quinta-feira, 11 de março de 2010

Bolsa vai separar negócios dos autônomos do home broker

Mudança revelará quais corretoras são realmente voltadas para pessoas físicas que investem através da plataforma eletrônica

Ana Paula Ribeiro

A BM&FBovespa quer tornar mais claro o ranking de corretoras que operam no segmento Bovespa e para isso pretende criar uma forma de contabilizar as operações feitas por agentes autônomos. Hoje, existem duas portas de entradas para os negócios feitos com ações. Uma para os investidores institucionais e uma do home broker, que contabiliza também as ordens dos autônomos, o que, segundo parte dos profissionais desse mercado, distorce o ranking de volume de negócios publicado mensalmente.



As operações desses agentes autônomos ficariam registradas em uma terceira porta de entrada. "A Bolsa estuda refazer os critérios de classificação no ranking das corretoras para identificar quais ordens são originadas pelos home brokers (pessoa física) e quais vieram de agentes repassadores de ordens", segundo nota enviada à Agência Estado. Em algumas corretoras, a participação dos autônomos chega a 70%. O home broker ficaria restrito às operações feitas diretamente por pessoas físicas.


Uma boa colocação no ranking do home broker é normalmente utilizada como atrativo pelas corretoras na conquista por clientes. Ao contabilizar volumes expressivos de agentes autônomos, esse ranking passa uma impressão falsa sobre a real penetração dessa plataforma eletrônica entre as pessoas físicas. "Há uma distorção no ranking quando as operações dos autônomos são computadas. A bolsa precisa fiscalizar isso", diz a diretora da Link Trade, Mônica Saccarelli.


Na avaliação do professor da Fundação Instituto de Administração (FIA) Ricardo Almeida, ao contabilizar os dois públicos, o investidor que busca um home broker pode escolher determinada corretora para operar acreditando que ela é a preferida pelas pessoas físicas. No entanto, a instituição pode refletir apenas a movimentação dos autônomos. Quando a contabilização dessas operações for separada, o investidor terá claro quais corretoras trabalham majoritariamente com pessoa física. O professor lembra que, teoricamente, os agentes autônomos buscam as corretoras que possuem bons sistemas de controle e custódia.


Embora exista ressalvas aos critérios de contabilização das operações do home broker, há corretoras que fazem dos agentes autônomos o seu alicerce no modelo de negócios. É o caso da XP Investimentos, uma das maiores corretores independentes do País e que trabalha com agentes vinculados a um dos 130 escritórios associados à corretora. O diretor responsável pelo relacionamento com esses parceiros, Celso Schuler, afirma que os autônomos são responsáveis por cerca de 70% da movimentação do home broker da corretora. "Eles utilizam a plataforma da XP para realizar os negócios na bolsa", explica. A XP em 2009 ficou na sexta colocação no ranking do home broker, que inclui também as movimentações feitas pelas plataformas pertencentes a corretoras ligadas a bancos.


Esses agentes ficam com uma parte da taxa de corretagem cobrada pela XP sobre cada ordem de operação. De acordo com Schuler, o repasse varia de acordo com o volume de operações que esse autônomo agrega à corretora. Por considerar um dado estratégico, o executivo preferiu não revelar qual o porcentual médio da taxa de corretagem que é repassada aos autônomos, mas afirmou que a corretora desenvolve outros serviços que serão ofertados pelos autônomos, como fundos e clubes de investimentos. "Quanto mais serviços oferecemos, melhor. Acreditamos que esse é um diferencial e o agente autônomo acaba operando exclusivamente conosco", diz.


A TOV é outra corretora que prioriza o relacionamento com autônomos, mas não revela a participação dos negócios gerados por esses profissionais no volume total do home broker. "Eles ajudam a trazer novos parceiros para a corretora e a manter os atuais", diz o gerente de canais eletrônicos da corretora, André Jorge. A TOV chegou no ano passado ao terceiro lugar no ranking de Home Broker, atrás apenas da Ágora (pertencente ao Bradesco) e à Interfloat. O objetivo é alcançar a primeira colocação entre as corretoras independentes.


Guerra de preços



Além do ranking do volume de operações, o preço é outro atrativo das corretoras para conquistar um maior número de investidores. Nos últimos anos, o mercado vem reduzindo os valores cobrados pelas ordens e há corretoras que chegam a isentar as taxas para determinados volumes e públicos. A TOV, por exemplo, reduziu o custo por ordem executada para R$ 5. Isso contribuiu para que a corretora pulasse em dois anos da 35ª colocação no ranking de home broker para a terceira posição. No caso de aposentados, o custo por ordem é de R$ 2,50.


Pensando também em públicos específicos, a XP criou um plano para universitário em que não há taxa de corretagem até que o investidor complete R$ 3 mil em volume de operações no mês. Acima desse limite, o custo será de R$ 14,90 por ordem.



No caso da Link, em maio do ano passado a taxa de corretagem foi reduzida de R$ 18,80 para R$ 9,80 o lote padrão e de R$ 8 para R$ 4,40 no fracionário. Segundo Mônica, diretora do home broker Link Trade, essa guerra de preços ocorre não só no Brasil e é uma consequência da maior utilização da internet. Ela entende que há espaço para diferentes estratégias de preço. "O mercado ainda é pequeno e há espaço para muita gente", diz. Para se diferenciar, a Link Trade aposta no suporte aos investidores, com chats, relatórios e fóruns de discussão.



Mas nem todas as corretoras concordam com essa disputa de clientes por meio dos baixos preços. A consultora econômica da Prosper Corretora, Rita Mondim, defende que é preciso cobrar um preço adequado para manter a qualidade dos serviços. "Não comungo com essa prática de preços muito baixos. Há um canibalismo hoje entre as corretoras. Temos que ter o melhor serviço, com investimento em profissionais e tecnologia", defende. A taxa cheia por ordem executada pela Prosper é de R$ 25, mas varia de acordo com o volume operado.