quinta-feira, 11 de março de 2010

Vale espera que seu instituto tecnológico seja um MIT

por Érico Aires

A Vale, líder mundial na produção e exportação de minério de ferro, resolveu investir pesado, também, em pesquisa. A companhia criou, em 2009, o Instituto Tecnológico Vale (ITV), uma entidade voltada ao fomento da pesquisa científica no Brasil. Agora ela está construindo sua sede: um centro de excelência em pesquisa e ensino na Amazônia, onde acadêmicos vão mapear e aprofundar tecnologias ligadas à mineração, realizar estudos geográficos, estatísticos e geopolíticos, além de desenvolver trabalhos relacionados a diversas outras áreas do conhecimento.

A ideia dos executivos da Vale é criar em Belém, no Pará, um centro de referência como o Massachusetts Institute of Technology (MIT), o mais famoso instituto de pesquisa e tecnologia do mundo, de onde saíram nada menos do que 73 ganhadores do Prêmio Nobel. "Claro que para chegar a ser um MIT são necessários anos de investimento e dedicação, mas nós já lançamos a primeira semente e estamos muito comprometidos com este projeto", diz Luiz Mello, diretor do ITV.

A Vale mantém hoje cinco unidades de estudos espalhadas pelo mundo, nas quais emprega cerca de 500 pesquisadores focados no desenvolvimento de novas tecnologias e métodos para os processos produtivos de mineração. Ao total, estima-se que somente em pesquisa e desenvolvimento (P&D) - onde se incluem também os estudos geológicos de prospecção de poços de petróleo – a Vale invista cerca de US$ 1 bilhão, uma cifra maior que o orçamento de alguns países.

Enquanto a sede física do ITV está em construção, a empresa investe em bolsas e convênios de pesquisas paralelos. Em 2009 foram concedidas 84 bolsas de mestrado e doutorado para linhas de estudo ligados ao mercado de mineração num investimento que superou a casa dos R$ 4 milhões. O programa de bolsas é feito em parceria com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia (Sedect) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará (Fapespa). Foram selecionados trabalhos de áreas bem distintas, como ciência da computação, ecologia aquática, genética, neurociência, biologia molecular, engenharia, geologia, botânica, física, entre outras.

Peixes-bois

"Houve preocupação em escolher temas diversos, mesmo que não estivessem necessariamente ligados à área da mineração, desde que apresentassem excelência acadêmica”, informa Mello. “Um dos estudos, por exemplo, analisa as células-troncos dos búfalos, animais importantes para a economia do Pará”, explica Mello.

Uma das beneficiadas pelas bolsas concedidas pela Vale é a pesquisadora Maura Elisabeth Moraes de Sousa que desenvolve um plano de estudos sobre os peixes-bois na Ilha de Marajó. A oceanógrafa, de 24 anos, ressaltou a importância de fomentar o desenvolvimento cientifico nacional: “A Amazônia é uma área física tão extensa e com tantas possibilidades de estudos, que um centro de conhecimento dentro da Amazônia, com incentivos para projetos de pesquisas é fundamental para o desenvolvimento científico do país. A realidade de hoje, é que muitas vezes a produção é feita por pesquisadores estrangeiros que possuem recursos e equipamentos superiores que os nossos.”

Maura fez questão de salientar a importância dos investimentos na criação de uma comunidade cientifica na Região Norte. “Muitos estudantes possuem a intenção de fazer a pós-graduação, porém necessitam de se manter financeiramente, e muitas vezes até mesmo manter seu projeto de pesquisa. As bolsas então auxiliam nesse modo, fazendo que alunos que por dificuldades financeiras acabariam por desistir da pesquisa, tenham condições de continuá-la.”

Em 2010, o ITV, juntamente com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico (CNPq), lançaram, em janeiro, um edital para selecionar e apoiar propostas de pesquisa dentro das linhas definidas pelo estudo intitulado Projeto Setor Mineral - Tendências Tecnológicas Brasil 2015, que elaborou uma agenda de prioridades para investimento no setor mineral.

A iniciativa possui uma verba total de R$ 6,9 milhões, dos quais R$ 4,7 milhões foram patrocinados pela Vale e o restante financiado pelo Fundo Setorial Mineral (CT-Mineral). “Essas ações visam a contribuir para o estabelecimento de uma nova cultura de capacitação tecnológica da empresa, privilegiando ações de longo prazo, estruturantes e compartilhadas”, afirma o diretor do ITV.