O primeiro é estrutural. A crise de crédito fez o crescimento estancar e fez a demanda por commodities e insumos encolher abruptamente. Esse movimento é de longo prazo e deve levar dois ou três anos para ser revertido.

O segundo é conjuntural. A redução do ritmo da economia levou à desova de estoques, algo especialmente notado nos insumos industriais. Um bom exemplo foi o cobre. Todos os produtores que tinham estoques começaram a desová-los rapidamente para fazer caixa depressa.

Essa necessidade decorreu da crise bancária. Uma conta preliminar mostra que o patrimônio dos bancos encolheu algo como 500 bilhões de dólares desde o início da crise. Como em média os bancos trabalham com uma alavancagem de dez vezes, o desaparecimento desse capital significou o desaparecimento de 5 trilhões de dólares em linhas de crédito ao redor do mundo.

ATÉ QUANDO?

Como resultado, clientes de primeira linha viram seus limites desaparecer, e foram obrigados a torrar o que tinham nos pátios para fazer dinheiro e quitar as dívidas antes da execução bancária. Esse movimento deflagrou uma queda suplementar dos preços, que ajudou a pressionar as cotações das ações brasileiras para baixo nas últimas semanas.

Até quando esse movimento vai durar? Na avaliação dos especialistas, o processo de torrar estoques para fazer caixa deverá ser de curta duração, prolongando-se, no máximo, até o fim do primeiro trimestre. Até lá, resultados de empresas e prognósticos de ações serão os piores possíveis.

A partir do segundo trimestre, quando passar o pânico da necessidade de vender estoques a qualquer preço, será possível sentir a real temperatura do mercado. Os prognósticos são de uma leve melhora na demanda, especialmente no mercado interno brasileiro, que deverá sustentar uma valorização discreta das ações.