terça-feira, 3 de março de 2009

Superação da crise dependerá dos governos, diz Fitch

" A festa acabou " . Essa foi a abertura do discurso da diretora de Rating Soberano da agência Fitch Ratings, Shelly Shetty, em São Paulo.Para ela, a retração que assola as principais economias do mundo torna 2009 um ano desafiador para a economia global. Mas mesmo nesse ambiente, segundo ela, o Brasil está mais preparado para enfrentar a crise. " Tudo vai depender de como e com que velocidade as autoridades políticas brasileiras agirão " , completa ela.

Segundo Shelly, estão nas mãos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva as ações necessárias para a contenção dos efeitos da contração econômica global sobre a economia real do país. "Dependerá da competência do governo a forma com a qual a retração global atingirá a economia brasileira".

Ela afirma que, para começar, o Brasil deve "usar sabiamente " e "proteger" os US$ 190 bilhões em reservas externas que possui. Além disso, o governo deve agir prontamente para conter a escassez dos capitais e investimentos externos. "É aqui que o país mais pode ser afetado", afirmou a diretora de rating.

Para Shelly, as pressões macroeconômicas, o aperto do capital internacional e a queda nos preços das commodities são os três grandes problemas que os países da América Latina devem enfrentar neste período de crise. Nesse sentido, os piores choques serão sentidos pelos países menores e mais abertos, ou seja, os mais dependentes da situação econômica externa.

" Mas a América Latina mudou muito sua exposição externa nos últimos anos. Agora, há mais países com fortes reservas internacionais, o que diminui a vulnerabilidade dessas economias " . Ela citou o Chile como exemplo de país mais resistente à crise, devido à diversificação de suas exportações e às políticas de proteção das reservas, que amparam a economia em momentos de escassez de crédito.

Já o Equador e a Argentina são os exemplos de maior exposição à queda da demanda externa e às flutuações cambiais. "Nestes países mais fracos, há um risco preocupante - o da instabilidade política e social, diante dos efeitos de todo este contexto recessivo". A especialista alertou ainda, que a Fitch Ratings já considera que a Argentina tenha entrado em moratória.

O Brasil, por outro lado, encontra-se em uma situação mais positiva, segundo Shelly. Ela acredita que as pressões macroeconômicas estão sendo bem contornadas e a diversificação das exportações, tanto no que diz respeito aos produtos exportados, quanto com relação aos países importadores do Brasil, coloca o país em uma situação "um pouco mais confortável".

Com isso, a diretora de Rating acredita que o Brasil deve crescer no máximo 1,5% em 2009. "A notícia não é boa, mas não é ruim diante do resultado dos demais países em desenvolvimento", afirmou ela.

Shelly Shetty concluiu afirmando que, sob esta perspectiva de crescimento, o Brasil dificilmente obterá uma melhora de seu rating no próximo ano. Para gerenciar a crise da melhor maneira possível e ter a chance de, no curto prazo, retomar o crescimento anteriormente verificado, o governo brasileiro deverá continuar atingindo suas metas macroeconômicas (mesmo assolado pela retração), além de melhorar a estrutura de sua dívida doméstica.

Para tanto, segundo ela, serão necessárias reformas como a diminuição da carga tributária, flexibilização do mercado de trabalho, além de maiores investimentos em infraestrutura. "O ano de 2009 será ruim, mas será ruim para todos. Os governos que melhor agirem contribuirão para seus países resistirem mais."
(Vanessa Dezem | Valor Online)